segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A Entrevista - Owen O'Mahony: Ayrton: Cliente, lenda, amigo


Ayrton Senna viajava muito. Para facilitá-lo, ele comprou um avião e contratou um piloto. Owen O'Mahony conheceu bem o seu chefe em 4 anos e meio de serviço.




A tragédia não era novidade para o piloto pessoal de Senna. Mas de alguma forma isso foi diferente. 

Por Andrew Longmore | Domingo, 2 de maio de 1999, 00:02
Independent - independent.co.uk

CAPITÃO OWEN O'Mahony assistiu ao grande prêmio na pequena televisão do escritório do aeroporto de Forli, a poucos quilômetros do circuito de Ímola. Do lado de fora, o jato de seu chefe, um British Aerospace 125, estava na pista, abastecido e pronto para decolar. O'Mahony sempre ficou com o avião no dia de uma corrida e este foi um final de semana horrível. Uma fuga rápida seria importante. Naquela manhã, o telefone tocou às 7 da manhã. "Serviço de bagagem", ele respondeu, sabendo exatamente quem era. As malas (bolsas/sacos) foram apanhadas e guardadas. "Boa sorte com a corrida, Ayrton", dissera ele.

Apesar de toda sua larga experiência, O'Mahony não estava preparado para o momento em que o [carro] azul e branco da Williams saíra da pista na curva Tamburello e ricocheteou na parede de concreto. Ele [O’Mahony] é alto e elegante, até um pouco despojado, com profundos olhos azuis e cabelos prateados.

Ele fala em um barítono doce/suave, a voz do meio da Inglaterra, cada palavra perfeitamente enunciada. Seus anos na RAF ensinaram-no a reprimir a emoção. De sua turma de 14 anos na escola de treinamento, apenas três ainda estavam vivos. A tragédia não era novidade. Mas de alguma forma isso foi diferente. Pela primeira vez em sua vida, O'Mahony não sabia o que fazer.

*barítono: Voz masculina que apresenta um timbre entre o baixo e o tenor; voz masculina média que é mais aguda que o baixo e mais grave que o tenor; o cantor que expressa esse timbre.

Os relatórios disseram que Senna foi levado de avião para o hospital em Bolonha, então ele voou para o aeroporto de Bolonha e esperou por mais instruções, de Julian Jakobi, empresário de Senna em Londres, ou Celso Lemos, o novo garoto na estreita comitiva de Senna. No final da tarde, ele viu a figura familiar de Gerhard Berger correndo na direção dele. Gerhard não teve muitas notícias, mas, como um dos amigos mais chegados de Senna, ele instintivamente entendeu como o solitário O'Mahony devia estar se sentindo.

Os pilotos executivos não devem se aproximar de seus clientes e, ao longo de sua carreira, o que ele habilmente chama de "taxista de luxo",  O'Mahony obedeceu às regras. Particularmente, ele nutria um grau de desprezo pela maioria de seus empregadores, mas só uma vez ele quebrou o código de silêncio não escrito. Um nigeriano lhe pedira que levasse uma carga para Luton, vinda de Acra. Ele sabia que algo estava errado no momento em que o pegou e contou às alfândegas de suas suspeitas. Eles descobriram que ele estava importando US $ 4,5 milhões em cannabis [maconha].

*Luton é uma cidade situada no sul da Inglaterra, a 51 km (32 milhas) ao norte de Londres.
* Acra [Em inglês Accra] é a capital e maior cidade do Gana, com uma população estimada em 1 963 264 em 2009. 

Sua relação com Ayrton Senna havia começado como a maioria dos outros (empregadores). Não sabia ao certo quem era Senna e nada nos primeiros três meses de seu emprego no final de 1990 sugeria que um mero acordo de negócios se transformaria em uma amizade profunda e espantosamente abreviada. O'Mahony recebeu instruções do escritório de Senna no Brasil e fez o que lhe foi dito. "Ele sempre foi educado, mas eu não o incomodava", diz O'Mahony. "Então ele se virou para mim um dia e disse: 'Owen, no futuro (daqui para frente), apenas fale comigo'." (não mais com seu pai Milton da Silva ou seu braço direito, Fábio Machado, primo de Ayrton). Senna teve dificuldade com a pronúncia de (do nome) O'Mahony. Deveria ser "O'Marny", mas ele soltaria o "O" e diria "Mahny" com o sotaque na segunda sílaba. Quando ele passou a baixa temporada [folga/férias] no Brasil, falando em português, Senna também não conseguiu pronunciar Owen, então "Mahny" ficou. Mas foi o senso de humor de O'Mahony que mais atraiu a molecagem de Senna.

