sábado, 8 de junho de 2013

CAMINHO DAS BORBOLETAS - Ayrton Senna toma as rédeas de sua vida

A frustração da derrota não tirou a animação de um único dos dois mil convidados da festança da Audi, num hangar do Aeroporto de Congonhas. Com direito a Jô Soares de mestre de cerimônias e a muita gente, entre os convidados, que eu não via havia séculos. Antes de me pegar em nossa casa, ele queria saber de minha roupa:
- Linda - eu quis ser vaga.
- Linda como? Quero ver.
Era um vestido preto, de veludo alemão, totalmente fechado. Quando ele me deixou na mesa, para circular e cumprir seus deveres de anfitrião, a Bianca, sobrinha dele, me alertou:
- Dri, tem uma irmã gêmea sua aqui. Naquela mesa, com o mesmo vestido.
Olho de mulher. O meu era, supostamente, um vestido exclusivo. Esperei apagar a luz e fui ver quem era. Birgit, a fiel amiga. Saia-justa total. Mas ela, solidária:
- Fica tranqüila, não vou me levantar daqui um minuto.
Não levantou. Eu levantei, eufórica, ao final do discurso do Ayrton. Ele subiu ao palco com a surpreendente tranqüilidade de um locutor. O meu timidozinho me espantava. O fato é que já fazia algum tempo que eu o sentia curtindo uma coisa nova: ver crescer o seu lado empresário. Ele, que sempre delegou o assunto dinheiro e investimento para o pai, para o primo Fábio, para o Léo, para o Julian, agora começava a tomar gosto. Mais um sinal de maturidade - e de sintonia com um futuro  mais cedo ou mais tarde distante da Fórmula l.
A última viagem antes de Interlagos, por exemplo, tinha sido de business puro: o acerto final com a Audi, uma conversa com a direção da Montblanc, a das canetas, a representação das motos Ducati e de uma excepcional bicicleta de fibra de carbono - Carraro, italiana - que custaria uns três mil dólares, por aí, cada uma. Preparava o lançamento de seu gibi: Senninha. Pelo roteiro, ele tinha uma namorada loira e de olhos verdes. O nome seria revelado no número 2: Dri. Não foi, mas ainda assim fico satisfeita em saber que a revista, sonho dele, continua a circular - com tiragem recorde.
Sem falar de seu empenho, eu diria mergulho pessoal na hora de acertar o contrato com a Williams. Ayrton era senhor de si mesmo. Isso devia incomodar a quem o queria sempre menino tímido e submisso.


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