O momento mais tenso da relação entre Ayrton Senna e Nelson
Piquet
Por Fred Sabino, Rio de Janeiro
F1 Memória - GE globoesporte.globo.com
01/04/2018 07h00
Atualizado há 30 minutos
O começo de abril de 1988 marcou o primeiro fim de
semana da temporada da Fórmula 1, no Rio de Janeiro. Dentro da pista, existia a
expectativa para a estreia do tricampeão Nelson Piquet pela Lotus e também pela
primeira corrida de Ayrton Senna como piloto da McLaren. Mas, há 30 anos, o que
se falava mesmo nos bastidores era o mais conturbado momento na sempre tensa
relação entre os dois ídolos do automobilismo brasileiro.
No dia 7 de março, quando ainda eram realizados os
saudosos testes coletivos de verão no Rio de Janeiro, Senna deu entrevista ao
"Jornal do Brasil" e fez uma provocação a Piquet. Quando o repórter
Sérgio Rodrigues perguntou o motivo de Senna estar tanto tempo sem falar com a
imprensa, o futuro tricampeão respondeu:
- Eu tinha que dar aos outros uma chance de aparecer
um pouco. Afinal, não fazia sentido o cara ser tricampeão e eu continuar sendo
assunto. Já que ninguém gosta muito dele, o único jeito era eu sumir para que
ele pudesse aparecer um pouco.
Lotus-Honda de Nelson Piquet na temporada 1988 da
Fórmula 1 (Foto: Getty Images)
Embora Senna tenha deixado claro que era uma
brincadeira, e a própria reportagem tenha destacado isso, afirmando que Ayrton
até queria superar a rixa com Piquet, a manchete "Senna diz que sumiu para
Piquet aparecer" teve resposta.
Nelson Piquet, cujo nome passava a batizar o
Autódromo de Jacarepaguá, leu a matéria e chamou o jornalista Eloir Maciel para
responder a Senna. A reportagem de título "Piquet reabre guerra particular
com Senna" continha uma declaração que caiu como uma bomba:
- Senna estava desaparecido por esses meses não foi
para me deixar aparecer. Foi para não ter de explicar à imprensa brasileira por
que não gosta de mulher.
Ayrton, que já havia sido casado com Lílian de
Vasconcellos e namorava na época Adriane Yamin, sem contar outros
relacionamentos com modelos famosas da época [o jornalista se refere a Ayrton ter tido relacionamento com Yamin e outras mulheres ao mesmo tempo], ficou furioso. Chegou a querer
partir para o box da Lotus e brigar com Piquet no autódromo de Jacarepaguá, mas
acabou convencido a se acalmar, pois um confronto poderia render alguma punição
antes ou durante o GP do Brasil, que seria disputado dia 3 de abril.
Largada do Grande Prêmio do Brasil de 1988, em
Jacarepaguá (Foto: Getty Images)
Senna ameaçou entrar na Justiça contra Piquet, que
foi convocado para esclarecimentos. Nelson, que no dia seguinte ao estouro da
declaração chegara a confirmá-la, depois minimizou o caso, e o advogado Geraldo
Gordilho alegou que houve uma interpretação equivocada do que havia sido dito.
No âmbito judicial, a questão não prosseguiu e, enfim, os dois passaram a se
concentrar em acelerar seus carros.
Com o brilhante modelo MP4/4 e o poderosíssimo motor
Honda, que venceria 15 das 16 corridas daquele ano, Senna marcou a pole
position em sua estreia pela McLaren, 1s991 mais rápido do que o quinto
colocado Piquet, já enfrentando dificuldades com o péssimo chassis projetado
por Gerard Ducarouge para a Lotus.
No fim da volta de apresentação, Senna ergueu os
braços com problemas no câmbio da McLaren, e a largada foi abortada. Ayrton
trocou de carro, o que era proibido pelo regulamento, e fez uma furiosa
recuperação até subir do 21º ao quinto lugar em 16 voltas. Foi quando ele
chegou em Piquet. A tensão chegava até a Galvão Bueno e Reginaldo Leme na
cabine da Globo.
Piquet pilota Lotus-Honda na abertura da temporada
de 1988 (Foto: Getty Images)
- Agora é a hora da serenidade, porque sem dúvida o
Senna vai chegar muito rápido no Piquet - disse Reginaldo.
- Foram muitas discussões, muitos problemas entre os
dois brasileiros nas semanas que antecederam o grande prêmio. Como disse o
Reginaldo, é hora da serenidade de parte a parte, essa é a nossa torcida. São
dois grandes pilotos do Brasil brigando por uma posição - completou Galvão.
Na pista nem houve briga. Com muito mais carro,
Senna engoliu Piquet no retão e assumiu o quarto lugar. Em mais dez voltas,
Ayrton chegou à segunda posição, mas foi desclassificado por ter trocado de
carro. Sem condições de brigar pela vitória, Nelson conduziu sua Lotus ao
terceiro lugar, a 1m08s581 do vencedor Alain Prost.
Senna durante os treinos para o GP do Brasil de
1988, no Rio (Foto: Getty Images)
No fim das contas, Senna conquistou seu primeiro
título mundial, depois de vencer oito corridas e fazer 13 poles. Já Piquet, que
se arrastou durante o ano com sua Lotus e os crônicos problemas de torção do
chassis, não venceu na temporada, e foi apenas o sexto colocado, com suados
três pódios.
Nos anos seguintes, o tom das declarações de ambos
diminuiu, mas eles nunca chegaram a ser amigos. Em 1992, Ayrton gravou uma
mensagem para Nelson, que se recuperava de um gravíssimo acidente nos treinos
para as 500 Milhas de Indianápolis. Dois anos depois, Piquet demonstrou muito
abatimento com a morte do antigo rival.
- Várias vezes eu me peguei imaginando que quando os
dois parassem de correr poderiam ter do lado de cá das pistas, porque um
respeitava muito o talento do outro. E a minha esperança é de que com o tempo,
todo esse passado fosse esquecido - disse Reginaldo Leme em um episódio do
quadro Histórias da F1, em 2016.
FONTE PESQUISADA
SABINO, Fred. O momento mais tenso da relação entre
Ayrton Senna e Nelson Piquet. Disponível em: <https://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/blogs/f1-memoria/post/2018/04/01/o-momento-mais-tenso-da-relacao-entre-ayrton-senna-e-nelson-piquet.ghtml>.
Acesso em: 01 de abril 2018.
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