Você não pode ficar perto de O'Mahony sem compartilhar o olho cintilante e, na época, Senna precisava de alguém com um toque mais leve. "Uma vez", lembra O'Mahony, "Ayrton me pediu para fazer algo e eu esqueci de fazê-lo. Então, da próxima vez que ele me viu, ele disse, 'Mahony, há quanto tempo você trabalha para mim. .. não incluindo amanhã ". Eu ensinei a ele isso (humor inglês) e agora ele jogou de volta para mim.


Ayrton Senna e o comandante Owen. Essa foto os dois fizeram juntos bem pouco antes da morte de Ayrton, pois o inglês havia se dado conta que não tinha nenhuma foto com seu patrão e amigo

"Eu gosto de pensar que fui parcialmente responsável por ele desenvolver um pouco de humor Inglês. Eu era apenas o meio para um fim, ele era a estrela e com todo mundo querendo um pedaço dele, ele não queria um cara extra balindo para ele. Eu tinha idade suficiente para ser seu pai, e talvez por isso tenhamos nos dado tão bem. Muitas das vezes que nós (passamos horas) sentados em viagens e ele me fazia perguntas sobre isso e aquilo. (Ele) Podia entrar no avião de Frank Williams (dono da equipe Williams])sem que ninguém o visse quando dava a Ron Dennis (seu então patrão na McLaren) um tempo difícil [relacionamento dificil] na McLaren. (Owen quis dizer que sabia de suas negociações com outras equipes como a Williams, que costumavam ser sigilosas. Não podia vazar essa informação/encontro tanto para sua equipe, a McLaren, quanto para a imprensa, etc...]

*balindo: reclamando, choramingando, exclamando, vociferando, lastimando-se.

  
"O mais engraçado foi que eu nunca poderia dizer pelo seu jeito em um domingo se ele havia vencido ou perdido. A única pista era que se ele vencesse, ele poderia perguntar como estava o tempo em Faro [onde Senna tinha uma casa] e essa era uma mensagem codificada.Ele queria saber se poderia pousar o avião.Ele não tinha uma licença, mas eu costumava sentar no assento do co-piloto enquanto ele tomava os controles. Às vezes, se ele não teve uma boa corrida, levava tempo para tirar alguma coisa dele ".

Olhando para trás naquele final de semana em Ímola que mudou sua própria vida, O'Mahony apagou muitos dos detalhes e grande parte da dor. Senna não era ele mesmo desde o momento em que o busquei em Faro e houve o estranho incidente da fotografia. Apenas casualmente, O'Mahony havia mencionado a Norio, fotógrafo pessoal de Senna, que depois de quatro anos a serviço dele, ele ainda não tinha uma foto sua com Ayrton. Na sexta-feira à tarde, em meio a todas as outras distrações, Senna fez questão de presentear Owen com uma foto autografada. Agora está no estudo de O'Mahony. Mais tarde, depois que Rubens Barrichello colidiu fortemente (se acidentou gravemente) na prática (treinos), O'Mahony notou a aflição e perguntou em voz baixa se havia algo que ele pudesse fazer. Era a pergunta de um amigo, não do porteiro do salão. O resto é um borrão. A esposa de O'Mahony gravou a corrida e o acidente, mas Owen não quis ver novamente. Nunca mais pretende assistir. Uma vez é o suficiente, ele diz.

Essa é a fotografia assinada que Ayrton Senna deu de presente para Owen antes de falecer

No dia seguinte à morte de Senna, ele levou a família de volta a Paris, estacionando ao lado do Jumbo, que transportaria o corpo de Ayrton. Eles tiraram os assentos na classe executiva para caber o caixão. As portas do seu próprio jato não eram largas o suficiente, pelo que O'Mahony foi secretamente grato. "Não tenho certeza se teria coragem para fazer essa viagem", diz ele. Já foi bastante difícil no mês de julho seguinte, levando a mãe de Senna e sua irmã Viviane de volta a Portugal para empacotar (as coisas da) a casa de Ayrton. O'Mahony voou com uma carga melancólica, incluindo todos os troféus de Senna, de volta para a casa da família.

