ESPN.com.br
2 de mar, 2023, 05:00
Chefão da Fórmula 1 por décadas, Bernie Ecclestone tem uma história recheada de polêmicas. Uma das maiores diz respeito à morte de Ayrton Senna, em 1º de maio de 1994.
Na série documental Lucky, e que conta a história completa do empresário, o inglês relembrou detalhes do trágico dia e revelou até mesmo uma "profecia" que escutou de seu braço direito.
A conturbada ida de Senna para a Williams
Após o seu terceiro título de campeão mundial em 1991, Senna viveu dois anos na sombra de uma nova equipe dominante. Tradicional no grid, a Williams chegou para 1992 com grandes inovações tecnológicas que tornaram seu carro quase imbatível, como o sistema de controle de tração e o ABS.
O resultado foi apenas um: supremacia. Nigel Mansell dominou a temporada e se sagrou campeão com cinco corridas de antecedência. Sem ver chances pilotando a McLaren, Senna começou a dar declarações públicas de que queria se juntar à rival inglesa.
Mesmo assim, a Williams optou por Alain Prost, que largou a aposentadoria para voltar ao grid e, em troca, teria exigido que o brasileiro não fosse contratado (os dois tiveram fortes desavenças nos tempos de McLaren).
A decisão irritou o tricampeão mundial, que chegou a fazer testes na Fórmula Indy no início de 1993, mas foi convencido a seguir na F1 pela Philip Morris, empresa dona da Marlboro, que patrocinava a McLaren, graças a uma proposta para ganhar US$ 1 milhão por corrida.
Naquele ano, Prost conquistou seu quarto título mundial e decidiu se aposentar novamente, deixando sua vaga livre para Senna, que, enfim, assinou com a Williams. O que o brasileiro não esperava, porém, era que a FIA mudaria algumas regras da categoria, proibindo o uso de certos sistemas que foram adotados no carro, como o controle de tração e o ABS. Tudo isso com apoio de Ecclestone.
“Nós perdemos algo que eu achava, e ainda acho, muito importante na F1: que um piloto dirija um carro completamente sem ajuda. Então, ele entra no carro. E a partir de então, são suas decisões. Se ele ganha ou perde, ou sofre uma batida, ou o que quer que aconteça, cabe a ele”, disse o empresário no episódio 6 da série documental.
O trágico final de semana em Ímola
O início de temporada 1994 para a Williams não foi dos melhores. Nas duas primeiras corridas, a segunda delas no Brasil, a equipe teve problemas com Senna, que largou na pole-position, mas não conseguiu terminar a corrida.
No terceiro final de semana, o GP de San Marino foi recheado de problemas. Na sexta-feira, 29 de abril, Rubens Barrichello sofreu acidente grave que o tirou da prova. Naquele mesmo dia, Ayrton começaria a dar sinais de que não considerava as condições da pista saudáveis para os pilotos.
“Os carros, de imediato, são um pouco mais instáveis. Ali, a gente talvez veja mais carros rodando, mais emoção para o público. Para a gente, até o ponto que não acontece nada. Quando acontece alguma coisa, não é muito confortável”, afirmou o brasileiro.
No dia seguinte, durante a classificação, Roland Ratzenberger sofreu acidente que acabou levando a seu falecimento, aumentando ainda mais a tensão para a prova de domingo. Foi então que, no dia 1º de maio, o pole position Ayrton Senna bateu na curva Tamburello, na sétima volta, e morreu por conta da intensidade da batida.
Ecclestone contou como viu o acidente na série. “Como foi no início da corrida, eu estava meio que fazendo o que normalmente faço durante esse tempo e meio que peguei uma maçã para comer e ia ver alguém. E então ouvi que Ayrton não tinha aparecido, então fui até a torre de controle para descobrir o porquê. Tudo o que sabiam é que tinha sido um acidente".
"Então liguei para Sid Watkins nos nossos rádios. Eu disse: ‘o que aconteceu?’ Então, Sid disse: ‘bem, é a cabeça dele’. E eu pensei que ele disse que estava morto. Então, desci da torre de controle e vi o irmão do Ayrton. E disse: ‘sinto muito que ele esteja morto’. Joguei a maçã fora e falei com uma ou duas outras pessoas", afirmou.
"Eles falaram sobre parar a corrida ou não. E eventualmente ficou claro que seria a pior coisa para o promotor na Itália que a corrida fosse interrompida, por lei, seria ruim se fizéssemos isso, porque seríamos totalmente responsáveis, mesmo que não fôssemos. E então descobri, obviamente, ele tinha morrido”, completou.
O fato de ter dado a notícia para o irmão de Senna antes da confirmação gerou uma crise entre Ecclestone e a família do piloto, amigo pessoal do empresário britânico.
“Minha esposa quis ir ao enterro, porque ela era muito próxima do Ayrton. Eu não era muito popular. Seu irmão havia relatado ao resto da família que achava que eu era um pouco insensível e não dava a mínima. Fiquei no hotel e assisti pela televisão”, afirmou.
Seu braço-direito desde à chegada na F1 e então presidente da FIA, Max Mosley disse, então, a ele uma frase que ele nunca se esquece ao ver o fim do quarteto dourado formado por Nelson Piquet, Nigel Mansell, Alain Prost e Ayrton Senna. “Max (Mosley) me disse: ‘Agora, a Fórmula 1 está morta”.
Ecclestone seguiu como manda-chuva da Fórmula 1, se tornando dono da companhia no início da década de 2000 até a venda para o grupo Liberty Media, em janeiro de 2017, quando passou a ocupar um cargo honorário até 2020.
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