O preparador físico de Ayrton é uma figuraça, um filósofo do
corpo e da mente, que tem gente que chama de louco, mas que compreendeu que a
vida só pode ser vivida com equilíbrio. Entendo todo o desespero dele diante do
caixão, naquele sombrio dia de maio. Quando voltei a falar com o Nuno, um dos
poucos amigos do Ayrton que continuaram me procurando, ele me contou que passou
dez dias sem comer, cinco dias sem dormir e que só voltou à vida normal porque
a mulher e os filhos cobraram-lhe a responsabilidade com a família. Nuno disse
mais: que a reação dele era a de um escultor, um Donatello, que de repente
visse seu David despedaçado.
- O Ayrton foi minha obra-prima.
Aquele menino raquítico que, em 1984, não agüentava 25
minutos de exercício, mas que precisava de repente se sentar ao volante de um
Toleman e resistir a duas horas de prova, que desmaiou ao final de uma corrida
na África do Sul, que passou mal em Hockenheim, transformou-se num homem rijo,
forte mas elástico, peitoral, bíceps, tríceps flexíveis, o que faz a
diferença desses mastodontes de academia. "O músculo tem de ser
inteligente", resumia Nuno.
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