Toda vez que o piloto Ayrton
Senna abria sua carteira de couro preto, dava uma olhada para o texto Pegadas na Areia. Espécie de oração,
narra a história de um homem que, ao rever sua vida através dos passos à
beira-mar, percebeu estar sozinho nos momentos mais difíceis de sua existência.
Deus, então, contou que só apareciam as marcas dos dois pés na areia porque ele
levava o reclamante no colo. A identificação de Senna pela oração surgiu numa
manhã em que ele foi sozinho, de helicóptero, a uma ilha deserta, em Angra dos
Reis (RJ), fazer cooper. Correu até o canto da praia e voltou. Depois do exercício,
levantou voo e ficou sobrevoando a trilha criada por ele mesmo, único sinal de
vida humana no local. Foi, sem dúvida, um momento mágico. Senna, que já rezava
antes de cada corrida, acrescentou essa oração ao ritual. Não pedia a Deus para
vencer, mas sim para ter o melhor desempenho possível nas pistas.
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Quem contou essa passagem da
vida de Ayrton Senna foi Adriane Galisteu, apontada por muitos biógrafos de Senna
como o grande amor do piloto.
Em uma das muitas ocasiões que
Ayrton abriu o coração para Adriane, ele revelou seu “grande segredo”, que era um poema em forma de oração (Pegadas na Areia) que carregava sempre em sua carteira.
A seguir trecho do livro de
Adriane Galisteu, “Caminho das Borboletas”:
Houve uma vez em que ele [Ayrton] me mostrou um poema em forma de
oração, guardado, dobradinho, na sua carteira. Tinha o título Pegadas na Areia.
E tinha uma história. Contou que passava por um momento difícil da vida -
pessoal, emocional, profissional. Estava em Angra e saiu sozinho para correr
numa praia deserta, pilotando o helicóptero. Sozinho, não - a Quinda [a Cadelinha de estimação de Ayrton] o acompanhava. Desceram, ele
calçou o tênis e foi correr. Quinda, discretíssima, ficou sentada na areia,
observando o mar. O silêncio era absoluto - ele só ouvia os seus próprios
passos no piso duro da praia. Foi correndo até o canto da praia e voltou. Viu
as marcas de seus pés na areia - nada mais do que aquilo indicava a
presença de algum tipo de vida naquela imensidão. Foi um momento mágico - de
revelação. Ele refletiu sobre sua solidão. Ela lhe doía no peito, lhe parecia
enorme. Mas, pensou, aquelas suas pegadas na praia eram uma migalha na amplidão
do universo. Ele se sentiu vivo, e minúsculo, diante do mistério da criação.
Levantou vôo no helicóptero e ficou sobrevoando a trilha na areia.
Infinitas são as maneiras de
Deus se revelar aos homens. Para o Béco, bastaram umas marcas de areia,
num dia de sol, na vasta solidão de Angra dos Reis.
PEGADAS NA AREIA
Uma noite eu tive um sonho...
Sonhei que estava na praia
com o Senhor e, através do céu, passavam cenas da minha vida! Para cada cena
que passava, percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia.
Quando a última cena da minha
vida passou diante de nós, olhei para trás, para as pegadas na areia, e notei
que, muitas vezes, no caminho da minha vida, havia apenas um par de pegadas na
areia. Notei, também, que isso aconteceu nos momentos mais difíceis e
angustiantes da minha vida.
Isso aborreceu-me, deveras.
Perguntei, então, ao Senhor.
"Senhor, tu me disseste
que, uma vez que eu resolvi te seguir, tu andarias sempre comigo, todo o
caminho, mas notei que, durante as maiores tribulações do meu viver,
havia, na areia dos caminhos da minha vida, apenas um par de pegadas. Não
compreendo por que, nas horas em que eu mais precisava de ti, tu me deixaste
".
O Senhor me respondeu:
"Meu precioso filho: eu
te amo e jamais te deixaria nas horas de tua prova e do teu sofrimento! Quando
viste na areia apenas um par de pegadas, foi exatamente aí que eu te carreguei
nos braços".
FONTES PESQUISADAS
MARTINS, Lemyr. Corpo X Alma. Revista
Quatro Rodas, São Paulo, Nº 418-A, Ano 35, p. 8 – 15, Editora Abril, Maio 1995.
GALISTEU, Adriane. Caminho das Borboletas. Edição 1. São Paulo: Editora Caras S.A.,
novembro de 1994.
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