Nate Saunders
ESPN - espn.com.br
12 Mai, 2020
Vamos dar uma olhada nos carros que o brasileiro Ayrton Senna, tricampeão mundial de Fórmula 1 (1988, 1990 e 1991), usou em sua vitoriosa carreira na modalidade mais importante do automobilismo mundial.
Senna é considerado um dos maiores pilotos da história e correu em alguns dos carros mais icônicos já vistos na F1. Começamos, é claro, pelo começo...
1984
Toleman TG183B
Um jovem Senna teve a sua chance com a pequena Toleman, uma equipe britânica, mas o primeiro modelo que ele pilotou foi o carro que havia disputado a temporada anterior.
Senna chegaria no sexto lugar na África do Sul e na Bélgica, mas a corrida final do TG183B seria uma que entraria para a história - o Grande Prêmio de San Marino de 1984 foi o único evento de F1 que Senna nunca conseguiu se classificar.
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O TG184 foi apresentado para o próximo evento na França, o quinto na temporada. Sua performance mais famosa viria na corrida seguinte, com Senna no volante.
Toleman TG184
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Um Senna ainda novato deu seu cartão de boas-vindas ao mundo das corridas no Grande Prêmio de Mônaco de 1984. O novo carro da equipe estava um passo à frente, e Senna teria uma chance imediata de mostrar seu talento. Começando em 13° com bastante chuva, Senna teve uma corrida memorável.
O brasileiro passou o rival Alain Prost, pouco antes da bandeira vermelha ser acenada na volta 32. Senna comemorou uma vitória, mas as regras diziam que as posições deveriam voltar como estavam antes da corrida ser paralisada. Senna teve que se contentar com a segunda posição em vez da primeira, mas a mensagem ao mundo da Fórmula 1 havia sido dada.
Senna iria ao pódio mais duas vezes, terminando em terceiro na Inglaterra e em Portugal, chamando a atenção da Lotus.
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1985
Lotus 97T
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A ascensão meteórica de Senna continuou com o belo Lotus 97T preto e dourado em seu segundo ano. A Lotus não era a equipe que tinha sido no final da década de 1970 e ainda estava sofrendo com a morte do chefe de Colin Chapman, chefe da equipe, em 1982, mas a primeira temporada de Senna marcou o ressurgimento da equipe.
O 97T da Renault seria competitivo. Senna, que substituiu Nigel Mansell (foi para a Williams) venceria sua segunda corrida com a equipe, dominando fortes chuvas para vencer com mais de um minuto para o segundo colocado no Grande Prêmio de Portugal. Senna também venceu em Spa-Francorchamps, na Bélgica, no final do ano.
Sete pole-positions ao longo do ano ajudaram a fazer a reputação de Senna como um piloto incrível nas classificatórias, característica que continuaria sendo um de seus maiores atributos ao longo da carreira.
1986
Lotus 98T
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Com seu status de futuro astro agora inquestionável, Senna usou seu tamanho antes do início da temporada de 1986. Com o companheiro de equipe de 85, Angelo de Angelis, saindo para a Brabham, Senna vetou a contratação do piloto britânico Derek Warwick. O pouco conhecido Scot Johnny Dumfries assumiu o papel de segundo piloto da Lotus.
Na temporada muitas vezes considerada o auge da era turbo, houve pressão sobre Lotus e Renault para fazer de Senna um candidato ao título. O motor EF15B da Renault seria um dos mais potentes que já rodaram em um carro de Fórmula 1.
Apesar de Senna ter conquistado oito poles ao longo da temporada, a Lotus não conseguiu converter essa força bruta em um desafio pelo título. O brasileiro teria que se contentar com vitórias na Espanha e em Detroit. Ele terminou no pódio em outras seis ocasiões, mas questões relacionadas à confiabilidade do carro fizeram o brasileiro ter que se contentar com um quarto lugar no Mundial de Pilotos.
Este seria o último Lotus com a Renault, que saiu da F1 no final da temporada.
1987
Lotus 99T
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Outro famoso esquema de cores substituiu o visual John Player Special da Lotus, com a pintura azul e amarela da Camel sendo introduzida em 1987. A Honda, que se tornaria uma parte essencial da carreira de Senna, entrou como fornecedora de motores.
