sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Adriane Galisteu Fala Sobre o Livro “Caminho das Borboletas” e Ayrton Senna



A coragem para se arriscar não é de hoje. Adriane já atuou em teatro, cinema e televisão, é apresentadora de rádio e tem um canal no YouTube, mas lembra bem as críticas que recebeu ao longo da vida. No início da carreira, há quase 25 anos, seu nome era somente associado ao de Ayrton Senna. A então modelo foi a última namorada do piloto, que morreu em 1º de maio de 1994.

– Eu demorei muito para recuperar a minha identidade. Durante muitos anos, fui a namorada do Ayrton, a noiva do Ayrton, mas ninguém falava o meu nome. Na minha vida, eu tive que lutar muito para ter as minhas coisas. Lutar para ter minha grana, lutar para ter meu espaço, lutar para ter meu nome de volta, lutar para provar que sou boa.

No ano que vem, o livro O Caminho das Borboletas, sobre a sua relação com o Ayrton Senna, completa 25 anos de lançamento. O quanto e como essa obra marcou a sua vida?

Sabe que esse livro foi um recomeço da minha vida, na verdade. Tinha 19 anos quando conheci o Ayrton. E, quando a tragédia toda aconteceu e fiquei conhecida nacionalmente, usei esse livro como o diário de uma menina. Porque eu era menina, 19 anos, gente. Lembro como se fosse hoje, falei para o Nirlando Beirão (jornalista que escreveu o livro a partir dos depoimentos de Adriane): “Vou contar uma história pra você. Mas quero que você seja fiel a isso. Não precisa florir essa história, não. Porque ela tem mais espinhos do que flores”. Lembro perfeitamente dessa conversa. E foi o meu grande recomeço, minha chance de dar a volta por cima. E, quando comecei a andar com as minhas próprias pernas e ter oportunidade de trabalho, pedi para parar. O livro parou de ser publicado na 12ª edição. Nunca mais foi. Ou seja, quem tem, tem. Realmente fiz essa opção. Mas tenho muito orgulho desse livro. Aliás, tenho muito orgulho dessa minha história. Não acho um problema falar disso. Meu marido não acha um problema falar disso. Eu não carrego isso como um fardo, pelo contrário. Fez parte, faz parte e tenho essa história com muito respeito e muito amor.

E como foi lidar com tudo aquilo na época?

Eu tive muita ajuda, a gente não consegue fazer isso sozinha, ainda mais tendo 19 anos. Tenho uma mãe que é uma guerreira. Ela esteve do meu lado em todos os momentos da minha vida. Agora mais do que nunca, ela me ajuda demais com o Vittorio. E tive muitos amigos importantes também e que me ajudaram nesse recomeço.

E os julgamentos e as críticas?

Nunca me machucou, mas acho que machucou a minha mãe, né? Nenhuma mãe quer ler, ouvir coisas ruins sobre seu filho. Vejo pelo meu filho, se alguém fala alguma coisa dele, eu brigo mesmo. Mas nunca me incomodei comigo. Sempre falei: me ache legal, me ache um horror, mas não me ache mais ou menos. Eu não sou uma mulher mais ou menos. Seria uma idiotice minha achar que todo mundo ia gostar de mim ou se identificar com a minha história. Não, né? Eu nem tento fazer isso.

E essa postura vem da sua criação?

Vem, vem desde o bullying escolar. Lembro que eu chegava em casa e me queixava: “Ai, mãe, falaram do meu nariz”. E ela dizia: “E daí? Vai lá se olhar no espelho, vamos juntas. O que tem o seu nariz? Qual a diferença do seu nariz para o nariz de alguém?”. Entendeu? Minha mãe nunca deixou eu me abalar, desde criança mesmo. Claro que tem críticas que me ajudam, depende de quem está criticando. Se é uma crítica de alguém importante ou que sabe mais do que você, ou que você admira, presto a maior atenção. E ela pode melhorar muito o meu trabalho. Mas a crítica pela crítica, a opinião alheia, ai, não vou ligar, porque não vou conseguir mesmo agradar. Então, beleza, está tudo bem.

Hoje, mais do que nunca, as questões das mulheres estão muito em pauta, sob vários ângulos. Você já passou por situações desafiadoras ou constrangedoras por ser mulher?

Olha, vou te falar que não tenho essa história pra contar. Não sei se foi por onde eu passei, mas nunca tive nenhum tipo de problema. É claro que preconceito eu já senti, principalmente na época da morte do Ayrton. Tinha uma coisa de torcerem o nariz para mim, até as pessoas me conhecerem mesmo. Demorei muito pra recuperar o meu nome, a minha identidade. Durante muitos anos, fui a namorada do Ayrton, a noiva do Ayrton, mas ninguém falava o meu nome. Mas, como falei, a minha mãe nunca deixou a minha bola cair. Então, sempre gostei de mim, sempre procurei fazer as coisas da melhor maneira possível, e nunca atrapalhei a vida de ninguém. Eu posso errar muito – e acho que erro bastante para conseguir acertar, e ainda bem. Mas não ponho os outros no meio, sabe? Não misturo as pessoas, faço o meu. Mas, se eu tivesse passado por algum tipo de assédio ou preconceito a ponto de mexer comigo profundamente, de me tirar do eixo, teria aberto a boca na hora. Porque agora as mulheres estão falando, mas, por muitos anos, nós, mulheres, nos calamos. Por medo. O medo, maldito, aí de novo, fazendo parte do nosso dia a dia. Eu teria aberto a boca, não tenho papas na língua. Faltaram o respeito comigo? Faltaram, sim, mas nunca perdi meu tempo processando. Acho que a melhor resposta para tudo é trabalho. Se você trabalhar e se trabalhar direito, responde a tudo. 


Entrevista completa



FONTE PESQUISADA

FRAGA, Rafaella. Entrevista! Adriane Galisteu fala sobre a volta à TV e diz que não tem medo de mudar: “Não fico na zona de conforto”. Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/gente/entrevista-adriane-galisteu-fala-sobre-a-volta-a-tv-e-diz-que-nao-tem-medo-de-mudar-nao-fico-na-zona-de-conforto/>. Acesso em: 24 de agosto 2018.

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