Patrick Head, traumatizado
com uma diferença que, nos treinos oficiais de Detroit, deixara Senna a
inacreditável 1s08 do velocíssimo Nigel Mansell, o segundo colocado, com sua
Williams-Honda, não resistiu e procurou Ducarouge para levantar a suspeita:
- Vocês estão fora do
regulamento.
Ducarouge já estava cansado
de se explicar e perdeu a paciência:
- Vamos fazer o seguinte:
vocês param o carro de Ayrton logo depois de uma volta de qualificação. Levem
para seu boxe e chequem tudo o que quiserem. Fiquem uma hora com o carro e
façam todas as medidas. Depois, façam o seguinte: não percam mais tempo
procurando irregularidades que vocês não vão encontrar. Se vocês querem
desclassificar alguma coisa, desclassifiquem o piloto por ser rápido demais!
Porra!
Patrick Head obviamente não
aceitou fazer a acareação. Havia outras evidências de que algo extraordinário
realmente acontecia quando Senna saía para a pista em busca da pole position. O
companheiro de equipe, De Angelis, um piloto reconhecidamente veloz, não conseguia
chegar nem perto. John Watson deu um depoimento que entrou para a história da
Fórmula 1 dos anos 80, ao descrever a sensação de ser ultrapassado por Ayrton
durante uma daquelas voltas:
- Era como se ele tivesse
quatro mãos e quatro pernas. Freava, trocava de marcha, girava o volante,
bombeava o acelerador e o carro parecia estar no fio da navalha, à beira do
descontrole.
No domingo, 15 de setembro,
Spa-Francorchamps assistiu a uma continuação do espetáculo do treino, a segunda
vitória da carreira de Senna. E até Nelson Piquet deixou o cimento de lado:
"Ele correu
maravilhosamente. Teria vencido qualquer um, por melhor que fosse o carro.”
Uma semana depois, de acordo
com Christopher Hilton, em seu livro As Time Goes By [Enquanto o Tempo Passa],
Senna foi até a sede da Lotus, em Norfolk, acompanhado de Maurício Gugelmin e
surpreendeu Peter Warr ainda entusiasmado com os feitos na Bélgica:
- Ayrton, agora você tem
nível de um campeão mundial.
- Não, Peter. Eu sempre tive
nível de campeão mundial. É a equipe que tem de chegar a esse nível.
Gugelmin não encontrou nenhum
local onde pudesse ficar, a uma distância segura, do imenso constrangimento que
tomou aquela ala do castelo de Ketteringham Hall.
FONTE
Livro Ayrton, o herói revelado
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