terça-feira, 23 de agosto de 2016

Leonardo vs Adriane



Jornalista e escritor britânico Tom Rubython, autor da excelente biografia de Ayrton Senna, The Life of Senna (A Vida de Senna, 2004), traz novas revelações em seu novo livro “Fatal Weekend (Fim de Semana Fatal), lançado no final de 2015. No capítulo seis da obra, por exemplo, ele conta detalhes sobre os conflitos de Ayrton Senna com sua família por causa do amor por Adriane Galisteu. 


Leia também: Por que a Família Senna não Gostava de Adriane Galisteu?

Antes de falecer, Ayrton enfrentava uma grande batalha com sua família para ser feliz ao lado da mulher que ele amava

Leia o capítulo na íntegra em uma tradução livre para o português:


CAPÍTULO 6

Leonardo vs Adriane

O persuasor da família exagera a mão [foi longe demais]

Naturalmente, o fim de semana do Grande Prêmio de San Marino foi uma época muito bem sucedida e alegre para Ayrton Senna. Era a primeira corrida européia da temporada, e as equipes trouxeram seus próprios motorhomes (casa móvel, trailer) para as corridas pela primeira vez (na temporada). Senna gostava de ter seu próprio provador (quarto de vestir) e área de descanso; na pista de Imola tudo foi para sua comodidade, e ele não tem que pensar por um momento sobre sua rotina. Ele adorava o modo de vida italiano, e foi um fim de semana onde ele poderia antecipar e reagir a qualquer coisa que fosse lançada sobre ele. E era uma pista onde ele realmente se divertia correndo.

Seus resultados anteriores refletiam isso. Em suas nove corridas anteriores no circuito, ele tinha sido pole position sete vezes e venceu a corrida três vezes. Ele sabia como a palma da sua mão e, salvo eventos fora do seu controle, ele estava certo de que ele iria ganhar no domingo.

Mas havia uma sombra sobre o fim de semana. Tinha uma luta acontecendo com sua família a respeito de sua namorada, Adriane Galisteu. A família queria que ele desistisse dela porque não achava que ela era boa o suficiente para ele. Tanto é assim que eles haviam enviado seu irmão mais novo, Leonardo, até a Itália para insistir em que ele mudasse e terminasse o relacionamento.

Senna estava irritado e perturbado, ao mesmo tempo, porque tinha planejado levar Adriane a cada corrida européia em 1994. No último minuto, ele tinha sido forçado a cancelar a visita dela a San Marino por causa da presença de Leonardo. Se ela viesse, então havia o perigo de isso vir a público; e Ayrton Senna não lavava a roupa suja da família dele em público.

Senna sabia há algum tempo que um grande conflito estava próximo de acontecer entre ele e sua família. Ele tinha vindo a perceber que, mesmo nas famílias mais chegadas existem ciúmes, e pela primeira vez eles estavam vindo para a superfície no clã Da Silva.

Os Da Silva eram uma família considerável. Eles possuíam milhares de acres de terra que eles cultivavam no Brasil e também administrava uma empresa de fabricação de peças para automóveis. As empresas tinham feito o patriarca da família, Milton da Silva, extremamente rico.

Nota: A empresa de autopeças para carros foi vendida pelo pai de Ayrton anos antes da morte do piloto.

A família era apertada, muito apertada, e, geralmente, tudo era assunto de todos dentro de um círculo de seis pessoas - Senna; Milton, seu pai; Neyde, sua mãe; Viviane, sua irmã; Leonardo, seu irmão; e marido de sua irmã, Flavio Lalli.

A família dele tinha apoiado e possibilitou sua ascensão no automobilismo, mas agora ele sentia que tinha pago suas dívidas e devia ser livre. Mas eles não o deixariam ir tão facilmente, e Adriane foi onde eles escolheram para tomar uma posição. Eles tinham inveja que Adriane foi deslocando-os de sua vida (deslocando-os da vida de Senna), e não havia ninguém com mais inveja do que seu irmão de 26 anos de idade, Leonardo. Mas Adriane não era a única fonte de conflito. Leonardo tinha inveja das influências de amigos da base européia de Senna, um grupo apertado dominado por Antonio Braga (o Braguinha, grande amigo de Senna). Eles o apoiaram na Europa e tinha abraçado Adriane.

Basicamente, Leonardo achava Adriane muito jovem para seu irmão e a diferença de idade, 13 anos, era demais. Ela era muito mais jovem do que sua própria namorada. Ele apenas achava que ela era uma loira burra, e ele a odiava mais e mais a cada dia que passava. Considerando que Leonardo estava sempre ao lado de Senna no passado, agora era Adriane. Ele foi consumido pela inveja.