Como o corpo foi levado de volta para o Brasil, O'Mahony voou para Londres, trocando o jato por um terno e pegando o próximo vôo de uma companhia aérea programado para São Paulo. Na chegada, ele recebeu um adesivo A - para Amigos, um amigo. Mas quando ele viu a mãe de Ayrton, Neyde, ela arrancou e substituiu por um F, para Familiares, o que lhe permitiu um momento final de privacidade com Senna. Ele voou para o funeral em um helicóptero com Alain Prost e Stewarts, Jackie e Paul (helicóptero sedido pela família de Ayrton). Ele nunca tinha visto cinco milhões de pessoas chorando juntas antes. Então ele foi prestar suas condolências ao pai de Ayrton, que tinha seis pequenos pacotes na frente dele. O pai não fala muito inglês, então ele falou através de um intérprete: "Ayrton tinha muitos conhecidos e amigos, mas havia apenas seis pessoas em quem ele confiava no mundo", disse ele. "Você era um deles." Dentro do pacote havia uma pulseira de ouro com o nome dele inscrito nela.

[Essa era uma pulseira de comemoração aos 10 anos da carreira de Ayrton na Fórmula 1, completados justamente naquele ano de 1994. O tricampeão distribuiria a algumas pessoas / amigos naquele ano.]

O'Mahony e Ayrton Senna, no GP de San Marino (Foto: Reprodução SporTV)

O'Mahony está com 60 anos e acaba de começar a trabalhar meio período para a Fundação Senna, que está financiando uma série de projetos educacionais, esportivos e culturais para ajudar as crianças de rua do Brasil. Cinco anos depois, ele acha difícil deixá-lo. Desligando as válvulas emocionais, o mecanismo de proteção do piloto treinado e do inglês urbano não funcionou. Toda vez que ele passa pela pulseira ou vê a foto, a memória se rebela. A verdade também é que ele não quer esquecer. Seu contrato dizia que, se Senna falecesse, seu emprego cessaria "imediatamente". Mas a família Senna sabe que ainda pode chamá-lo à vontade.

"Ayrton me envolveu, ele e um outro homem, que ainda está vivo. Eles não eram como os ratos egoístas que eu estava acostumado a voar por aí. Estou tentando fechar isso (encerrar esse ciclo), é o que estou tentando fazer. ..  Mas é difícil." Ele voou para Berger e Michael Schumacher, mas trabalhar para a Fundação será uma catarse mais apropriada. "Eu não preciso mais voar ao redor do mundo. Meu coração não está nisso. Prefiro ocupar meu tempo com um projeto que atinja alguma coisa, ainda que de uma maneira pequena. Não podemos resolver os problemas no Brasil , mas podemos trazer um pouco de felicidade para algumas crianças pequenas. Ayrton foi incrivelmente compassivo com as crianças." Ele ainda espera que o telefone toque, para ouvir aquela voz familiar chamando: Mahny. Este fim de semana mais do que nunca.


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The Interview - Owen O'Mahony: Ayrton: Client, legend, friend


Tragedy was nothing new to Senna's personal pilot. But somehow this was different. By Andrew Longmore

Andrew Longmore | Sunday 2 May 1999 00:02
Independent - independent.co.uk 


CAPTAIN OWEN O'Mahony watched the grand prix on the little television in the office at Forli airport, a few miles from the circuit at Imola. Outside, his boss's jet, a British Aerospace 125, lay on the tarmac, fuelled and ready for take-off. O'Mahony always stayed with the plane on the day of a race and this had been a horrible weekend. A quick getaway would be important. That morning, the phone had rung at 7am. "Baggage service," he had answered, knowing exactly who it was. The bags were picked up and stowed. "Good luck with the race, Ayrton," he had said.


For all his varied experience, O'Mahony had not been prepared for the moment the blue and white Williams plunged off the track at the Tamburello curve and ricocheted off the concrete wall. He is tall and elegant, even a little rakish, with deep blue eyes and silvery hair.

He speaks in a mellifluous baritone, the voice of middle England, each word perfectly enunciated. His years in the RAF had taught him to suppress emotion. Of his class of 14 at training school, only three were still alive. Tragedy was nothing new. But somehow this was different. For once in his life, O'Mahony didn't know what to do.

The reports said Senna had been flown to the hospital in Bologna, so he flew the plane into Bologna airport and waited for further instructions, from Julian Jakobi, Senna's London-based manager, or Celso Lemos, the new boy in the tightknit Senna entourage. Late in the afternoon, he saw the familiar figure of Gerhard Berger hurrying towards him. Gerhard did not have much more news, but as one of Senna's closest friends he instinctively understood how lonely O'Mahony must have been feeling.

