A F1 que já não viu Senna
A renovada principal
categoria do automobilismo, claro, conhece a vida e a obra do tricampeão
mundial, mas 25% dos seus pilotos sequer eram nascidos no fatídico 1.º de maio
de 1994. Se esganados ainda mais, os números mostram também que 65% do grid de
largada não tem idade para se lembrar do herói nacional em ação
ANDRÉ AVELAR, São Paulo
grandepremio.uol.com.br
22 de fevereiro de 2017
Lá se vão longos anos, é
verdade. Por outro lado, os pilotos são cada vez mais jovens. A renovada F1 que
emparelhar no grid de largada para o GP da Austrália, em 26 de março, claro,
conhece a vida e a obra de Ayrton Senna, mas a memória e o tempo correm travando
uma batalha injusta ainda que não se conheça o vencedor. Os meninos que hoje
sentam nos carros da principal categoria do automobilismo já são desafiados
pela memória e exigidos pelo tempo a lembrar da história do tricampeão.
Os mais críticos (ou apaixonados
mesmo) vão com razão lembrar que pouca gente hoje era nascida em 1914, ano da
Primeira Guerra Mundial. Ainda assim, ninguém parece duvidar dos livros de
história que garantem que grandes potências se organizaram em duas grandes
alianças opostas em um dos conflitos mais mortais da humanidade. Do mesmo modo,
Ayrton Senna também existiu. Mais do que isso, saiu dos livros, fotos e filmes
da época para deixar legado e saudade dentro e fora da F1. Ainda assim, os mais
novos não o viram.
Da F1 atual, 25% dos pilotos
sequer eram nascidos até aquele fatídico 1.º de maio de 1994, quase 23 anos
atrás. Lance Stroll (18 anos hoje), Max Vertappen (19), Esteban Ocon (20),
Carlos Sainz Jr. (22) e Pascal Wehrlein (22) não acompanharam em ação o que
para muitos foi o maior de todos os tempos. O mais provável é que tenham tomado
conta dos feitos do brasileiro com os próprios contemporâneos de Senna, que
hoje teria 56 anos se estivesse vivo, e também nas já tão acessíveis e variadas
formas de “memórias digitais”.
Lance Stroll de 18 anos é atualmente o piloto mais jovem do Grid da Fórmula 1 2017. Ele está em sua primeira primeira temporada.
Ao esganar os números um
pouco mais, é possível chegar à conclusão que, pela pouca idade na época,
outros pilotos também não se lembram verdadeiramente de Senna – Daniil Kvyat,
por exemplo, que está fora da conta inicial, tinha cinco dias naquela tarde de
domingo. Sendo praticamente impossível ter fielmente na memória quem foi o
tricampeão com menos de cinco anos, o grupo então ganha Valtteri Bottas (27
anos hoje), Daniel Ricciardo (27), Sérgio Pérez (27), Jolyon Palmer (26),
Marcus Ericsson (26), Stoffel Vandoorne (24), Kevin Magnussen (24), além do
próprio Kvyat (22). Daí a estatística passa para 65% do atual grid da F1.
Autor do livro “100 Senna”,
obra que reúne fotos preciosas de objetos pessoais do piloto, Celso de Campos
Jr. inicialmente se espanta com os anos transcorridos e paralelamente com a
juventude dos pilotos atuais. Apesar disso, acredita que, como uma em uma disciplina
escolar, Senna “deveria fazer parte da formação de cada piloto”.
“O Senna ficará para sempre
na memória das pessoas. Sempre elas vão saber quem ele foi”, disse Campos Jr.
“Mas o fundamental é entender que Senna não foi só um recordista, um tricampeão
mundial. Os números não são o que o definem, mas sim justamente a postura, a
dedicação e o carisma. Não acho que Senna será esquecido, mas acho que seja
sempre importante conhecer o legado Senna.”
Se por um lado os pilotos
estão aderindo à principal categoria do automobilismo cada vez mais jovem –
como é o caso do imberbe e estreante Stroll; de outro, Lewis Hamilton (32),
Fernando Alonso (35), Felipe Massa (35) e Kimi Raikkonen (37) puxam a média de
idade para cima: 26,55 anos, já bem próximo das mais de duas décadas de
ausência de Senna. O caminho natural ainda mexe com fãs do piloto, mas também
alerta que é preciso preservar a memória do tricampeão.
FONTE PESQUISADA
AVELAR, André. A F1 que já não viu Senna
. Disponível em: <https://grandepremium.grandepremio.uol.com.br/conta-giro/materias/a-f1-que-ja-nao-viu-senna>.
Acesso em: 22 de fevereiro 2017.