O que eu não suspeitava é de que havia mais coisas entre o
céu e a terra do que poderia ser solucionado com uma carinha risonha. Ayrton
Senna, o piloto, estava numa encruzilhada profissional. As duas semanas de
intervalo entre o GP da Itália e o GP de Portugal, dia 26 de setembro,
significavam dias de agradável convivência com os amigos de Sintra, do Algarve
e os camaradas brasileiros desgarrados por lá, mas sempre fiéis.
Marquinhos Magalhães Pinto, que cuidava do patrocínio do Banco Nacional, iria
aparecer. Braga prometia também o tenista Cássio Motta. Nuno Cobra
apareceria, para dar um suporte de corpo e alma. A temporada européia chegava
ao final. Mas, ansioso porque decisões importantes estavam sendo ruminadas na
sua cabeça, Ayrton entregava-se a exercícios como o de ficar pendurado três
minutos seguidos, pelos braços, no galho de uma árvore na casa do Algarve. Ele,
aquela fortaleza, gemia e tremia. Apertava o passo nas suas corridas. Mas as
idéias estavam distantes.
Imaginem o clima em casa depois da prova em Portugal -
Ayrton fora, decepção total. O jornalista português Francisco Santos, habitué
das pistas e amigo de longa data do Ayrton, me recordou que, ao chegar ao
autódromo do Estoril, naquele 26 de setembro, Senna trazia a tiracolo sua 007.
Aquela maleta escondia o resultado de duas negociações que iriam abalar a
Fórmula 1. Primeiro, o contrato já acertado do piloto brasileiro com a
Williams. Segundo, e quase como conseqüência, a despedida de Alain Prost - que
saía das pistas com as honras de um tetracampeonato.
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