04/11/2010 às 1:43
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Numa ensolarada manhã de
sábado, dezembro de 1984, o magro e um tanto circunspecto piloto de Fórmula 1,
que acabara de anunciar que defenderia a mítica equipe da Lotus em 1985, Ayrton
Senna franzia a testa ao saber que havia um jornalista dentro do estacionamento
do kartódromo de Interlagos. De imediato avisou: “Pode tirar uma foto mas, desculpe,
não vou falar nada.”
Senna com sua "pipa"
Eram as primeiras férias de
Senna na Fórmula 1 e ele acabara de comprar suas mais novas máquinas, três
aeromodelos com controle remoto, um deles um helicóptero. Por algumas horas,
ele não tirava os olhos dos brinquedos enquanto fazia manobras radicais,
subindo e descendo o mais rápido que podia. Ficou um tanto inibido com a minha
presença, absolutamente casual - morava a 400 metros da entrada
principal do kartódromo e passava por ali a caminho da casa da minha irmã e, ao
perceber a forte movimentação, decidi entrar. Cansou, se irritou com a minha
permanência ali e resolveu ir embora.
Senna era apaixonado por aeromodelismo
Além de ter a sorte de
flagrar o futuro tricampeão num momento especial, um dos privilégios que tive
foi ver ao vivo algumas dezenas de classificações para a pole position – matéria
em que Senna
era mestre, num tempo em que se usavam os pneus mais rápidos, o motor mais
forte, o melhor acerto aerodinâmico para ganhar velocidade. O resultado quase
sempre era um uníssono som de surpresa e admiração seguido por palmas de pelo
menos quatro centenas de jornalistas na sala de imprensa de um autódromo pelo
mundo.
As corridas de Senna eram
espetaculares, mas as classificações eram ainda mais. A impressão é que ninguém
respirava enquanto Ayrton acelerava e pulverizava retas e engolia as curvas,
por mais travadas que fossem, em busca da sua flying lap – volta voadora.
Largou na primeira posição 65 vezes em 161 GPs disputados (só atrás de Michael
Schumachaer, que tem 68 poles mas em 265 corridas (sem contar as duas últimas
de 2010).
A capacidade que tinha em
fazer com que carros ruins andassem rápido era a sua maior qualidade. Conseguia
baixar o tempo guiando qualquer coisa. Assim se destacou rapidamente na
Toleman, passando em seguida para a Lotus e depois McLaren. Mas não era
simplesmente um dom, ele trabalhava muito. Em quase dois acompanhando corridas
e testes de equipe pela Europa, quase sempre Ayrton era o primeiro a chegar no
circuito e o último a sair, fosse para testar pneu, resistência do carro ou
alguma certo de suspensão, sempre uma jornada monótona, animada para ele
somente no fim do dia na reunião com os engenheiros.
Um profissional obcecado e o
piloto mais rápido que vi ao volante de um Fórmula 1.
(Por Silvio Nascimento)
FONTE PESQUISADA
NASCIMENTO, Silvio. O rei do aeromodelo e
da pole position. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/veja-acompanha/gp-brasil-de-formula-1/o-rei-da-pole-position/>.
Acesso em: 01 de setembro 2014.