Sinceramente, fiquei honrada de estar em tão ilustre
companhia. Ele acabara de assinar contrato com a Williams, por aqueles dias.
Pensava em disputar duas temporadas na escuderia de seu querido Frank, a de
1994 e a de 1995. Era o melhor carro nas mãos do melhor piloto - ainda me
lembro, como se fosse hoje, de ter lido isso num jornal inglês
insuspeito, o Sunday Times. Era o que todo mundo dizia: Senna-Williams, dupla
invencível. É puro palpite meu, mas desconfio que ele sonhava em repetir, graças
à Williams, o feito de seu ídolo Juan Manuel Fangio - o argentino cinco vezes
campeão naqueles tempos pioneiros do automobilismo, em que o talento do homem
valia mais do que o desempenho da máquina. Repeti-lo, jamais superá-lo. Ayrton
dizia que Fangio é insuperável. Mais duas temporadas lá, na Williams, e o
obcecado Ayrton se daria por satisfeito, como três e dois são cinco.
Daí a inesperada história da Ferrari.
- Encerro minha carreira lá - me garantiu.
Dois anos mais, calculava ele, a escuderia do cavalinho
rampante teria um carro mais competitivo (onde quer que ele esteja, deve ter
vibrado com a primeira vitória da Ferrari, neste ano de 1994, no GP da
Alemanha, ainda mais sabendo que o vencedor foi seu amigão Berger). Mas o
fanático por resultados não queria o vermelho de Maranello para exibir sua
performance técnica.
- Mesmo que o carro da Ferrari ande tanto quanto um
fusquinha, eu quero estar lá na minha última largada, na minha última volta, na
minha última bandeirada - sonhava. - A Ferrari é a mística da Fórmula 1. A griffe, a história, a
tradição, a alma, a paixão.
Além de tudo, ele tinha adoração pela torcida italiana. E
vice-versa. Este é o Ayrton Senna que eu conheço: um homem capaz de fazer de
sua aposentadoria uma gentileza. Já começava a pensar no futuro - e o futuro
não comportava cofres de dinheiro abarrotados na Suíça, e sim o prazer de
pequenas e significativas atitudes. São exemplos assim que fizeram dele uma
figura excepcional - e que especialmente as pessoas que privaram com ele têm o
dever de respeitar, para sempre.
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