sábado, 27 de agosto de 2016

Marido de Viviane Senna, Flávio Lalli, Trata Adriane Galisteu Com Frieza Após Morte de Ayrton

Quando Ayrton Senna morreu, Adriane Galisteu foi totalmente ignorada pela família dele.

Adriane muito abalada no enterro do companheiro

*******************************


De volta a Sintra, Adriane subitamente foi sentindo uma indiferença da família Senna, em São Paulo. Tanto na segunda quanto na terça-feira, ela tentou telefonar para os pais de Senna. Ela foi informada pela empregada da família que ambos estavam sob sedação e não podiam ser incomodados. Depois de um tempo isso a incomodou (chateou), e ela se perguntou o que tinha feito, especialmente porque ela havia compartilhado sua dor com Neyde (mãe de Ayrton) no domingo.

Menos de uma semana antes, Adriane tinha voado para Portugal cheia de expectativa (esperança) para o futuro. Agora ela voltava ao Brasil com uma grande incerteza. Ela também estava insegura quanto a reação da família. Ela não havia falado com ninguém desde a morte de Senna, exceto Flavio Lalli, o marido de Viviane (Senna, irmã de Ayrton), que a tratou com frieza.

Fonte: Livro Fatal Weekend, escrito pelo jornalista e escritor britânico Tom Bubython, ano 2015.

*******************************

Todos aqueles dias tentei desesperadamente estar junto da Zaza, mãe, do seu Milton, o pai, dos irmãos, Viviane e Léo. Ligava para a família. A empregada da fazenda atendia:

- Dona Neide, como está? - perguntava eu, com certa  formalidade.

- Ela foi medicada, está deitada - resumia a Ednéia.  

- E o senhor Milton?

- Também medicado e dormindo.

Liguei várias vezes, sempre era a mesma coisa. Queria estar próxima, fosse como fosse. Impossível. Até  que um dia perguntei:

- E quem mais está  aí?

- O Cristiano e o  Jacir.

Dois amigos do Ayrton (Jacir era o Gordinho, como o chamavam; Cristiano tinha o apelido de Criminoso, por causa de um acidente em Angra, brincadeira deles). Dois amigos nossos, pensei.

- Deixa eu falar com eles - pedi.  

- Eles não estão aqui agora.

- Pede então para eles me ligarem, no Braga, em  Portugal - falei, com naturalidade.

Nada, nenhum telefonema, silêncio total. Comecei a estranhar: talvez eu seja uma lembrança muito viva do Ayrton, uma imagem fortemente ligada à dele, eles queiram evitar.

Luiza me desencorajava:

- Pára de ligar pra lá, Adriane.

No dia seguinte, ainda tentei o Lalli (Flávio Lalli,  marido da Viviane). Deixei recado. Ele me ligou.

- Como está todo mundo, Lalli? - perguntei,  inocentemente.

- Pô, Adriane, como está todo mundo?! Todo  mundo está um horror!
Ele estava nervoso, agitado, mas eu insisti:

- Fala qualquer coisa. Da Zaza, do senhor Milton, da Viviane... Qualquer coisa...

Ele me contou que a situação estava difícil, mesmo para ele, impossível estabelecer qualquer conversa com os pais.

Totalmente por impulso, eu me decidi:

- Já sei. Vou para aí já, ficar com eles.

Lalli foi reticente:

- A gente não sabe ainda o que fazer. Talvez leve a  Zaza e o senhor Milton de volta para a fazenda, talvez  não...

No dia seguinte, quarta-feira, passei a ligar para a fazenda de Tatuí. Estavam todos lá. E a mesma história: medicados, sedados, ninguém podia atender. Braga, sim, lá de Bolonha, dava notícias de cinco em cinco minutos. O corpo só seria liberado após a autópsia. Norma italiana. Parece que a Viviane, em nome da família, tinha tentado evitar, com o argumento "Já mataram uma vez, querem matar duas". Paciência. Percebendo que eu estava ansiosa e meio xarope, Luiza soube que a Juraci estava voltando para o Brasil, aquela noite, e me perguntou se eu não queria acompanhá-la:

- De jeito nenhum, eu vim com ele, vou com ele. E com vocês.

Minha sorte foi que o Braga apareceu, finalmente. Sorte minha, azar dele - que, moído, exausto, arrebentado em mil caquinhos física e emocionalmente, ainda teve de se submeter ao meu detalhado interrogatório:

- Qual era o estado de ânimo do Béco antes da prova?

-  Excelente, ótimo humor. Fomos juntos para a pista. Conversou muito com o Nick Lauda. Até com o Prost ele  brincou. E me falou de você.

- Mas, os outros, como estava todo mundo?

-  O  clima da Fórmula 1 naquele dia estava pesado admitiu o Braga, do alto de seus anos e anos de janela. - Mas você sabe como é: o piloto está lá, o que ele tem de fazer é correr.

Comentei com o Braga a longa conversa que o Béco e eu tínhamos tido, na madrugada de sábado, depois da morte do austríaco Roland Ratzenbergen De seu desânimo, de seu choro convulsivo:

- Sei de tudo, garotinha.

E de muito mais. Senna tinha no Braga um amigão do peito. Os dois estiveram juntos, poucos dias antes, 20 de abril, em Paris, noite em que a Seleção Brasileira disputou uma partida com o Paris Saint-Germain, o time do Raí. Senna foi convidado a dar o chute inicial. Em pleno Parc des Princes. Os franceses aplaudiram em delírio. Tanto que ele, com o Braga, esticou depois do jogo - coisa rara na vida dele - até o La Coupole, feliz de ter sido festejado por um público que em princípio ele julgava pertencer, de corpo e alma, ao seu rival Alain Prost.

Braga conhecia o Béco e sabia o que se passava no fundo de seu coração. O ídolo é um alvo fácil para a intriga, o veneno, a inveja, o medo dos que gravitam em torno dele, a insegurança de quem tenta inutilmente controlá-lo. Braga sabia que Ayrton estava sob pressão - e que a Benetton e Michael Schumacher não eram as únicas coisas do mundo a atormentarem seu sono. Mas sabia da integridade do amigo, da força de sua determinação e da sinceridade de seus sentimentos.
Posto o que, encerrado o interrogatório, ele me botou sob sua generosa asa:

- Vamos nos arrumar para viajar amanhã para o Brasil, e você vai desembarcar conosco, garotinha.

Você pode aprender muitas coisas, de uma hora para  outra - para o bem ou para o mal. Até nunca mais ver, inocência! Naquele momento, eu gostaria de já ter em mãos a frase que uma amiga desconhecida, porém amiga, me mandou depois, numa carta afetuosa: "Sossega, meu coração: já enfrentaste coisa pior do que  isso".

Citação de um poeta grego, não me lembro mais quem. Se esta frase atravessou tantos séculos, é porque ela traz  a essência de uma sabedoria. Isso mesmo: o pior, para  mim, tinha sido a perda definitiva do meu amado. Os  tormentos posteriores, o enterro, a despedida, até mesmo as incompreensões, eu cheguei disposta a enfrentar sem o menor medo.

Fonte: Livro Caminho das Borboletas de Adriane Galisteu, lançado no final de 1994.

*******************************

FONTE PESQUISADA

GALISTEU, Adriane. Caminho das Borboletas. Edição 1. São Paulo: Editora Caras S.A., novembro de 1994. 

RUBYTHON, Tom. Fatal Weekend. 1º Edição. Great Britain: The Myrtle Press, 12 de novembro de 2015.







Nenhum comentário:

Postar um comentário