POR WILLIAM HELAL FILHO
O Globo - blogs.oglobo.globo.com
14/08/2018 06:00
Ayrton Senna corre na pista da USP com o velocista
Geraldo Maranhão, em 1988 | Foto de Fernando Pereira
Mesmo acostumado com a adrenalina dos mais de
300km/h que alcançava com seu McLaren nos grandes prêmios de Fórmula-1, o ídolo
Ayrton Senna não dispensava os treinos correndo a 14km/h na pista de atletismo
da Universidade de São Paulo (USP). No dia 14 de agosto de 1988, ano em que o brasileiro ganharia
seu primeiro título mundial, O GLOBO publicou uma reportagem sobre a
preparação física de Senna para resistir ao estresse e exaustão das provas de
automobilismo. Na época com 28 anos de idade, ele costumava dar 20 voltas no
trajeto da USP, muitas delas ao lado do então velocista Geraldo Maranhão
Junior, que entrava na pista quando o piloto começava a dar sinais de
cansaço.
- Eu era tipo um coelho (jargão do atletismo usado
para definir o atleta que entra no treino para marcar o ritmo dos demais).
Entrava depois de um tempo para dar estímulo e não deixar o rendimento dele
cair muito até o final das voltas - relembra Maranhão, então com 19 anos e fã
declarado de Senna. - Treinamos juntos durante muito tempo, e eu assistia a
todas as provas dele. Era um grande piloto e uma pessoa muito simpática também.
Sempre perguntava como eu estava, se estava precisando de alguma
coisa.
Ayrton Senna corre na pista de atletismo da USP, em
agosto de 1988 | Foto de Fernando Pereira
Aquele era o primeiro ano de Ayrton Senna pilotando
pela McLaren e formando uma dupla endiabrada com o francês e grande rival Alain
Prost, que na época já era bicampeão mundial. A reportagem sobre a preparação
do brasileiro foi publicada dias depois do GP da Hungria, décima prova daquela
temporada de 30 anos atrás. Em primeiro lugar no ranking, Senna tinha vencido
seis etapas, contra quatro de Prost. O francês se recuperou e venceu mais três
provas no segundo semestre, mas o paulista se segurou, vencendo mais dois
circuitos. Senna terminou o ano apenas três pontos na frente e conquistou o
primeiro de seus três títulos mundiais.
O treinamento com os pés no chão foi essencial.
Segundo a reportagem, publicada num domingo, o trabalho com o preparador físico
Nuno Cobra Ribeiro, da USP, baixou a média de batimentos cardíacos de Senna de 190
para 160 batidas por minuto. Com isso, melhoraram os reflexos, e o estresse
durante a prova diminuiu. O exercício também servia para o atleta liberar a
agressividade acumulada nos grandes prêmios.
Senna e Alain Prost, em março de 1988 | Foto de
Carlos Ivan
Maranhão estava com os olhos grudados na TV no
fatídico dia 1 de maio de 1994, quando Senna se chocou na curva Tamburello, no
GP de Ímola, na Itália, e foi declarado morto horas depois.
- Quando vi o que aconteceu, rezei muito para o
socorro chegar logo, meus olhos se encheram d'água. Infelizmente, todos sabem
como o acidente terminou. Foi um baque para o país inteiro - recorda-se o
ex-atleta, que chegou a integrar a seleção brasileira dos 200 metros e dos 400
metros, antes de se aposentar, há cerca de dez anos. - Gosto tanto de carros
que, hoje, sou dono de uma oficina (risos). Ainda vejo Fórmula 1 todo domingo.
Outro dia meu filho de 8 anos me perguntou para quem estava torcendo. Fiz
questão de falar do Senna, mostrei foto dele.
Ayrton Senna comemora seu primeiro título mundial,
em 1988 | Foto de arquivo/Reuters
FILHO,
William helal. 'Grande piloto e pessoa muito simpática', diz ex-atleta que
puxava treinos de Ayrton Senna, 30 anos após 1º título. Disponível em: <https://blogs.oglobo.globo.com/blog-do-acervo/post/grande-piloto-e-pessoa-muito-simpatica-diz-ex-atleta-que-puxava-treinos-de-ayrton-senna-30-anos-apos-1-titulo.html>.
Acesso em: 14 de agosto 2018.
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