O 99T foi equipado com uma suspensão ativa, o que ajudou Senna a obter vitórias em circuitos de rua como Mônaco e Detroit (última vitória da Lotus na F1), embora o sistema tenha contribuído para um carro que era difícil de montar para muitos dos cursos daquele ano. Senna conquistaria apenas uma pole position ao longo desta temporada, mas, apesar das falhas da 99T, o carro era competitivo o suficiente aos domingos para terminar o Mundial de Pilotos na terceira colocação.
Coisas maiores aguardavam Senna, no entanto, e sua passagem de três anos pela Lotus chamou a atenção de Ron Dennis e da McLaren.
1988
McLaren MP4/4
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A ascensão de Senna continuou com uma mudança para a McLaren na temporada de 1988. Foi neste ano que Senna correu naquele que seria o melhor carro de sua carreira. Alguns consideram o MP4/4, com motor Honda, projetado por Steve Nichols, o melhor carro de Fórmula 1 já feito.
Nesse carro, Senna teve uma de suas performances mais lendárias, no Grande Prêmio de Mônaco. Ele superou Prost por 1.427 segundos e mais tarde comparou a volta a uma experiência fora de seu corpo.
"Eu estava dirigindo por instinto", disse Senna mais tarde. "Eu estava em uma dimensão diferente. Eu estava em um túnel muito além do meu entendimento".
"Isso foi o máximo para mim; não há espaço para mais nada. Eu realmente nunca cheguei a esse sentimento novamente."
Em sua determinação de humilhar Prost, Senna ignorou as chamadas durante a corrida para desacelerar e bateu enquanto liderava confortavelmente, sendo obrigado a abandonar a corrida.
Imagens desse momento foram destaque no documentário de 2010 sobre a carreira de Senna.
O abandono não importou muito no grande esquema da temporada, onde o MP4/4 venceu 15 das 16 corridas daquele ano. Sete pertenceram a Senna e foram suficientes para o seu primeiro título.
Em uma peculiaridade das regras, Prost realmente superou Senna na temporada: 105 a 94 em pontos. No entanto, apenas os 11 melhores resultados de um piloto foram contabilizados para o Mundial de Pilotos – sendo assim, Senna acabou com 90 contra os 87 de Prost.
1989
McLaren MP4/5
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A temporada dominante da McLaren em 1988 permitiu muito esforço no desenvolvimento do MP4/5. Os motores com turbocompressor foram banidos e os motores com aspiração natural se tornaram obrigatórios, o que significa que este carro teve um motor Honda V10.
Foi menos dominante que o seu antecessor, vencendo 10 das 16 corridas.
O MP4/5 é objeto de um dos momentos mais famosos da história da F1, um importante momento na lendária rivalidade entre Senna e Prost.
Enquanto os companheiros de equipe disputavam posição na penúltima corrida, o Grande Prêmio do Japão, eles fizeram contato e pararam na chicane final na volta 46. Prost se retirou da corrida no local, mas o carro de Senna foi empurrado de volta para a pista de corrida e o brasileiro acabou vencendo. No entanto, Senna foi desqualificado por conta de sua largada irregular. Prost foi nomeado campeão da temporada.
Senna ficou indignado e prometeu nunca esquecer a decisão injusta.
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Naquilo que foi um “troco” da temporada anterior, Senna venceu seis corridas contra quatro de Prost, mas o francês ficou com o título. A relação dos dois havia ficado insustentável, e Prost se mudou para a Ferrari para a temporada de 1990.
1990
McLaren MP4/5B
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Com a saída de Prost da equipe, Senna mirou no seu segundo título mundial, com Gerhard Berger tomando o lugar de Prost. Prost levou o designer Nichols com ele para a Ferrari e a McLaren entrou no ano com uma versão modificada do MP4/5, chamada MP4/5B.
Mais uma vez, ele desfrutou de uma vantagem de velocidade na qualificação, o que combinava perfeitamente com Senna, mas a Ferrari daquele ano não ficava muito atrás. Senna venceu novamente seis corridas e voltou à penúltima corrida, no Japão, com a chance de conquistar o título. Mas você se engana se acha que o brasileiro não lembrava do que havia acontecido no ano anterior.
Outro momento histórico (e infame) aconteceu. Senna teve um início lento da pole position e Prost assumiu a liderança na corrida até a curva 1. Seus carros não iriam além disso, pois Senna bateu em Prost enquanto o francês se aproximava do destro. Os dois pilotos tiveram que sair da corrida e Senna foi declarado campeão mundial.