Nem sempre foi assim (a animosidade da família em relação a Adriane), era muito diferente quando a relação deles começou em Março de 1993. Logo depois, os Da Silva acolheu-a na família. Eles acreditavam que seria como todos os outros relacionamentos de Senna e terminaria depois de alguns meses: um ano, no máximo. Foi, no início de 1994, quando perceberam que não ia acabar rapidamente, e que ela tinha ido morar efetivamente com ele como seu parceiro em tempo integral, que a atitude da família mudou dramaticamente. Eles ficaram consternados que Adriane e Senna estavam agora firmemente estabelecidos como um casal, vivendo juntos no Brasil, em seu apartamento de São Paulo e sua casa de praia em Angra. Como se isso não fosse suficiente, a família tinha realmente ficado aborrecida quando soube que ele planejava passar o verão inteiro (a temporada européia de Fórmula 1, que tinha a duração de 6 meses), juntamente com Adriane em sua base européia no Algarve. Pior ainda, ele não voltaria ao Brasil para vê-los durante todo o verão (temporada européia de F1 - 6 meses), algo que ele nunca tinha deixado de fazer.

Seus parentes de repente se tornaram aversos a Adriane, especialmente no lado masculino da família Da Silva. A principal razão para a aversão parecia ser que ela nasceu de classes mais baixas, e eles a chamavam de "a menina camponesa". 

A família ficou totalmente consternada quando Senna disse-lhes sobre seus planos de viagem para a próxima temporada, e eles redobraram seus esforços para tentar separá-los. A decisão de não voltar para casa por seis meses foi recebido especialmente mal, e eles culparam a influência de Adriane. Mas, na verdade, tinha sido a decisão de Senna, e Adriane simplesmente tinha ido junto com seus desejos. Ele queria um verão (esse período de seis meses da temporada européia de Fórmula 1) ininterrupto com ela no Algarve.

Aos 34 anos, Senna finalmente queria viver sua própria vida, e algumas pessoas próximas a ele acreditavam que um total rompimento com a sua família era inevitável, se eles, por fim, se recusassem a aceitar Adriane em sua vida.


Eles sentiram que estavam perdendo ele. E até certo ponto, eles estavam; embora em determinado momento parecesse que sua campanha poderia funcionar. Em meados de março, sozinho na Europa e sentindo-se maltratado pela família, escrevera uma carta para Adriane terminando o relacionamento, mas ele pensou melhor e nunca a enviou.

Nessa época, Senna resolveu em sua cabeça que Adriane era a coisa mais importante em sua vida, e a família agora ficou em segundo plano. Se necessário, ele acreditava que iria escolher ela a eles, embora ele esperava que não iria chegar a esse ponto.

A temporada européia de 1994 marcou o início de um longo período vivendo juntos. A viagem de seis meses para a Europa era um teste: se não funcionasse, ela voltaria para o Brasil, e se ocorresse tudo bem, eles provavelmente se casariam.

Mais tarde foi revelado que a família estava preocupada que ele iria fazer algo precipitado e se casar com Adriane de repente, e então seria tarde demais para eles para fazer qualquer coisa sobre isso.

A questão tinha sido inflamada desde o início do ano, mas não veio à tona até pouco antes do GP do Brasil, quando a família viu sua chance de atacar. Na terça-feira, 22 de março de 1994, uma nova edição da revista semanal Caras chegou às bancas em São Paulo. Caras no Brasil era o equivalente a revista Hola na Espanha e Hello na Grã-Bretanha. Publicada na semana do Grande Prêmio do Brasil, ela continha a primeira entrevista à imprensa de Adriane desde que ela começou a namorar com Senna, e ela estava na capa.

No Brasil, Adriane havia tornado-se famosa como a namorada de Senna, e ele já tinha a advertido sobre ela ser explorada pela mídia.

Quando lhe foi oferecida a oportunidade de uma sessão de fotos com a Caras, Adriane aceitou. Era para ser uma sessão de trajes de banho na praia de Camburi. Percebendo que poderia ser delicado, ela pediu a permissão de Senna e, quando soube que o fotógrafo seria Fabio Cabral, ele concordou que ela deveria fazê-lo.

Ele mesmo aprovou as fotos que lhe foram mostradas em 21 de março, quando ele e Adriane comemoraram seu aniversário de 34 anos. Em uma reunião de família naquele dia, Adriane mostrou-as a mãe de Senna, Neyde, que as achou bonitas.

