sábado, 5 de outubro de 2013

Fotografo que estava a apenas 100m da Tamburello conta os bastidores do acidente

O GLOBO * Sábado, 01 de maio de 2004

Dez anos sem Ayrton Senna

Fotografo que estava a apenas 100m da Tamburello conta os bastidores do acidente

Entrevista

Ângelo Orsi

Orsi: Fotógrafo e amigo de Senna


Na noite anterior à sua morte, Ayrton Senna estava furioso com sua equipe, conta Ângelo Orsi, 56 anos, que faz a cobertura das corridas de Fórmula 1 há mais de trinta anos para a revista italiana “Autosprint”. Ele foi o único fotógrafo a se aproximar de Senna logo após o acidente. Por uma opção pessoal, ele preferiu que aquelas fotos do piloto sendo retirado do carro nunca fossem publicadas. Orsi conheceu Senna antes da carreira do piloto na F1, trabalhou como seu fotógrafo pessoal e se transformou num grande amigo. No sábado, 30 de abril de 1994, eles estiveram juntos em companhia de outro amigo inseparável, Galvão Bueno. Em entrevista realizada em San Lazzaro di Savena, a cerca de 40 km de Bolonha. Ângelo Orsi revela como foram os momentos imediatamente posteriores ao acidente que mudou a história da F1.

Gina de Azevedo Marques

Enviado especial * IMOLA

O GLOBO – Qual foi a sua impressão no momento do acidente?

ANGELO ORSI – Estava à cem metros do acidente. Vi a fumaça e um comissário me disse que era o carro do Ayrton. Normalmente não vou atrás para fotografar acidente, mas no caso do Ayrton que para mim era um irmão, saí correndo. Cheguei no lugar do acidente 30 segundos depois. Fui um dos primeiros a vê-lo. O carro dele não parecia tão destruído comparado a outros acidentes que já vi. Os médicos tiravam Ayrton do carro e circundavam o seu corpo. Eu tirava fotos como um reflexo espontâneo, até que os médicos alargaram a circunferência. Nesse momento, tive a impressão de ter visto algo estranho, mas não sabia explicar o quê.

O GLOBO – O senhor foi o único que fotografou Senna nesse momento?

ORSI – Sim, fui o único e ainda me dói pensar nisso. Logo após a corrida, voltei para a redação arrasado, com a morte no coração. Pedi para que revelassem os filmes e deixassem as fotos em cima da mesa porque não queria que ninguém visse antes de mim. O diretor da revista me perguntou o que deveríamos fazer com aquelas fotos e respondi: nada. As fotos nunca foram publicadas.

O GLOBO – Por quê?

ORSI – Porque não era necessário mostrar Ayrton daquele jeito. Não só porque era amigo meu, mas porque não acho que devem ser publicadas imagens assim tão cruas.

O GLOBO – Alguém viu estas fotos?
ORSI – Essas fotos continuam guardadas no meu criado mudo. Já me ofereceram muito dinheiro pelo material, mas não vendo por nada deste mundo. Além do diretor da revista, uma semana depois do acidente, o magistrado que investigava pediu as fotos para verificar se poderiam ser úteis ao processo. Mostrei o material, ele ficou impressionado e disse que não servia.

O GLOBO – No entanto, outra foto sua publicada na edição de 8 de maio de 1994 contribuiu para o processo.

ORSI – Foi aquela foto minha que deu inicio ao processo Senna. Ela mostrava a direção quebrada ao lado do carro. Na segunda-feira após o acidente, um amigo me disse que numa imagem feita do alto aparecia a direção do lado. Verifiquei as minhas fotos e constatei que numa delas aparecia a barra de direção quebrada. A conclusão era de que Ayrton foi fazer a curva e a barra se rompeu. Era a única prova que os investigadores tinham. As outras foram retiradas pela Williams.

O GLOBO – Foi justo fazer um processo para apurar a morte de Senna?

ORSI – Sim e não. Nas corridas de Fórmula 1 é sempre possível um acidente porque é um esporte perigoso. Neste aspecto, é inútil atribuir a culpa ao piloto ou ao carro. Porém no caso de Senna, ficou clara a vontade de ocultar à realidade. Bastava que a William explicasse que a barra de direção tinha se rompido, como pode acontecer com qualquer peça. Eles quiseram culpar o Ayrton.

O GLOBO – Como Senna estava depois do acidente de Barrichello e da morte de Ratzenberger?

ORSI – Muita gente diz que ele estava muito preocupado, mas não é verdade. Quando um piloto abaixa a viseira do capacete, esquece tudo. Ayrton estava triste pela morte de Ratzenberger, mas, principalmente, ele estava muito irritado com a equipe porque havia perdido as primeiras duas provas (para Schumacher). Na corrida anterior, no Japão, ele era o primeiro nas provas de sábado e, à tarde, estávamos vendo os mecânicos da Williams preparando seu carro nos boxes. Ayrton comentou comigo que eles estavam mexendo errado porque, naquela posição, ele perderia pelo menos um segundo no pit stop. Senna foi conversar com os mecânicos e voltou reclamando: “Ângelo, você tinha razão, é uma equipe de merda. Sabe o que eles me responderam? ‘Você pensa em ser piloto que, nos boxes, pensamos nós’”. Dá para imaginar o estado do Senna, um perfeccionista, depois disso?

O GLOBO – Sobre o que vocês conversavam na última vez em que estiveram juntos?

ORSI – Estávamos conversando eu, o Ayrton Senna e o Galvão Bueno. Vivíamos juntos, a ponto de nos apelidarem de Dumbo, Papagaio e Tucano. Dumbo era o Ayrton por causa das orelhas. Papagaio era o Galvão por causa da voz forte e eu era o Tucano por causa do meu nariz. Conversamos sobre a vida e sobre a corrida. Mas no dia seguinte... 

2 comentários:

  1. Assisti a 99,96% as corridas do Airton na fórmula 1,ssistia treinos, tudo que a televisão mostrava.Os carros da Williams tinha a suspensão ativa e em virtude de todo esse poderio que essa suspensão dava aos carros da equipe, era triste ver o Airton lutando uma tão desigual.Mas em momento algum quis vê-lo correndo pela Williams, era algo que vinha de dentro, eu não gostava, não confiava na Williams. Acho que desde que vi uma rosca mal apertada do pneu do carro do Nigel Mansel ,se soltar em plena corrida ,eu conclui que essa equipe não era tão competente,tão verdadeira e cuidadosa como a MacLaren.

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