Executive pilots are not supposed to get close to their clients and throughout his career as what he deftly terms "an upmarket taxi- driver" O'Mahony had obeyed the rules. Privately, he harboured a degree of contempt for most of his employers, but only once had he broken the unwritten code of silence. He had been asked by a Nigerian to fly a cargo into Luton from Accra. He knew something was wrong the moment he picked it up and he had told customs of his suspicions. They found he was importing $4.5m worth of cannabis.

His relationship with Ayrton Senna had begun like most others. He wasn't even sure who Senna was and nothing in the first three months of his employment in late 1990 suggested that a mere business deal would turn into a deep and shatteringly abbreviated friendship. O'Mahony got his instructions from Senna's office in Brazil and did what he was told. "He was always polite, but I didn't bother him," O'Mahony says. "Then he turned round to me one day and said, 'Owen, in future, just talk to me'." Senna had difficulty with the pronunciation of O'Mahony. It should be "O'Marny", but he would drop the "O" and say "Mahny" with the accent on the second syllable. When he had spent the off-season in Brazil, speaking Portuguese, Senna couldn't pronounce Owen either, so "Mahny" it was. But it was O'Mahony's sense of humour which appealed most to Senna's boyishness.

You cannot be around O'Mahony long without sharing the twinkling eye and, at the time, Senna needed someone with a lighter touch. "One time," O'Mahony recalls, "Ayrton had asked me to do something and I'd forgotten to do it. So the next time he saw me, he said, 'Mahony, how long have you been working for me ... not including tomorrow'. I'd taught him that and now he'd thrown it back at me.

"I like to think I was partly responsible for him developing a little English humour. I was just the means to an end, he was the star and with everyone wanting a piece of him, he didn't want one extra guy bleating at him all the time. I was old enough to be his father, which was perhaps why we got on so well. Many's the time we would sit on journeys and he would ask me questions about this and that. I can remember parking behind hangars so he could skulk into Frank Williams' plane without anyone seeing him when he was giving Ron Dennis a hard time at McLaren.

"The funny thing was that I could never tell from his manner on a Sunday whether he had won or lost. The only clue was that if he'd won he might ask what the weather was like in Faro [where Senna had a house] and that was a coded message. He wanted to know if he could land the plane. He didn't have a licence, but I would often sit in the co-pilot's seat while he took the controls. Sometimes, if he'd not had a good race, it took time to get something out of him."

Looking back on that Imola weekend which changed his own life, O'Mahony has erased many of the details and much of the pain. Senna was not himself from the moment he had picked him up in Faro and there was the strange incident of the photograph. Just casually, O'Mahony had mentioned to Norio, Senna's personal photographer, that after four years in his service he still did not have a photo of Ayrton and himself. On the Friday afternoon, amid all the other distractions, Senna had made a point of presenting Owen with a signed photo. It now sits in O'Mahony's study. Later, after Rubens Barrichello had crashed heavily in practice O'Mahony had noticed the distress and quietly asked if there was anything he could do. It was the ques-tion of a friend, not the hall porter. The rest is a blur. O'Mahony's wife taped the race and the crash, but Owen has not looked at it again. Never intends to. Once is enough, he says.

The day after Senna's death, he flew the family back to Paris, pulling up alongside the Jumbo which would carry Ayrton's body. They stripped out the seats in business class to fit the coffin. The doors of his own jet were not wide enough, for which O'Mahony was secretly grateful. "I'm not sure I would have had the bottle to do that trip," he says. It was bad enough the following July, taking Senna's mother and his sister Viviane back to Portugal to pack up Ayrton's house. O'Mahony flew a melancholy cargo, including all Senna's trophies, back to the family home.

As the body was flown back to Brazil, O'Mahony flew on to London, swapping the jet for a suit and catching the next scheduled BA flight into Sao Paulo. On arrival, he was given an A sticker - for Amigos, a friend. But when he saw Ayrton's mother, Neyde, she ripped it off and replaced with an F, for Familias, which allowed him one final moment of privacy with Senna. He flew to the funeral in a helicopter with Alain Prost and the Stewarts, Jackie and Paul. He had never seen five million people crying before. Then he went to pay his respects to Ayrton's father, who had six little packages in front of him. The father doesn't speak much English, so he spoke through an interpreter: "Ayrton had many acquaintances and friends, but there were only six people he trusted in the world," he said. "You were one of them." Inside the parcel was a golden bracelet with his name inscribed on it.