Mas tudo isso mudou quando a revista foi publicada, dois dias depois. As fotos foram dispostos de uma maneira provocativa sobre uma reportagem de 12 páginas, e Adriane foi destacada na capa. O editor da Caras ficou encantado e acreditava que ele estava apresentando a bela namorada do herói nacional ao público brasileiro. Ele não estava preparado para a explosão de desaprovação da família de Senna.

Adriane estava muito satisfeita com o artigo, quando ela viu pela primeira vez, mas ela, ao mesmo tempo, ficou insegura se tudo isso tinha sido uma boa ideia. Como ela disse: "Senti um arrepio na espinha. O artigo era bonito. O texto era perfeito. Mas eu ficava me perguntando se eu deveria ter feito isso?"

Adriane teve sua resposta quando Senna voltou para o apartamento de São Paulo naquela noite acenando uma cópia no ar. Em suas próprias palavras, ele "explodiu" e gritou, enquanto jogava a revista contra a parede, "Como você pode deixá-los fazer isso?"

Adriane lembra: "Eu não me movi. Qualquer argumento teria sido em vão. Dezenas de vezes eu o tinha visto assim, mas nunca na condição de vítima. Eu nunca pensei que (um dia) seria dirigido a mim."

Ela lhe disse que era um modelo, e foi isso que ela fez. Ela lhe disse que precisava do trabalho e do dinheiro. Ele revidou: "Você deve entender que você não é a mesma pessoa mais, Adriane. Agora você é minha namorada. Você não tem que mostrar ao mundo que você tem um corpo bonito, esse outro lado Adriane Galisteu."

Naquele momento, ela sabia que estava realmente em apuros, pois ele nunca a tinha chamado Adriane antes. Ele sempre tinha a chamado de 'Dri'.

E ele estava longe de terminar. Ele disse a ela: "Você estava muito sexy. Você não tem que mostrar ao mundo que você tem um corpo bonito. Você deve mostrar seu belo corpo só para mim. "

Foi a sua primeira briga. Ela estava acostumada a seu mau humor e períodos de silêncio, mas sua raiva aberta para ela, a chocou profundamente. Ela realmente achou que a relação deles havia terminado e começou a arrumar suas coisas para a qual ela estava certa seria uma saída rápida de sua vida.

Mas depois de meia hora, Senna se acalmou e admitiu a ela que ele era apenas mais um namorado ciumento. Ele a disse que sua raiva iria passar. E passou, mas ele não era o problema; a família tinha percebido sangue na água e procurou aproveitar ao máximo.

Nota: A expressão inglesa “blood in the water”, em português “sangue na água”, significa o surgimento de predadores em busca de alimento ao ter sangue na água do mar ou rio, ou seja, em uma situação competitiva, propicio para atacar quando uma das partes se encontra vulnerável. 

Adriane foi em uma ofensiva simpática com a família e tinha a tarefa incômoda de pedir desculpas a Milton e Neyde da Silva pelas fotos da Caras. Mas, depois de uma discussão de coração para coração, ela pensou que eles tinham superado isso (passado uma borracha nisso). Ela não poderia ter sido mais errada.

Quanto a Senna, ele tinha esquecido disso em 24 horas, ele se concentrou no Grande Prêmio do Brasil. Na noite de seu aniversário, ele pediu-lhe para desistir de sua carreira como modelo e se tornar sua namorada em tempo integral. Ele concordou em dar-lhe uma quantia de mesada por mês para compensar os ganhos perdidos. Senna estava plenamente consciente de que Adriane era agora uma propriedade quente para a mídia brasileira, e ele queria evitar mais situações como a sessão de fotos da Caras.

Ele também convenceu-a a fazer um curso intensivo de Inglês antes de vir para a Europa. Adriane não poderia estar mais feliz, e ela disse "sim" a tudo imediatamente. No dia seguinte, ela telefonou para o escritório da Elite Models e disse-lhes que não estaria disponível para o resto de março e todo o mês de abril. Ela já lhes havia dito que ela iria se afastar por todo o verão (durante toda a temporada européia de Fórmula 1).

Senna acreditava que a reação de sua família era uma tempestade num copo de água, refletindo o fato de que eles sabiam que ele realmente se importava com Adriane e que algo ainda mais sério (importante) do que a Fórmula Um estava acontecendo em sua vida.

Mas Senna tinha cometido um grave erro por discutir sua insatisfação com sua família. Ele tinha inadvertidamente dada a família a desculpa de que precisavam para ir atrás de Adriane.

