Aeromodelismo - Passatempo
famoso de Senna. Foi cultivado na Inglaterra, enquanto ele corria na Fórmula
Ford e na Fórmula 3 (começo dos anos 80, entre 1981 e 1983), ao lado do amigo
Maurício Gugelmin. O hobby continuou nos tempos de Fórmula 1, na Europa e no
Brasil - incluindo brincadeiras com um primo, sobrinhos e amigos.
Ayrton e Maurício no quintal
de casa em Esher na Inglaterra em 1985 ajustando um aeromodelo para em seguida
brincarem com o aparelho.
Batalhas aéreas a 150 km/h por Fábio Machado
da Silva, primo de Ayrton
Ayrton com seu primo Fábio brincam de aeromodelismo na fazenda do campeão, "Dois Lagos", em Tatuí, interior de São Paulo. Foto: Gianni Giansantti, 1994.
Um dia Ayrton veio da Europa com um modelo de
isopor, com motor e controle remoto. Foi no começo dos anos 80, talvez na época
da Fórmula 3. A
gente não sabia usar mas foi tentando, quebramos vários. Eu praticava mais,
porque ele passava muito tempo na Europa. Mas ele tinha uma enorme habilidade
para assimilar os controles, então voava melhor que eu. Meu controle tinha
acelerador do lado esquerdo e o dele, do lado direito, e mesmo assim ele
conseguia usar os dois normalmente. As pessoas sabiam que ele gostava de
pilotar, então mandavam aviões de presente - um para ele e outro para mim, com
controles invertidos [Senna era canhoto e Fábio é destro]. A equipe de motores da Honda, que trabalhou com o Ayrton
na Lotus e na McLaren, também se envolvia. Arrumavam, não sei de onde, um
combustível especial para melhorar o desempenho dos aviõezinhos. E todo ano
faziam um evento em Tóquio, que rendia um aeromodelo. Após o Grande Prêmio de
Suzuka, a gente ficava mais uma semana no Japão. Domingo corria, segunda
brincava de aeromodelo e, da terça em diante, negócios. Nunca os negócios
invadiam a agenda de segunda, nem a brincadeira se estendia para terça. Um
funcionário da Honda montava um avião e entregava para o Ayrton experimentar.
Ficavam 20 ou 30 pessoas da equipe, voando também ou só assistindo. Era uma
festa. No fim da tarde, eles embrulhavam o avião e mandavam para o Brasil. O
hidroavião da foto é um deles, o Ayrton ganhou um dia depois do bi mundial.
Esse ritual com o pessoal da Honda continuou mesmo após saírem da Fórmula 1. A gente vivia cheio de
peças, tinha mais do que numa loja. Reunimos tudo numa casa na fazenda. Era
terminar o jantar e ir para lá, aprontar os aviões durante a noite para brincar
no dia seguinte. Esses aeromodelos voam a 150 km/h , têm comando
muito sensível e, conforme passa por cima de você, o que era direita vira
esquerda. Manter sob controle é uma adrenalina. Mas voar já não era suficiente
para ele, então ia criando desafios novos. Deixava o avião se perder nas
nuvens, soltava e esperava para ver onde estava caindo, para então recuperar o
controle. Gostava de voar com vento forte, de perseguir os passarinhos... Numa
das brincadeiras, eu decolava e ele vinha atrás, tentando me derrubar. Num
espaço aéreo de centenas de metros, com dois aviões tão rápidos e ágeis, ele
tentava acertar o ponto onde eu estaria no próximo instante. Uma vez ele
conseguiu. Meu avião caiu como se fosse uma pedra, foi reto para o chão. O dele
ficou avariado e foi caindo também, mas o Ayrton não lamentou. Foi o dia mais
feliz, ele pulava de alegria, não parava de rir. Com a morte do Senna, os
aviões da casa na fazenda ficaram parados. Apenas a moça da limpeza mexe. Dez
anos depois, meu filho pediu para ensiná-lo. Voltei a voar, mas com outros
modelos. Aqueles, que eu usava com o Senna, nunca mais.
Ayrton com o controle na mão
e Fábio de braços cruzados do lado direito no Japão brincando de aeromodelismo em 1990. "Após o Grande
Prêmio de Suzuka, a gente ficava mais uma semana no Japão. Domingo corria,
segunda brincava de aeromodelo e, da terça em diante, negócios.", recorda
Fábio.
Senna e o primo Fábio
tratando de negócios no Japão após as brincadeiras com os aviãozinhos em 1991
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UOL - Ayrton Senna, de A a Z. Disponível
em:
<https://esporte.uol.com.br/f1/album/2014/05/01/ayrton-senna-de-a-a-z.htm>.
Acesso em: 11 de janeiro 2017.
MOURA, Marcelo. Ayrton em cena. Quatro Rodas, São Paulo, edição 607, ano 50, p. 210 – 217. Agosto de 2010.
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