quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A Origem da Paixão de Ayrton Senna Por Aeromodelismo


Aeromodelismo - Passatempo famoso de Senna. Foi cultivado na Inglaterra, enquanto ele corria na Fórmula Ford e na Fórmula 3 (começo dos anos 80, entre 1981 e 1983), ao lado do amigo Maurício Gugelmin. O hobby continuou nos tempos de Fórmula 1, na Europa e no Brasil - incluindo brincadeiras com um primo, sobrinhos e amigos.


Ayrton e Maurício no quintal de casa em Esher na Inglaterra em 1985 ajustando um aeromodelo para em seguida brincarem com o aparelho.



Batalhas aéreas a 150 km/h por Fábio Machado da Silva, primo de Ayrton

Ayrton com seu primo Fábio brincam de aeromodelismo na fazenda do campeão, "Dois Lagos", em Tatuí, interior de São Paulo. Foto: Gianni Giansantti, 1994.

Um dia Ayrton veio da Europa com um modelo de isopor, com motor e controle remoto. Foi no começo dos anos 80, talvez na época da Fórmula 3. A gente não sabia usar mas foi tentando, quebramos vários. Eu praticava mais, porque ele passava muito tempo na Europa. Mas ele tinha uma enorme habilidade para assimilar os controles, então voava melhor que eu. Meu controle tinha acelerador do lado esquerdo e o dele, do lado direito, e mesmo assim ele conseguia usar os dois normalmente. As pessoas sabiam que ele gostava de pilotar, então mandavam aviões de presente - um para ele e outro para mim, com controles invertidos [Senna era canhoto e Fábio é destro]. A equipe de motores da Honda, que trabalhou com o Ayrton na Lotus e na McLaren, também se envolvia. Arrumavam, não sei de onde, um combustível especial para melhorar o desempenho dos aviõezinhos. E todo ano faziam um evento em Tóquio, que rendia um aeromodelo. Após o Grande Prêmio de Suzuka, a gente ficava mais uma semana no Japão. Domingo corria, segunda brincava de aeromodelo e, da terça em diante, negócios. Nunca os negócios invadiam a agenda de segunda, nem a brincadeira se estendia para terça. Um funcionário da Honda montava um avião e entregava para o Ayrton experimentar. Ficavam 20 ou 30 pessoas da equipe, voando também ou só assistindo. Era uma festa. No fim da tarde, eles embrulhavam o avião e mandavam para o Brasil. O hidroavião da foto é um deles, o Ayrton ganhou um dia depois do bi mundial. Esse ritual com o pessoal da Honda continuou mesmo após saírem da Fórmula 1. A gente vivia cheio de peças, tinha mais do que numa loja. Reunimos tudo numa casa na fazenda. Era terminar o jantar e ir para lá, aprontar os aviões durante a noite para brincar no dia seguinte. Esses aeromodelos voam a 150 km/h, têm comando muito sensível e, conforme passa por cima de você, o que era direita vira esquerda. Manter sob controle é uma adrenalina. Mas voar já não era suficiente para ele, então ia criando desafios novos. Deixava o avião se perder nas nuvens, soltava e esperava para ver onde estava caindo, para então recuperar o controle. Gostava de voar com vento forte, de perseguir os passarinhos... Numa das brincadeiras, eu decolava e ele vinha atrás, tentando me derrubar. Num espaço aéreo de centenas de metros, com dois aviões tão rápidos e ágeis, ele tentava acertar o ponto onde eu estaria no próximo instante. Uma vez ele conseguiu. Meu avião caiu como se fosse uma pedra, foi reto para o chão. O dele ficou avariado e foi caindo também, mas o Ayrton não lamentou. Foi o dia mais feliz, ele pulava de alegria, não parava de rir. Com a morte do Senna, os aviões da casa na fazenda ficaram parados. Apenas a moça da limpeza mexe. Dez anos depois, meu filho pediu para ensiná-lo. Voltei a voar, mas com outros modelos. Aqueles, que eu usava com o Senna, nunca mais. 


 Ayrton com o controle na mão e Fábio de braços cruzados do lado direito no Japão brincando de aeromodelismo em 1990.  "Após o Grande Prêmio de Suzuka, a gente ficava mais uma semana no Japão. Domingo corria, segunda brincava de aeromodelo e, da terça em diante, negócios.", recorda Fábio. 


Senna e o primo Fábio tratando de negócios no Japão após as brincadeiras com os aviãozinhos em 1991



"A gente vivia cheio de peças, tinha mais do que numa loja. Reunimos tudo numa casa na fazenda. Era terminar o jantar e ir para lá, aprontar os aviões durante a noite para brincar no dia seguinte." - Fábio Machado 






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 


UOL - Ayrton Senna, de A a Z. Disponível em: <https://esporte.uol.com.br/f1/album/2014/05/01/ayrton-senna-de-a-a-z.htm>. Acesso em: 11 de janeiro 2017.

MOURA, Marcelo. Ayrton em cena. Quatro Rodas, São Paulo, edição 607, ano 50, p. 210 – 217. Agosto de 2010.













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