sábado, 8 de junho de 2013

CAMINHO DAS BORBOLETAS - Ayrton Senna sonha em encerrar a carreira na Ferrari


Sinceramente, fiquei honrada de estar em tão ilustre companhia. Ele acabara de assinar contrato com a Williams, por aqueles dias. Pensava em disputar duas temporadas na escuderia de seu querido Frank, a de 1994 e a de 1995. Era o melhor carro nas mãos do melhor piloto - ainda me lembro, como se fosse hoje, de ter lido isso num  jornal inglês insuspeito, o Sunday Times. Era o que todo mundo dizia: Senna-Williams, dupla invencível. É puro palpite meu, mas desconfio que ele sonhava em repetir,  graças à Williams, o feito de seu ídolo Juan Manuel Fangio - o argentino cinco vezes campeão naqueles tempos pioneiros do automobilismo, em que o talento do homem valia mais do que o desempenho da máquina. Repeti-lo, jamais superá-lo. Ayrton dizia que Fangio é insuperável. Mais duas temporadas lá, na Williams, e o obcecado Ayrton se daria por satisfeito, como três e dois são cinco.
Daí a inesperada história da Ferrari.
- Encerro minha carreira lá - me garantiu.
Dois anos mais, calculava ele, a escuderia do cavalinho rampante teria um carro mais competitivo (onde quer que ele esteja, deve ter vibrado com a primeira vitória da Ferrari, neste ano de 1994, no GP da Alemanha, ainda mais sabendo que o vencedor foi seu amigão Berger). Mas o fanático por resultados não queria o vermelho de Maranello para exibir sua performance técnica.
- Mesmo que o carro da Ferrari ande tanto quanto um fusquinha, eu quero estar lá na minha última largada, na minha última volta, na minha última bandeirada -  sonhava. - A Ferrari é a mística da Fórmula 1. A griffe, a história, a tradição, a alma, a paixão.
Além de tudo, ele tinha adoração pela torcida italiana. E vice-versa. Este é o Ayrton Senna que eu conheço: um homem capaz de fazer de sua aposentadoria uma gentileza. Já começava a pensar no futuro - e o futuro não comportava cofres de dinheiro abarrotados na Suíça, e sim o prazer de pequenas e significativas atitudes. São exemplos assim que fizeram dele uma figura excepcional - e que especialmente as pessoas que privaram com ele têm o dever de respeitar, para sempre.


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