A frustração da derrota não tirou a animação de um único dos
dois mil convidados da festança da Audi, num hangar do Aeroporto de Congonhas.
Com direito a Jô Soares de mestre de cerimônias e a muita gente, entre os
convidados, que eu não via havia séculos. Antes de me pegar em nossa casa, ele
queria saber de minha roupa:
- Linda - eu quis ser vaga.
- Linda como? Quero ver.
Era um vestido preto, de veludo alemão, totalmente fechado.
Quando ele me deixou na mesa, para circular e cumprir seus deveres de
anfitrião, a Bianca, sobrinha dele, me alertou:
- Dri, tem uma irmã gêmea sua aqui. Naquela mesa, com o
mesmo vestido.
Olho de mulher. O meu era, supostamente, um vestido
exclusivo. Esperei apagar a luz e fui ver quem era. Birgit, a fiel amiga.
Saia-justa total. Mas ela, solidária:
- Fica tranqüila, não vou me levantar daqui um minuto.
Não levantou. Eu levantei, eufórica, ao final do discurso do
Ayrton. Ele subiu ao palco com a surpreendente tranqüilidade de um locutor. O
meu timidozinho me espantava. O fato é que já fazia algum tempo que eu o
sentia curtindo uma coisa nova: ver crescer o seu lado empresário. Ele, que
sempre delegou o assunto dinheiro e investimento para o pai, para o primo
Fábio, para o Léo, para o Julian, agora começava a tomar gosto. Mais um sinal
de maturidade - e de sintonia com um futuro mais cedo ou mais tarde
distante da Fórmula l.
A última viagem antes de Interlagos, por exemplo, tinha sido
de business puro: o acerto final com a Audi, uma conversa com a direção da
Montblanc, a das canetas, a representação das motos Ducati e de uma
excepcional bicicleta de fibra de carbono - Carraro, italiana - que custaria
uns três mil dólares, por aí, cada uma. Preparava o lançamento de seu gibi:
Senninha. Pelo roteiro, ele tinha uma namorada loira e de olhos verdes. O nome
seria revelado no número 2: Dri. Não foi, mas ainda assim fico satisfeita
em saber que a revista, sonho dele, continua a circular - com tiragem recorde.
Sem falar de seu empenho, eu diria mergulho pessoal na hora
de acertar o contrato com a Williams. Ayrton era senhor de si mesmo. Isso
devia incomodar a quem o queria sempre menino tímido e submisso.
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