segunda-feira, 18 de junho de 2018

Adriane Galisteu Recebeu um Tratamento Frio da Família de Ayrton Senna Logo Depois da Morte do Piloto




Trecho extraído do livro “The Life of Senna” escrito pelo jornalista britânico Tom Rubython

CAPÍTULO 32

Funeral em São Paulo

O longo adeus

O circo da Fórmula 1 deixou Ímola no domingo à noite e na segunda de manhã em transe. Para alguns, na semana seguinte haviam dois funerais pela frente. Quando Gerhard Berger chegou à sua casa na Áustria por volta das 21h do domingo, 1º de maio, ele se isolou. Ele estava sozinho em casa e não falou com ninguém, como ele se lembra: “Eu não falei com ninguém por dois dias. Eu olhava o telefone se enchendo de mensagens, mas eu não senti vontade de conversar com ninguém sobre isso, já que nada poderia mudar as coisas. Eu só queria passar algum tempo sozinho. Fiquei de fora das conversas por alguns dias e depois voei para o Brasil para o seu funeral. ”

Alain Prost queria comparecer ao funeral, mas não tinha certeza se deveria. Ele estava desesperadamente triste, mas também satisfeito por ter terminado a rivalidade com Senna antes de morrer. Ele lembrou: “Ayrton e eu tivemos uma história (rixa) tão longa que eu realmente não sabia como o povo brasileiro entenderia: eles ficariam chateados se eu fosse, chateados se eu não fosse, ou o que?” Prost voou de volta para Paris na noite do acidente e Jean-Luc Lagardère, o presidente da Matra, ligou para ele para perguntar sobre o acidente. A esposa de Lagardère era brasileira e Prost perguntou o que ele deveria fazer. Lagardère disse a ele que o povo brasileiro ficaria chateado se ele não fosse.

Julian Jakobi esperou até segunda-feira para voltar a Londres. Ele arrumou uma muda de roupa e depois voou direto para o Brasil para o funeral. Ele foi claro sobre o seu papel nos próximos dias: "Porque eu não era da família, mas eu tinha que manter a família (cuidar, ajudar, guardar a família). Então, a gente continuou, na verdade, com adrenalina e tudo mais ”.

Josef Leberer havia voltado para a Áustria naquela manhã. Ele planejava voltar junto com o caixão de Senna para São Paulo, mas não tinha certeza dos preparativos e esperou em casa por notícias.

Antonio Braga ficou em Bolonha para fazer os arranjos para devolver o corpo de Senna a São Paulo. As autoridades de Bolonha se recusaram a liberar o corpo imediatamente, insistindo em uma autópsia completa. Leonardo da Silva foi colocado no primeiro vôo de volta a São Paulo para estar com sua família. Sua dor era infinita, agravada pelo fato de que seu irmão tinha ido para o túmulo com os dois brigados por causa de Adriane (desentendidos / desentendimentos sobre Adriane).

Adriane Galisteu acordou na manhã de segunda-feira em transe. Ela dormira muito pouco. Quando ela abriu os olhos, não sabia se tinha tido um sonho terrível. Ela esperou e rezou que tivesse sido um sonho. Seu futuro estava em risco. Ela logo percebeu que era o pior tipo de realidade.

Na segunda-feira, o corpo de Senna foi transferido para a funerária de Bolonha, de acordo com a lei italiana. O necrotério estava cercado de fãs. O corpo de Roland Ratzenberger também estava lá, aguardando sua própria autópsia.

A casa de Braga em Sintra, Portugal, também foi cercada por repórteres, ansiosos por entrevistar Adriane. Imagens de fora da casa estavam sendo transmitidas ao Brasil. A mídia do mundo todo estava interessada na história, à medida que a enormidade do que aconteceu se instalou. Com a família imediatamente incomunicável, o foco estava todo na bela modelo loira de 21 anos, que, no que diz respeito à mídia, era efetivamente a viúva de Senna.

Quando Braga ligou a casa de Bolonha, Adriane disse que queria vir e ver o corpo de Senna. Ela disse a ele que sentia uma necessidade desesperada de evidências sólidas, ver com seus próprios olhos que ele estava morto.

Braga aconselhou-a que não o fizesse e achou improvável que ela fosse permitida. Ela aceitou o conselho dele, acreditando que ela seria capaz de vê-lo pela última vez em São Paulo antes do funeral. No Brasil era tradicional que o caixão ficasse aberto, ou pelo menos ter um tampo de vidro. O que ela não sabia era que o amasso na cabeça de Senna e a ferida causada pelo pedaço afiado de suspensão que havia penetrado no capacete eram desfigurantes. Especialistas em cosméticos se desesperaram em tentar fazer o rosto dele suficientemente bom. O caixão continuaria fechado.

