Nunca houve nada comparável no Brasil. Não há de acontecer,
tão cedo, nada parecido no mundo. O luto nas ruas. Os carros estacionados sobre
parques e gramados. A cidade parada. As pessoas em pranto - garotos,
adolescentes, velhos, todos entregues a um choro sem inibição, todos
improvisando qualquer emblema que expressasse o luto coletivo: bandeiras nos
ombros, cartazes de papelão com fotos do ídolo, faixas pretas em torno da
testa, e por aí seguia a imaginação popular.
Não houve um único assalto, um único furto de automóvel,
móvel, um único assassinato naquela que é uma das metrópoles mais sangrentas do
mundo. A última homenagem ao herói irmanava o bem e o mal, pacificava os
inimigos, impunha a unanimidade da tristeza. Quem dera ele soubesse disso!
Comigo, era primeiro o espanto do reconhecimento, depois a gritaria
desenfreada: "É ela, a namorada, a Adriane". Quando, escoltada por
cinco seguranças, entrei no salão do velório, por onde desfilavam oito mil
pessoas por hora, a minha dor mudou de qualidade. Percebi o tamanho que Ayrton
tinha para toda aquela gente. Sabia que ele era amado, mas desconhecia o quanto.
Ele era meu, mas era também de todos os outros.
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