Logo após a reportagem da Caras, Leonardo decidiu grampear o telefone no apartamento de Senna para ouvir as chamadas de Adriane e tentar obter alguma sujeira dela para apresentar a seu irmão. Produziu conversas intermináveis ​​entre Adriane e seus amigos, principalmente com ela dizendo-lhes o quanto ela amava Senna e como estava feliz. No entanto, uma série de conversas produziu exatamente o que Leonardo queria. Eram gravações de conversas entre Adriane e César, seu antigo namorado.

Leonardo passou todo o seu tempo antes de partir para a Europa ouvindo as fitas cassete. Ele ficou muito contente quando ouviu estas conversas, e logo que ele chegou a Portugal, ele entregou uma cópia da fita para seu irmão. Senna estava pouco interessado quando Leonardo começou a tocar a primeira fita para ele. Mas assim que ele percebeu o que estava acontecendo, tomou-as fora dele e disse que iria ouvi-las mais tarde.

Senna ficou totalmente exasperado (muito irritado, enfurecido) que Leonardo tinha gravado telefonemas de Adriane, mas recusou-se a discutir com seu irmão. Em vez disso, ele resolveu trocar as fechaduras de seu apartamento, para que só ele, Adriane e sua empregada tivessem as chaves.

Leonardo tinha começado a discutir com Senna, logo que ele chegou do Brasil, e continuou até a corrida de manhã em Imola. Irritantemente para Senna, o argumento sobre Adriane continuou no avião na quinta-feira de manhã. À medida que o fim de semana passava, Leonardo ficou mais rabugento e emocional. Por sua parte, Senna simplesmente não conseguia entender por que Leonardo e sua família estavam tão chateados e o que mudou de repente. 

Especialmente porque ele não poderia estar mais feliz, apesar do episódio da Caras. Para Senna, Adriane era algo genuíno, e ele acreditava que ela pode ser o amor de sua vida. Ela era tudo o que ele gostava em uma mulher, de boa aparência, mas com uma beleza etérea. Ela era loira, seios pequenos e de pernas longas, mas não muito alta. Mas o mais importante, ela não tinha nenhuma atitude (não fazia pressões). Na verdade, sua ingenuidade era refrescante, e sua vida sexual era estimulante e compatível.

Ela também era inteligente de uma maneira não óbvia, com a percepção de coisas que nem sempre eram claras. Ela entendia as coisas que importavam, e ela entendia o que importava para ele. Senna sabia instintivamente que ela era especial e que ele poderia até mesmo acabar casando com ela, e que por isso a missão de Leonardo era um desperdício de tempo. Também significava que suas últimas palavras com seu irmão na manhã de domingo foram ásperas - um contínuo motivo de grande pesar para o resto da vida de Leonardo.

Na manhã de domingo, 1º de maio, Leonardo tinha tentado novamente persuadir (convencer) seu irmão a mudar de idéia e algumas duras palavras foram trocadas entre eles. Mas Senna não seria movido (não mudaria de posição). Ele disse que permaneceria (no Algarve) para o verão, mesmo que isso significasse ver bem menos sua família, especialmente ele. Pela primeira vez (nesse final de semana), em vez de ignorá-lo, ele tinha se soltado e disse a seu irmão que sua vida pessoal era nenhum de seus negócios e ele estava farto de sua interferência.

Na verdade, a chateação aparentemente interminável e contínua estava começando a cansá-lo. Ele era oito anos mais velho e sentiu que seu irmão tinha ultrapassado os limites. Mas ele também se sentiu incapaz de fazer a pausa. Ele desejava que fosse embora e não podia esperar até que Leonardo desse um passo para o vôo, para ir para casa, para o Brasil. Ele fervorosamente esperava que fosse a última vez que o veria naquela temporada.

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*No próximo artigo estarei postando esse capítulo seis do livro "Fatal Weekend" em seu idioma original. E nos seguinte, a continuação dos trechos do livro onde fala de Ayrton e Adriane. E também postarei outros temas contidos na publicação.

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FONTE PESQUISADA

RUBYTHON, Tom. Fatal Weekend. 1º Edição. Great Britain: The Myrtle Press, 12 de novembro de 2015.





2 comentários:

  1. MALDITA FAMILIA,QUE AJUDARAM A MATALO- IRMAO INVEJOSO!!! URUBUS!!!

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  2. Õ FAMILIA BOA, HEIN? O QUE TINHA DE MUITO (DINHEIRO) FALTOU EM ÉTICA, RESPEITO, CONSIDERAÇÃO, CLASSE E MENOS AINDA, UMA CERTA HUMILDADE. COM UM IRMÃO DESSE... NÃO PRECISAVA DE INIMIGOS. GRAMPEAR O TELEFONE DA GALISTEU E DEPOIS IR FAZER FOFOCA PRO IRMÃO É O FIM, ALIÁS FOI O FIM.

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