sábado, 8 de junho de 2013

CAMINHO DAS BORBOLETAS - Ayrton e Adriane conversam sobre antigos amores


A temporada de Fórmula 1, que só se abriria no final de março, já se impregnara na sua cabeça. Por feliz coincidência, a abertura seria no Brasil - com tudo de bom que isso poderia trazer para o astro Senna. Mas, para azar do Béco, pessoa física, que ainda estava de férias, o Brasil significava antecipar a expectativa da  responsabilidade da estréia em casa.
Aquilo que eu poderia chamar de nosso réveillon se estendeu gloriosamente até 17 de janeiro, num tal clima de paixão e confidências mútuas que meu reservado namorado se permitiu a liberdade de comentar alguns de seus antigos romances - tipo do pré-requisito, imaginei eu, para que o passado ficasse definitivamente arquivado como passado e o presente pudesse ser plenamente vivido como presente.
Eu, que me sentia premiada pelos deuses, jamais quis perfurar aquela carcaça de silêncio e não perguntava nada. Ele não era pessoa de falar nem mesmo de sua infância  - tudo o que soube do garoto Ayrton me foi contado por sua mãe. A rigor, uma única vez antes de Angra, ele comentou comigo, naquele seu vocabulário de sim ou não,  uma notícia que os jornais divulgavam (senti que ele pretendia me tranqüilizar): aquela história de uma suposta filha dele com a modelo Marcella Prado, menina a  quem a mãe botou o expressivo nome de Vitória.
- Passamos um réveion juntos - me confirmou. - Mas não há hipótese de a filha ser minha.
Naquelas noites aconchegantes de Angra, em que o mar vinha praticamente beijar os nossos pés e os murmúrios dos bichos se calavam, ele me falou da Xuxa, do tchans que ela chegou a provocar nele, três anos atrás, da sensação de que o mesmo teria acontecido com ela, e o desfecho muito rápido, meio frustrante. Nunca mais se viram - daí a surpresa quando ela passou, de mãos dadas com a Viviane, diante do túmulo do Sena. Mas Béco me falou dela com carinho, e é por isso que eu me atrevo a reproduzir, aqui, sem a riqueza de detalhes que eu conheci, uma história de amor que não me pertence. Se for uma inconfidência indevida, eu me desculpo.
Ele também me perguntara de meus namorados e eu tinha visto fotos de outras namoradas dele na casa da Luiza e do Braga, em Sintra - algumas duradouras, outras quase sempre passageiras. Não contamos vantagem nem fizemos tabu do passado. Nuno brincava comigo, na frente dele: - Esse aí é um grande mulherengo.
Do tipo quietinho: parece que não é, mas é. Eram ocasiões descontraídas, em que um amigo dele de dez anos visivelmente prestava uma homenagem a mim. Como se dissesse "agora ele é só seu". Disse, uma vez, literalmente, ao fim de uma sessão de ginástica no campus da Universidade de São Paulo, debaixo de uma árvore torta aonde ele gostava de nos levar. "Essa menina dá equilíbrio para você", comentou com o Ayrton, para minha surpresa e acanhamento dele. Percebendo a timidez do discípulo,  Nuno brincou:
- Olha só o biotipo dela. Vocês terão filhos esculturais.


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