Com o tumulto do lado de fora da casa, Braga aconselhou sua esposa Luiza que a melhor opção era organizar uma coletiva de imprensa improvisada na casa para a mídia e então eles iriam embora. Adriane concordou em fazê-la. Mas durante a coletiva de imprensa, Adriane recebeu algumas perguntas macabras, especialmente de jornalistas brasileiros que haviam ouvido falar sobre o rompimento com a família da Silva e estavam inseguros de seu status agora que seu namorado estava morto. Uma jornalista perguntou se ela tinha passagem de ida e volta para São Paulo e quem pagaria pela passagem. Adriane sentiu como se estivesse sendo vitimada por uma mídia hostil à procura de histórias exclusivas sobre o drama da morte de Senna. Ela não estava em condições de suportar isso.

Não era o caso de Miriam Dutra, que trabalhava para a TV Globo e fora enviada com urgência para cobrir a história. Dutra era muito simpática a Adriane, que estava claramente em grande angústia. Depois Adriane perguntou a Dutra se ela poderia ter todas as imagens do acidente que a TV Globo tinha. Ela queria ver tudo o que pudesse sobre o acidente.

A segunda-feira (Senna havia morrido no domingo) veio e foi para a adormecida (entorpecida) Adriane, e ela foi sedada para ajudá-la a dormir naquela noite. Os sedativos tiveram pouco efeito, já que Adriane ainda estava atordoada pelos acontecimentos.

Enquanto isso, Antonio Braga e Galvão Bueno tentavam desesperadamente organizar o retorno do corpo de Senna a São Paulo. Naturalmente a família queria que voltasse ao Brasil o mais rápido possível. Eles achavam que isso seria relativamente simples até que as autoridades italianas dissessem que a autópsia não aconteceria até terça-feira. O corpo seria libertado naquela noite.

Na manhã de terça-feira, Miriam Dutra recolheu a filmagem da corrida em vídeo VHS e no dia seguinte enviou-a por mensageiro a Adriane Galisteu em Sintra. Adriane sentou-se no sofá e ficou assistindo várias vezes, acompanhada pelas filhas de Braga, Maria e Joanna. Elas estavam obcecados em descobrir o motivo de seu acidente.

Adriane também telefonou para Angelo Orsi, o fotógrafo italiano que tirou fotos de Senna depois do acidente. Adriane sentiu uma necessidade desesperada de alguma prova física de que ele estava morto. Orsi conseguiu permissão da família para lhe enviar algumas fotos.

As autópsias de Senna e Ratzenberger ocorreram, como planejado, na manhã de terça-feira. Foi simples. As causas da morte não foram mais complicadas do que em qualquer vítima de acidente de trânsito.

Na hora do almoço, os corpos foram autorizados a serem removidos. Braga e Bueno trabalharam febrilmente nos preparativos para levar o corpo de Senna para casa naquele dia. Eles tinham duas opções: um voo direto com a Força Aérea Italiana ou via Paris com a Varig. Os italianos ficaram muito felizes em levar o caixão de volta para São Paulo.

No final, os pais de Senna decidiriam.

De volta a Sintra, Adriane sentia um vento frio da família Senna em São Paulo. Na segunda e na terça-feira, tentara telefonar para os pais de Senna. Ela foi informada pela empregada da família que ambos estavam sob sedação e não podiam ser perturbados. Depois de um tempo, isso a incomodou, e ela se perguntou o que ela tinha feito, especialmente porque compartilhara sua dor com Neyde no domingo. Na tarde de terça-feira, ela foi até (telefonou) o marido de Viviane, Flavio Lalli, que lhe disse que era uma situação muito difícil na casa da família e que ele estava tendo dificuldade em conversar com sua própria esposa, que se despedaçou ao ponto da falta de palavras. Lalli disse a ela que era impossível alguém ter qualquer tipo de conversa com Milton ou Neyde da Silva. Eles levaram a notícia pior do que qualquer outra pessoa. Os pais permaneceram sedados e virtualmente silenciosos, quase inconscientes do que estava acontecendo ao redor deles.


CHAPTER 32


Funeral in São Paulo
The long goodbye

The Formula One circus left Imola on Sunday evening and Monday morning in a daze. For some, in the coming week there were two funerals ahead. When Gerhard Berger reached his home in Austria at around 9pm on Sunday 1st May, he shut himself away. He was alone in the house and spoke to no one, as he remembered: “I didn’t talk to anyone for two days. I watched the telephone filling up with messages but I didn’t feel like talking to anyone about it as nothing could change things. I just wanted to spend some time alone. I stayed out of conversations for a few days and then flew to Brazil for his funeral.”

Alain Prost wanted to attend the funeral but he was not sure whether he should. He was desperately sad, but also pleased he had ended the feud with Senna before he died. He remembered: “Ayrton and I had such a history for so long that I didn’t really know how the Brazilian people would perceive it: would they be upset if I went, upset if I didn’t go, or what?” Prost flew back to Paris on the evening of the accident and Jean-Luc Lagardère, the chairman of Matra, called him to ask about the accident. Lagardère’s wife was Brazilian and Prost asked him what he should do. Lagardère told him the Brazilian people would be upset if he didn’t go.

Julian Jakobi waited until Monday to fly back to London. He packed a change of clothing and then flew straight out to Brazil for the funeral. He was clear about his role in the coming days: “Because I wasn’t family, but I had to keep the family going. So one kept going, really, on adrenalin and everything else.”