O'Mahony is 60 now and has just started to work part-time for the Senna Foundation, which is funding a series of educational, sporting and cultural projects to help the street children of Brazil. Five years on, he finds it hard to let go. Shutting down the emotional valves, the protective mechanism of the trained pilot and the urbane Englishman has not worked. Every time he walks past the bracelet or sees the photo, the memory rebels. The truth too is that he doesn't want to forget. His contract said that if Senna was killed, his employment would cease "forthwith". But the Senna family know they can still call on him at will.

"Ayrton got to me, he and one other man, who's still alive. They weren't like the egotistical prats I'd been used to flying around. I'm trying to close it off, that's what I'm trying to do. But it's hard." He has flown for Berger and Michael Schumacher, but working for the Foundation will be a more appropriate catharsis. "I don't need to go flying round the world anymore. My heart's not in it. I'd prefer to occupy my time with a project that achieves something, albeit in a small way. We can't solve the problems in Brazil, but we can bring some happiness for a few little kids. Ayrton was remarkably compassionate with children." He still expects the phone to ring, to hear that familiar voice calling. Mahny. This weekend more than ever.


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Quem é Owen O’mahony?


Um observador discreto e compulsório da vida de Senna na Europa foi o inglês Owen O'Mahony. Ayrton o conheceu depois de se aborrecer com os pilotos brasileiros aos quais entregara o novo jato executivo que comprara. Na viagem a Nova York, no final de 1989, desacostumados com a intensidade do tráfego aéreo na região, os dois pilotos foram responsabilizados, num relatório das autoridades aeronáuticas americanas, por duas infrações: uma falha nos procedimentos de manutenção em terra e uma mudança não autorizada de altitude. Contrariado e, como sempre, perfeccionista, Ayrton entrou em contato com os fabricantes. A Owen, os amigos da British Aerospace relataram assim o pedido do cliente:

- Quero um piloto britânico que saiba voar na Europa.

Owen foi o indicado. Então com 51 anos, ex-piloto de caça da Royal Air Force, ex-instrutor de pilotos militares e agora comandante de jatos executivos, Owen já prestara serviços ao primeiro-ministro britânico Harold Wilson e a um banqueiro austríaco. O resto da clientela era predominantemente formado por gângsteres e estelionatários de todas as nacionalidades e hemisférios.

Um deles fora o filho do marechal Zukhov, o militar soviético que comandou a tomada de Berlim, em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial. Um cliente que não dispensava seguranças armados com fuzis AK-44, nem mesmo voando a seis mil metros de altitude. Owen voou para o Brasil e, a partir do final de dezembro de 1989, assumiu o comando do jato de Senna por um mês, a título de experiência. O relacionamento se limitou, naquele período, a duas frases por vôo:

- Olá, como vai?

No desembarque, a outra:

- Obrigado, até logo.

Cerca de um mês depois, após levar Ayrton, Viviane, dona Neyde, Leonardo e Fábio Machado a Stuttgart, na Alemanha, Owen foi convidado para um jantar no hotel em que os Sennas estavam hospedados. Era o convite de Ayrton:

-Você quer trabalhar comigo?

- Gostaria, mas temos um problema. Sei o que você quer me pagar. É pouco.

- Fazemos o seguinte: você voa pra mim mais três meses pelo meu preço. Se eu gostar, a partir do quarto mês eu te pago o seu preço.

Três meses depois, em Imola, Senna deu o sinal de que Owen tinha passado no teste:

- Ligue para o Fábio. Ele tem boas notícias para você. Era o contrato. Nos valores pedidos por Owen, Senna e, depois, a família jamais trocariam de piloto até Owen decidir se aposentar, em 2003.


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FONTES PESQUISADAS

LONGMORE, Andrew. The Interview - Owen O'Mahony: Ayrton: Client, legend, friend. Disponível em: <https://www.independent.co.uk/sport/the-interview-owen-omahany-ayrton-client-legend-friend-1091037.html#r3z-addoor>. Acesso em: 09 de setembro 2018.

RODRIGUES, Ernesto. Ayrton, o herói revelado. Edição 1. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2004.

Um comentário:

  1. Falem um pouco sobre esse caso do Ângelo Orsi e as fotos do Ayrton sem o capacete logo após o acidentes! É verdade que logo após a batida ele já estava com o rosto tão modificado ??? E se No rio koike tem alguma foto do Ayrton depois do acidente

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