sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Adriane Galisteu, o último grande amor

Livro “A Paixão de Senna”, do jornalista português Rui Pelejão


Ayrton Senna conheceu o seu último grande amor no Grande Prémio do Brasil de 1993. Adriane Galisteu era uma das hospedeiras contratadas pela Shell para conduzir os convidados VIP pelo paddock e fazer de rececionista na Tenda VIP da marca petrolífera. A jovem manequim paulista, então com apenas 19 anos, esteve para recusar aquele trabalho proposto pela sua agência Elite, mas mil dólares por quatro dias a sorrir e a exibir a sua beleza num provocante maiot vermelho não eram de menosprezar, sobretudo para uma jovem da classe média que vivia sozinha com a mãe e que iniciava então uma carreira de modelo.

Adriane era o protótipo de beleza que encantava Ayrton: loira e com um corpo bem desenhado, sorriso meio ingénuo que cativava e uma boa disposição contagiante que não apagava a sua inteligência emocional, que tanto atraiu Ayrton. Não era o protótipo da loira escultural, do género das que ele levava para a cama para one night stands.

Durante aqueles dias do Grande Prémio, a beleza de Adriane não passou despercebida a Ayrton, apesar do piloto estar ligado no modo «Senna competição», que só se transformava em Ayrton ou no Beco após ver a bandeira de xadrez do Grande Prémio. Trocaram poucas palavras durante as inúmeras vezes que se cruzaram, mas ela lembra-se da áurea e do carisma que o rodeava quando o viu pela primeira vez, entrando na lotada tenda da Shell. Depois da vitória no GP do Brasil e quando se preparava para regressar ao seu bairro classe média em São Paulo, Adriane recebeu de um assessor de Ayrton um convite para a festa de comemoração da vitória, que decorreria essa noite na badalada discoteca Limelight, na zona oeste de São Paulo.

Adriane aceitou o convite, juntamente com inúmeras beldades do paddock que terminaram a noite dançando na pista com Ayrton Senna, o mais solicitado solteiro do Brasil. Mas, ao não dar grande bola para Ayrton, Adriane acabou por conquistar a sua atenção e os dois acabaram dançando e conversando até ao final da festa que terminou com cada um em sua casa. No dia seguinte, inevitavelmente ao telefone, Ayrton convidou-a para um churrasco que ia dar dois dias depois na casa de Angra – e a partir daí os dois ficaram inseparáveis.

Adriane passou a ser a namorada oficial e assumida do piloto, acompanhando-o em vários Grandes Prémios, nas viagens a Angra e nas estadias na casa de Braguinha, em Sintra ou na Quinta do Lago no Algarve. O único local onde Adriane esteve poucas vezes foi na fazenda dos Dois Lagos em Tatuí, Góias, o último reduto da família Senna da Silva, que o piloto havia reconstruído para a transformar num autêntico Neverland – dois lagos unidos por um canal, um kartódromo privado para curtir umas corridas com os amigos e com o seu sobrinho Bruno Senna, que anos mais tarde seguiria os seus passos, chegando a competir na Williams, sem grande sucesso. Foi ali que o seu fotógrafo pessoal, o japonês Norio Noike, fez uma célebre sessão de fotos com o casal para a revista Caras. Assumir esta relação nas páginas de uma revista socialite, ainda por cima no santuário da família, era um sinal de que Ayrton estava determinado a desafiar a família.

Ayrton sentia que ao contrário de Xuxa, e mesmo de Cristine Ferracciu, a sua nova namorada não caíra nas boas graças da família, que, considerando as origens humildes de Galisteu e a crescente afeição de Ayrton por ela, parecia encará-la como uma ameaça interesseira.

Essa terá sido, provavelmente, uma das razões pelas quais, no final daquela desgastante época de 1993, Ayrton Senna não ter voltado para o Brasil, para o seu longo verão brasileiro, que tanto mal-estar gerara nas equipas de Fórmula 1 por onde passara.

Era a primeira vez, desde que iniciara a sua carreira na Europa em 1981, que o piloto brasileiro não passava as suas longas férias no Brasil, preferindo ficar na Europa e na sua casa na Quinta do Lago. Esta inédita decisão fez soar os alarmes na família que vivia em função de Ayrton: «É muita gente em função de mim», desabafou uma vez Ayrton com o seu amigo Galvão Bueno.

Naquele verão, Ayrton passou todo o tempo com o seu novo amor, que muitos, como Braguinha, consideram ser a mulher que fez Senna mais feliz e com quem ele tencionava casar. Os dois, enamorados, costumavam brincar que aquele verão era o ensaio para a lua de mel – conta Adriane no seu livro A minha vida com Ayrton Senna. Adriane preparava-se para ser a sra. Senna, aprendia inglês e melhorava o seu jogging com Nuno Cobra, para poder acompanhar o seu namorado nos seus treinos físicos.

A jovem brasileira acreditava que Ayrton Senna lhe iria propor casamento quando se reencontrassem após o Grande Prémio de São Marino. Ela ficara no Brasil para concluir o seu curso de inglês e tinha bilhete marcado num voo da Varig para Lisboa no dia 27 de abril.

Iria passar aqueles dias com Juracy no Algarve, esperando o regresso de Ayrton, quem sabe com um anel de noivado.




FONTE PESQUISADA

PELEJÃO, Rui. A paixão de Senna. Edição 1. Editora Leya Portugal. S.A., julho de 2014. 

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