Só que todos sabem que a infalível dobradinha Williams-Senna
foi atropelada pelo inesperado. No GP do Brasil, por Michael Schumacher e uma
derrapada meio esquisita. No GP de Aida, no Japão, no qual ele tinha tudo para
vencer, por uma situação que faço questão de abrir aspas, para mostrar o grau
de irritação dele quando me ligou:
- Você não sabe, Adriane, o que é fazer uma viagem
longuíssima como esta, trabalhar feito louco em cima do carro, para vir um
debilóide e bater na traseira de seu carro, antes mesmo de completar a primeira
volta. Você não tem idéia de como eu fiquei.
Tinha sim. Eu sabia o que significava para ele perder. Sabia
o que significava perder daquela forma - sem ter sequer a chance de se pôr à
prova. Eu ficara acordada de madrugada, sofrendo com o fuso horário, porque
sabia quanto aquela prova em Aida significava para ele. Minha mãe estava a
meu lado, solidária, no apartamento da Rua Paraguai. Houve a cassetada do Mika
Hakkinen. Desliguei a tevê. Respirei um pouco, liguei de novo. Ayrton estava
tão louco de raiva que nem cumpriu aquele seu ritual de sempre - foi embora de
capacete e tudo na cabeça.
A prova foi dia 17 de abril. Eu tinha um motivo a mais para
torcer por uma vitória dele: queria-a de presente de aniversário. Dia 18, eu
atingiria a minha maioridade. Pela primeira vez, o melhor motivo de minha
alegria estava a milhares de quilômetros de distância. Distraí-me com as
lembranças dos amigos. Recebi telegramas, os meus colegas do curso de inglês
apareceram com um bolo de 21 velinhas e me cantaram o Happy Birthday, mas eu
pedi para sair mais cedo, meio sem graça. Busquei o colo de mamãe, corri ao
shopping para me dar presentes a mim mesma, fui para o apartamento na
expectativa daquele telefonema.
Dez, onze horas, meia-noite - nada. Eu tinha aula no Berlitz
de manhãzinha. Revirava na cama. Esquecer, ele não esqueceu: se não ligou é
porque alguma coisa está errada. Foi o aniversário mais triste de minha vida.
Por algumas horas, quero dizer. Às seis da madrugada, o
telefone da cabeceira tocou e aquela voz conhecida, aí já totalmente Béco, sem
nenhum sinal de ressentimento do Senna, gritou:
- Parabéns! Como foi seu aniversário?
- Como você acha que foi, se a pessoa mais importante da
minha vida não me ligou, não me deu notícia? - rebati.
Ele se desculpou: trabalho, preocupações, reuniões, fuso
horário.
- Não pensa que esqueci. Vou te dar todos os presentes do
mundo.
Quis saber como ele se sentia com os resultados adversos:
- Vinte pontos atrás, não há de ser nada. A próxima é minha.
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