O elefante presente de Adriane Galisteu para Ayrton Senna "sentado na cadeira" ao lado de uma planta
Do GP em Monza ficaram coisas para não se esquecer. O
magnífico hotel às margens do lago Como. A torcida inesperada da Monica Selles,
isso aí, a tenista, uma gracinha, ainda traumatizada com a violência que
tinha sofrido na quadra, uma punhalada pelas costas. Ela e a mãe foram dar uma
força ao Ayrton no motor home - encontro de fã com fã, diga-se, já que o
Ayrton, que batia um bolão no tênis, admirava o estilo desabusado dela.
Lembro-me também da nuvem negra que o Ayrton saiu carregando sobre a cabeça, ao
final de uma prova que abandonou. Olhem que eu conhecia o mau humor do moço,
hein?! Mas naquele dia, já noite, ele se superou. Foi do autódromo ao
hotel sem dizer uma única palavra. Subiu direto para o quarto. Requisitou o
room service. Não me perguntou nada - simplesmente escolheu um jantar para nós
dois. Mas o hotel estava em festa e, apesar de tudo, lá de baixo gritavam:
"Senna, Senna".
Ele se derreteu como um sorvete fora da geladeira:
- Mas eu perdi! Como são loucos esses italianos.
- Loucos por você, disse.
Uma história posterior, de Ferrari, aposentadoria, sei lá,
pode ter se consolidado naquele momento contraditório de raiva e paixão.
- Tá difícil de me agüentar? - ele finalmente quebrou o
gelo. - Prometo que assim que sairmos da Itália eu deixo a tromba aqui no
quarto.
Involuntariamente, ele me dava uma bela idéia para um
presente: um elefante de pelúcia. Um dia, eu o encontraria. Ele adorou a
brincadeira. Naquela noite, levantei-me pé ante pé quando ele já dormia, fui ao
banheiro e escrevi no espelho, com batom:
- Bom-dia! Sorria!
Desenhei uma boca sorridente, cheia de dentes. Assim como
ele fazia campanha junto a mim contra a Coca-Cola e o McDonald's, eu também
tinha meus palanques. Convencê-lo de que, rindo, ele ficava mais bonito. De que
cabelo um pouco mais compridinho lhe caía bem. De que de quando em quando valia
a pena comprar uma roupa diferente daquelas que ele recebia no automático, por
mais bonitas que fossem, presentes da Hugo Boss, sua patrocinadora.
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