O GLOBO * Sábado, 01 de maio
de 2004
Dez anos sem Ayrton Senna
Fotografo que estava a apenas
100m da Tamburello conta os bastidores do acidente
Entrevista
Ângelo Orsi
Orsi: Fotógrafo e amigo de Senna
Na noite anterior à sua
morte, Ayrton Senna estava furioso com sua equipe, conta Ângelo Orsi, 56 anos,
que faz a cobertura das corridas de Fórmula 1 há mais de trinta anos para a
revista italiana “Autosprint”. Ele foi o único fotógrafo a se aproximar de
Senna logo após o acidente. Por uma opção pessoal, ele preferiu que aquelas
fotos do piloto sendo retirado do carro nunca fossem publicadas. Orsi conheceu
Senna antes da carreira do piloto na F1, trabalhou como seu fotógrafo pessoal e
se transformou num grande amigo. No sábado, 30 de abril de 1994, eles estiveram
juntos em companhia de outro amigo inseparável, Galvão Bueno. Em entrevista
realizada em San Lazzaro
di Savena, a cerca de 40 km
de Bolonha. Ângelo Orsi revela como foram os momentos imediatamente posteriores
ao acidente que mudou a história da F1.
Gina de Azevedo Marques
Enviado especial * IMOLA
O GLOBO – Qual foi a sua
impressão no momento do acidente?
ANGELO ORSI – Estava à cem
metros do acidente. Vi a fumaça e um comissário me disse que era o carro do
Ayrton. Normalmente não vou atrás para fotografar acidente, mas no caso do
Ayrton que para mim era um irmão, saí correndo. Cheguei no lugar do acidente 30
segundos depois. Fui um dos primeiros a vê-lo. O carro dele não parecia tão
destruído comparado a outros acidentes que já vi. Os médicos tiravam Ayrton do
carro e circundavam o seu corpo. Eu tirava fotos como um reflexo espontâneo,
até que os médicos alargaram a circunferência. Nesse momento, tive a impressão
de ter visto algo estranho, mas não sabia explicar o quê.
O GLOBO – O senhor foi o
único que fotografou Senna nesse momento?
ORSI – Sim, fui o único e
ainda me dói pensar nisso. Logo após a corrida, voltei para a redação arrasado,
com a morte no coração. Pedi para que revelassem os filmes e deixassem as fotos
em cima da mesa porque não queria que ninguém visse antes de mim. O diretor da
revista me perguntou o que deveríamos fazer com aquelas fotos e respondi: nada.
As fotos nunca foram publicadas.
O GLOBO – Por quê?
ORSI – Porque não era
necessário mostrar Ayrton daquele jeito. Não só porque era amigo meu, mas
porque não acho que devem ser publicadas imagens assim tão cruas.
O GLOBO – Alguém viu estas
fotos?
ORSI – Essas fotos continuam
guardadas no meu criado mudo. Já me ofereceram muito dinheiro pelo material,
mas não vendo por nada deste mundo. Além do diretor da revista, uma semana
depois do acidente, o magistrado que investigava pediu as fotos para verificar
se poderiam ser úteis ao processo. Mostrei o material, ele ficou impressionado
e disse que não servia.
O GLOBO – No entanto, outra
foto sua publicada na edição de 8 de maio de 1994 contribuiu para o processo.
ORSI – Foi aquela foto minha
que deu inicio ao processo Senna. Ela mostrava a direção quebrada ao lado do
carro. Na segunda-feira após o acidente, um amigo me disse que numa imagem
feita do alto aparecia a direção do lado. Verifiquei as minhas fotos e
constatei que numa delas aparecia a barra de direção quebrada. A conclusão era
de que Ayrton foi fazer a curva e a barra se rompeu. Era a única prova que os
investigadores tinham. As outras foram retiradas pela Williams.
O GLOBO – Foi justo fazer um
processo para apurar a morte de Senna?
ORSI – Sim e não. Nas
corridas de Fórmula 1 é sempre possível um acidente porque é um esporte
perigoso. Neste aspecto, é inútil atribuir a culpa ao piloto ou ao carro. Porém
no caso de Senna, ficou clara a vontade de ocultar à realidade. Bastava que a
William explicasse que a barra de direção tinha se rompido, como pode acontecer
com qualquer peça. Eles quiseram culpar o Ayrton.
O GLOBO – Como Senna estava
depois do acidente de Barrichello e da morte de Ratzenberger?
ORSI – Muita gente diz que
ele estava muito preocupado, mas não é verdade. Quando um piloto abaixa a
viseira do capacete, esquece tudo. Ayrton estava triste pela morte de
Ratzenberger, mas, principalmente, ele estava muito irritado com a equipe
porque havia perdido as primeiras duas provas (para Schumacher). Na corrida
anterior, no Japão, ele era o primeiro nas provas de sábado e, à tarde,
estávamos vendo os mecânicos da Williams preparando seu carro nos boxes. Ayrton
comentou comigo que eles estavam mexendo errado porque, naquela posição, ele
perderia pelo menos um segundo no pit stop. Senna foi conversar com os
mecânicos e voltou reclamando: “Ângelo, você tinha razão, é uma equipe de
merda. Sabe o que eles me responderam? ‘Você pensa em ser piloto que, nos
boxes, pensamos nós’”. Dá para imaginar o estado do Senna, um perfeccionista,
depois disso?
O GLOBO – Sobre o que vocês
conversavam na última vez em que estiveram juntos?
ORSI – Estávamos conversando
eu, o Ayrton Senna e o Galvão Bueno. Vivíamos juntos, a ponto de nos apelidarem
de Dumbo, Papagaio e Tucano. Dumbo era o Ayrton por causa das orelhas. Papagaio
era o Galvão por causa da voz forte e eu era o Tucano por causa do meu nariz.
Conversamos sobre a vida e sobre a corrida. Mas no dia seguinte...
Assisti a 99,96% as corridas do Airton na fórmula 1,ssistia treinos, tudo que a televisão mostrava.Os carros da Williams tinha a suspensão ativa e em virtude de todo esse poderio que essa suspensão dava aos carros da equipe, era triste ver o Airton lutando uma tão desigual.Mas em momento algum quis vê-lo correndo pela Williams, era algo que vinha de dentro, eu não gostava, não confiava na Williams. Acho que desde que vi uma rosca mal apertada do pneu do carro do Nigel Mansel ,se soltar em plena corrida ,eu conclui que essa equipe não era tão competente,tão verdadeira e cuidadosa como a MacLaren.
ResponderExcluirEu assisti 99,99%
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