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1991
McLaren MP4/6
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Com um motor Honda V12, a McLaren foi a referência para o resto das equipes da F1 novamente em 1991. Continua sendo o último carro de F1 a vencer um campeonato mundial com uma transmissão totalmente manual ou um motor V12.
Prost não conseguiu vencer uma corrida sequer na temporada e foi demitido antes da corrida final após uma briga com a Ferrari, ajudando a pavimentar o caminho do tricampeonato de Senna. O brasileiro venceu as quatro corridas de abertura e mais três na segunda metade da campanha, quando terminou confortavelmente à frente de Nigel Mansell.
A vitória mais memorável da campanha do tri de Senna foi sua primeira no Grande Prêmio de Interlagos. Ele perdeu a terceira e a quinta marcha nas voltas finais e ficou tão exausto com o esforço de se manter na corrida que teve que ser arrastado para fora do carro depois da bandeirada.
O MP4/6 seria o último carro vencedor de Senna, já que o período de domínio da McLaren chegou ao fim – não venceria um título de novo até 1998. Ele correria com uma versão modificada do carro nas duas primeiras corridas da temporada seguinte.
1992
McLaren MP4/7A
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Este carro estava originalmente programado para ser apresentado na quarta corrida do ano, mas um novo poder crescente provocou uma mudança de planos. O Williams FW14, projetado por Adrian Newey, desenvolvido pela Renault, era um baita carro. Depois de ver a Williams vencer as duas primeiras corridas, o chefe da McLaren, Ron Dennis, antecipou o lançamento do MP4/7A.
Com o novo carro, Senna conquistou três vitórias - Mônaco, Hungria e Itália - em sua temporada menos competitiva desde que deixou a Lotus. A primeira dessas vitórias o viu segurar Mansell pelas ruas de Monte Carlo, uma clássica batalha da Fórmula 1.
Mansell e a Williams conquistaram o título naquele ano e a era do domínio oficialmente chegou ao fim quando a parceria da McLaren-Honda terminou. A McLaren e a Honda voltariam a fazer negócios em 2015, mas foram três anos de insucesso.
1993
McLaren MP4/8
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Sem a Honda, o carro da McLaren em 1993 tinha motor Ford. Embora Prost e sua Williams finalmente tivessem vencido a temporada confortavelmente, Senna alcançou resultados notáveis no início do ano, vencendo três das seis primeiras corridas e liderando o campeonato até a sétima corrida.
No entanto, o carro diminuiu o ritmo, enquanto a Williams ficou mais forte. Senna passou oito corridas seguidas sem ir ao pódio, o período de seca mais longo de toda a sua carreira.
Uma de suas três vitórias é sem dúvida a mais renomada, o Grande Prêmio da Europa de 1993 no circuito britânico de Donington Park. Com chuva, Senna ultrapassou Michael Schumacher, Karl Wendlinger, Damon Hill e Prost na primeira volta.
Ele terminaria sua vitoriosa passagem pela McLaren com vitórias nas últimas duas corridas, Japão e Austrália, antes de mudar para a Williams, que agora era a força dominante na F1.
1994
Williams FW16
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A mudança de Senna para Williams prometia muito, mas acabou em tragédia.
O carro projetado por Newey foi uma evolução da Williams de Prost em 1993, com um título confortável, mas sem o fator X. O sistema de suspensão ativo que a Williams havia introduzido nos dois anos anteriores havia sido banido e a pré-temporada logo revelou deficiências no FW16.
Newey diria mais tarde: "O carro de 1994 não era um carro bom no começo do ano. Era muito difícil de dirigir. Quando perdemos a suspensão ativa, tivemos mais problemas para nos adaptarmos à suspensão passiva do que outras equipes".
Senna abandonou as duas primeiras corridas, vencidas por Michael Schumacher, da Benetton. A frustração de Senna no início do ano foi intensificada por uma suspeita de que a Benetton estava utilizando um software ilegal de controle de tração em seu carro, uma alegação nunca comprovada.
Foram feitas alterações no FW16 para a terceira corrida, o Grande Prêmio de San Marino em Ímola, mas o mundo nunca chegou a ver se a tal mudança poderia ter reacendido a chama no Mundial de Pilotos. Depois de conquistar a pole e liderar no início, Senna bateu na curva Tamburello no início da sexta volta e faleceu.
O companheiro de Senna, Damon Hill, foi derrotado por Schumacher na corrida final da temporada.