Minha batalha depois da dura
vitória
Edição 369 - Abril 1991
Apesar de todo cansaço, vou
lembrar para sempre a emoção de receber a bandeirada em Interlagos.
Depois de conseguir em
Interlagos uma das vitórias mais emocionantes da minha vida, eu não imaginava
que teria um novo desafio em seguida: entrar na minha própria casa, no bairro
de Cantareira, em São Paulo. Vocês podem não acreditar, mas foi uma missão quase
impossível chegar perto dos meus familiares para comemorar a primeira conquista
num GP do Brasil.
Nunca havia recebido tantas
visitas. Para entrar pelo portão, eu e os policiais, que estavam escoltando a
minha perua, ficamos pelo menos uns dez minutos esperando. Eu gostaria muito de
sair do carro e falar com cada um dos meus fãs, mas com tanta gente no local
seria mesmo impossível e até perigoso para todo mundo. As pessoas foram, então,
se aglomerando em volta do carro. Lá dentro, a impressão era de que estavam
amassando tudo. Comentei assustado com o meu irmão. Mas o Leonardo nem se
preocupou. “Becão, não liga. Se amassarem, a gente guarda essa perua como
troféu e compra outra.” Só mesmo uma vitória no GP do Brasil para ele brincar
naquela situação. Se fosse em outro dia...
Acabei entrando em casa por
volta das 18 h. Aí então pude, pelo menos, acenar por cima do muro para meus
ilustres visitantes. Fiquei um bom tempo ali. Quatro horas depois ainda havia
bastante gente no portão. Resolvi voltar e, com a eficiente ajuda dos
policiais, pude ficar mais perto dos meus fãs.
Senna na porta da casa dos pais acenando para seus fãs depois da vitória inédita no Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1
Estava realmente cansado. O
GP em Interlagos foi a prova mais desgastante da minha carreira. Depois de
enfrentar os problemas no câmbio a partir da 60.ª volta, cheguei ao pódio com
espasmos musculares nos braços. Vocês nem imaginam o sacrifício que foi
levantar o troféu. Acho que agradeceria se recebesse apenas uma medalha como na
corrida dos Estados Unidos. Mas ganhar só isso não tem muito a ver. Acabei
esquecendo a medalha no bolso do macacão. E ficou tudo por lá no caminhão da
McLaren em Phoenix.
Ayrton Senna estava tão cansado e dolorido que não conseguia nem levantar o troféu
Apesar de todo cansaço, vou
lembrar para sempre a emoção de receber a bandeirada em Interlagos.
Principalmente por ter ficado apenas com a sexta marcha nas últimas voltas. Foi
uma corrida tão especial que, após ser obrigado a passar por duas sessões de
massagens com o fisioterapeuta da equipe (uma no boxe e outra em casa), ainda
encontrei forças para assistir a todo o teipe do GP no vídeo. Só fui dormir às
2 h da madrugada.
Ayrton após a vitória dramática no GP Brasil 91
o piloto brasileiro durante a corrida
Na verdade, este início de
temporada tem sido perfeito. O primeiro exemplo aconteceu logo na abertura, em
Phoenix: vitória de ponta a ponta com pole. Sem contar a vantagem de mais de 40
segundos sobre o segundo colocado. Muitas pessoas dizem que eu forço demais o
carro. Não é verdade. A vantagem aberta nos Estados Unidos foi porque o meu
McLaren estava ótimo. E eu até poderia ter andado mais rápido. Mas já estava
satisfeito com o desempenho do novo modelo MP4/6, que, quase sem nenhum teste,
conseguiu colocar 2 segundos por volta em equipes que treinaram durante todo o
final do ano passado.
Não me sentia tão bem desde
1988, quando a McLaren tinha um carro tão superior que vencemos quinze das
dezesseis corridas. Nos Estados Unidos, ainda fiz minha tradicional escala em
Miami, onde revejo uns amigos queridos e ainda aproveito para fazer umas
comprinhas. No Brasil... Bem, no Brasil, comemorei meu 31.º aniversário na
quinta, dia 21 de março, mas só fui receber o presente no domingo. E que
presente!
O campeão já em casa descansando após ganhar pela primeira vez em seu país. Feliz e orgulhoso, ele exibi a garrafa de champanhe, troféu e medalha, símbolos da primeira conquista em sua terra natal. Ganhar um GP no Brasil era um sonho antigo de Ayrton Senna.
FONTE PESQUISADA
20 ANOS SEM SENNA
Edição: Marcio Ishikawa
Produção: Bruno Roberti
Texto e pesquisa: André Biernath, Gian
Kojikovski, Rodrigo Furlan e Vitor Matsubara
Edição de arte: Abraão Marcos Corazza
Design: Juliana Moreira
Ilustrações: Felipe Thiroux e Juliana
Moreira
Desenvolvimento: André Cabral, Allyson
Kitamura, Cah Felix e Leonam Dias
Imagens: Dedoc Abril e Photo-4
Analista de Redes Sociais: Lucas
Baranyi
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