Josef Leberer had driven home to Austria that morning. He planned to return with Senna’s coffin to São Paulo but was unsure of the arrangements, and waited at home for news.

Antonio Braga stayed in Bologna to make the arrangements to return Senna’s body to São Paulo. The Bologna authorities refused to release the body immediately, insisting on a full autopsy. Leonardo da Silva was put on the first flight back to São Paulo to be with his family. His grief was unbounded, made worse by the fact that his brother had gone to his grave with the two on bad terms over Adriane.

Adriane Galisteu woke up on Monday morning in a daze. She had slept very little. When she opened her eyes, she was unsure whether she had had a terrible dream. She hoped and prayed it had been a dream. Her future hung in the balance. She soon realised it was the worst kind of reality.

On Monday Senna’s body had been moved to Bologna’s mortuary in accordance with Italian law. The mortuary was surrounded by fans. The body of Roland Ratzenberger was also there, awaiting its own autopsy.

The Braga house in Sintra, Portugal was also surrounded by reporters, anxious to interview Adriane. Pictures from outside the house were being broadcast back to Brazil. The whole world’s media was interested in the story, as the enormity of what had happened sank in. With the immediate family incommunicado, the focus was all on the beautiful 21-year-old blonde model, who, as far as the media were concerned, was effectively Senna’s widow.

When Braga rang the house from Bologna, Adriane told him she wanted to come and see Senna’s body. She told him she felt a desperate need for firm evidence, seen with her own eyes that he was dead.

Braga advised her against it, and thought it unlikely that she would even be admitted. She took his advice, believing she would be able to see him for the last time in São Paulo before the funeral. In Brazil it was traditional for the coffin to be left open, or at least to have a glass top. What she didn’t know was that the indent to Senna’s head and the wound caused by the sharp piece of suspension that had penetrated the helmet were disfiguring. Cosmetic experts were to despair in trying to make his face good enough. The coffin would stay closed.

With the bedlam outside the house, Braga advised his wife Luiza that the best option was to stage a makeshift press conference in the house for the media and then they would go away. Adriane agreed to do it. But during the press conference Adriane was asked some ghoulish questions, especially from Brazilian journalists who had heard about the rift with the da Silva family and were unsure of her status now her boyfriend was dead. One female journalist asked her if she had a return ticket to São Paulo and who would be paying for her ticket. Adriane felt like she was being victimised by a hostile media looking for exclusive stories on the drama of Senna’s death. She was in no state to withstand that.
Not so Miriam Dutra, who worked for TV Globo and had been dispatched urgently to cover the story. Dutra was very sympathetic to Adriane, who was clearly in great distress. Afterwards Adriane asked Dutra if she could have all the footage of the crash that TV Globo had. She wanted to see everything she could about the accident.

Monday came and went for dazed Adriane, and she was sedated to help her sleep that night. The sedatives had little effect, as Adriane was still stunned from events.

Meanwhile Antonio Braga and Galvao Bueno were desperately trying to organise the return of Senna’s body to São Paulo. Naturally the family wanted it returned to Brazil as soon as possible. They thought this would be relatively simple until the Italian authorities told them the autopsy, would not take place until Tuesday. The body would be released that evening.

On Tuesday morning, Miriam Dutra collected the footage of the race on VHS videotape and the following day sent it by messenger to Adriane Galisteu in Sintra. Adriane sat on the sofa and watched it over and over, accompanied by the Braga children, Luiza and Joanna. They were obsessed with finding the reason for his crash.

Adriane also telephoned Angelo Orsi, the Italian photographer who had taken pictures of Senna after the accident. Adriane felt a desperate need for some physical proof he was dead. Orsi got permission from the family to send her some photographs.

The autopsies of Senna and Ratzenberger both took place, as planned, on Tuesday morning. It was straightforward. The causes of death were no more complicated than in any road accident victim.

By lunchtime the bodies had been authorised for removal. Braga and Bueno worked feverishly on the arrangements to get Senna’s body home that day. They had two options: a direct flight with the Italian Air Force, or via Paris with Varig. The Italians were quite happy to fly the coffin straight back to São Paulo.

In the end Senna’s parents would decide.

Back in Sintra, Adriane was feeling a cool wind from the Senna family in São Paulo. On both Monday and Tuesday she had tried to telephone Senna’s parents. She was told by the family’s maid that both were under sedation and could not be disturbed. After a while this annoyed her, and she wondered what she had done, especially as she had shared her grief with Neyde on the Sunday. On Tuesday afternoon she got through to Viviane’s husband Flavio Lalli, who told her it was a very difficult situation at the family house and that he was having difficulty talking to his own wife, who was shattered to the point of speechlessness. Lalli told her it was impossible for anyone to have any sort of conversation with either Milton or Neyde da Silva. They had taken the news worse than anyone else. The parents remained sedated and virtually silent, almost unaware of what was going on around them.



FONTE PESQUISADA


RUBYTHON, Tom. The Life of Senna. 1º Edição Sofback. London: BusinessF1 Books, 2006.



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