Edição 365 - Set/07
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Não Guardo Mágoas da Familia Senna (Adriane Galisteu)
Edição 365 - Set/07
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Livro Caminho das Borboletas - Adriane Galisteu Meus 405 Dias ao Lado de Ayrton Senna
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Ayrton
Senna e Adriane Galisteu namoraram um ano e meio. Os dois moravam juntos
quando o piloto sofreu o acidente que o matou, em 1994.
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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Memória preservada
São Paulo, 2004. A maior cidade do país guarda, em um dos seus milhares de prédios, um tesouro precioso para milhões de brasileiros: a memória do que Ayrton Senna da Silva fez na pista – da primeira vitória ao último desafio. Tudo está sendo cuidadosamente organizado em um dos andares do edifício-sede do instituto criado a partir do sonho de Ayrton de ajudar as crianças.
Quem cuida da saudade de Ayrton Senna é quem mais sente: a mãe dele, dona Neyde Joanna Senna da Silva.
“Gosto de tudo. Fico lembrando os casos, as imagens... Acho que eu devo isso a ele, pois ele foi muito bom filho”, diz dona Neyde.
A paixão de Ayrton pela velocidade está documentada, desde o início, em milhares de fotografias e imagens preciosas, que dona Neyde identifica, classifica e cataloga em um banco de dados do memorial.
“Durante todo esse tempo, guardei esse material porque sabia que eu tinha que fazer isso, não podia passar a responsabilidade para outra pessoa. E tinha que ser bem feito, como ele gostaria”, comenta a mãe de Senna.
Em uma estante, estão os capacetes usados por Ayrton Senna – desde o primeiro, ainda no kart – e também algumas garrafas de champanhe, usadas no pódio. Uma delas é especial. Ele escreveu em uma etiqueta colada na base: primeiro lugar, Mônaco, GP de 87. a garrafa é importante porque marcou o início do reinado do piloto nas ruas do principado. Ayrton Senna ficou tão feliz que na hora da comemoração o alvo foi inesperado.
A irreverência de Ayrton ao apontar o jato de champanhe da vitória de 1987 na direção da família real de Mônaco foi recebida com bom-humor por todos, menos pelo segurança. E em outra vitória, em 1991, ele até brincou, ameaçando repetir a dose.
O memorial guarda flagrantes da concentração de Ayrton no cockpit, de pilotos como Elio de Angelis, do amigo e empresário Armando Botelho, da namorada Cristine Ferracciu, de momentos de comemoração com os chefes das equipes que ele defendeu e do grande rival Alain Prost, em uma das fotos especialmente preocupado com o capacete amarelo.
“Isso me ajuda bastante. Eu nunca havia trabalhado fora. Depois do acidente, a Viviane falou que nós tínhamos que fazer o que ele queria. A partir daí, começamos a trabalhar. Me faz até falta, minha vida é isso aqui”, resume dona Neyde.
Outra peça de destaque do memorial é uma escultura formada pelos desenhos dos autódromos em que Ayrton Senna correu e venceu. Só existem duas peças – a outra está na casa do engenheiro japonês Yoshitoshi Sakurai, o homem responsável pela aliança imbatível entre Senna e os técnicos dos motores Honda. Uma aliança tão forte que deu ao piloto três títulos com o mesmo motor: 1988, 1990 e 1991. A grande decepção de Ayrton é que faltava o quarto título, de 1989. Ele perdeu o campeonato depois de uma vitória histórica na pista, mas que não convenceu os fiscais da Federação Internacional de Automobilismo.
A decepção do Ayrton aconteceu no momento decisivo do espetacular Grande Prêmio do Japão de 1989. Ayrton precisava da vitória para continuar sonhando com o bicampeonato, mas o rival Alain Prost fechou a porta na chicane. E apesar da heróica recuperação, Ayrton foi desclassificado por ter cortado caminho na chicane e Prost sagrou-se tricampeão nos boxes.
Quem teve a preocupação de guardar tudo de Ayrton foi o pai, Milton da Silva. Mas ele aparece muito pouco nas fotos do memorial. Sempre foi um homem reservado. E à medida que a fama de Senna foi crescendo, Miltão, como é conhecido na intimidade, começou a fugir da câmera sempre que podia.
O jeito sério e fechado deste homem escondia uma relação profunda com o filho de coração mole. Uma ligação que se tornou pública em raros momentos. Em um deles, ocorrido nos bastidores de Interlagos, logo depois da vitória heróica de Senna no Grande Prêmio do Brasil de 1991: Ayrton não se importou com as câmeras quando pediu um beijo ao pai.
Uma câmera que pertencia ao fotógrafo particular de Ayrton Senna, o japonês Norio Koike, também está guardada no memorial. Ainda funciona, mas depois de Ímola nunca mais foi usada. O fotógrafo doou a câmera para a família. Ele queria que ela ficasse como marco dos bons momentos vividos por Ayrton e que ele fotografou. Nenhum outro fotógrafo chegou tão perto da intimidade de Ayrton.
As fotos de Norio Koike incluem flagrantes de Senna em sua fazenda no interior de São Paulo e no refúgio preferido do campeão em Angra dos Reis, litoral do estado do Rio. Até o ritual da barba foi fotografado.
Senna também se deixou fotografar em momentos de surpreendente relaxamento. A obsessão com a forma física jamais o abandonava. O eterno namoro com a velocidade continuava nas férias. E a intensa ligação com a família ficava clara nas fotos que ele fez com os filhos da irmã Viviane. Registros de um Ayrton que poucos conheceram.
Dona Neyde tem um cuidado especial com as roupas e luvas que Ayrton usou.
“Muitas vezes ele joga as luvas fora. Eu ia lá e catava. Um dos pares está incompleto – só com a mão direita, porque ele era canhoto e a esquerda se acabou”, conta a mãe de Ayrton.
“Uma particularidade: muitas vezes, eu remendei luvas que ele achava macias e estavam de moldadas. As luvas novas o incomodavam, escorregavam”, revela dona Neyde.
Dona Neyde não se nega a cuidar pessoalmente do acervo, nem quando as fotos e imagens são daqueles dias tristes de 1994, quando o sonho de Ayrton de pilotar a poderosa Williams se desfez tragicamente em Ímola. Da reação desesperada quando ele viu, pela TV, no treino de sábado, o acidente que matou o piloto Roland Ratzenberger e da mistura de tristeza e preocupação de Ayrton nos boxes na manhã daquele domingo de maio em que ele perderia a vida.
“Quando ele foi pela primeira vez para a Europa, eu disse: ‘Olha, Beco, até agora eu cuidei de você. Daqui pra frente, quem vai cuidar de você é Deus. Por isso, preste bem atenção’. Nos primeiros anos, essa relação com Deus ficou abalada. Mas, ao mesmo tempo, não podia me desvencilhar, era tudo tão escuro. E foi Ele que me segurou. Acho que esse trabalho é um plano de Deus em nossa vida”, conta, emocionada, dona Neyde.
Fonte: http://redeglobo.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-3232-2,00.html