Livro “A Paixão de Senna”, do jornalista português
Rui Pelejão
Ayrton Senna conheceu o seu último grande amor no
Grande Prémio do Brasil de 1993. Adriane Galisteu era uma das hospedeiras
contratadas pela Shell para conduzir os convidados VIP pelo paddock e fazer de rececionista na Tenda
VIP da marca petrolífera. A jovem manequim paulista, então com apenas 19 anos,
esteve para recusar aquele trabalho proposto pela sua agência Elite, mas mil
dólares por quatro dias a sorrir e a exibir a sua beleza num provocante maiot vermelho não eram de menosprezar,
sobretudo para uma jovem da classe média que vivia sozinha com a mãe e que
iniciava então uma carreira de modelo.
Adriane era o protótipo de beleza que encantava
Ayrton: loira e com um corpo bem desenhado, sorriso meio ingénuo que cativava e
uma boa disposição contagiante que não apagava a sua inteligência emocional,
que tanto atraiu Ayrton. Não era o protótipo da loira escultural, do género das
que ele levava para a cama para one night
stands.
Durante aqueles dias do Grande Prémio, a beleza de
Adriane não passou despercebida a Ayrton, apesar do piloto estar ligado no modo
«Senna competição», que só se transformava em Ayrton ou no Beco após ver a bandeira de xadrez do Grande Prémio. Trocaram
poucas palavras durante as inúmeras vezes que se cruzaram, mas ela lembra-se da
áurea e do carisma que o rodeava quando o viu pela primeira vez, entrando na
lotada tenda da Shell. Depois da vitória no GP do Brasil e quando se preparava
para regressar ao seu bairro classe média em São Paulo, Adriane recebeu de um
assessor de Ayrton um convite para a festa de comemoração da vitória, que
decorreria essa noite na badalada discoteca Limelight, na zona oeste de São
Paulo.
Adriane aceitou o convite, juntamente com inúmeras
beldades do paddock que terminaram a
noite dançando na pista com Ayrton Senna, o mais solicitado solteiro do Brasil.
Mas, ao não dar grande bola para Ayrton, Adriane acabou por conquistar a sua
atenção e os dois acabaram dançando e conversando até ao final da festa que
terminou com cada um em sua casa. No dia seguinte, inevitavelmente ao telefone,
Ayrton convidou-a para um churrasco que ia dar dois dias depois na casa de
Angra – e a partir daí os dois ficaram inseparáveis.
Adriane passou a ser a namorada oficial e assumida
do piloto, acompanhando-o em vários Grandes Prémios, nas viagens a Angra e nas
estadias na casa de Braguinha, em
Sintra ou na Quinta do Lago no Algarve. O único local onde Adriane esteve
poucas vezes foi na fazenda dos Dois Lagos em Tatuí, Góias, o último reduto da
família Senna da Silva, que o piloto havia reconstruído para a transformar num
autêntico Neverland – dois lagos
unidos por um canal, um kartódromo privado para curtir umas corridas com os
amigos e com o seu sobrinho Bruno Senna, que anos mais tarde seguiria os seus
passos, chegando a competir na Williams, sem grande sucesso. Foi ali que o seu
fotógrafo pessoal, o japonês Norio Noike, fez uma célebre sessão de fotos com o
casal para a revista Caras. Assumir
esta relação nas páginas de uma revista socialite,
ainda por cima no santuário da família, era um sinal de que Ayrton estava determinado
a desafiar a família.
Ayrton sentia que ao contrário de Xuxa, e mesmo de
Cristine Ferracciu, a sua nova namorada não caíra nas boas graças da família,
que, considerando as origens humildes de Galisteu e a crescente afeição de
Ayrton por ela, parecia encará-la como uma ameaça interesseira.
Essa terá sido, provavelmente, uma das razões pelas
quais, no final daquela desgastante época de 1993, Ayrton Senna não ter voltado
para o Brasil, para o seu longo verão brasileiro, que tanto mal-estar gerara
nas equipas de Fórmula 1 por onde passara.
Era a primeira vez, desde que iniciara a sua
carreira na Europa em 1981, que o piloto brasileiro não passava as suas longas
férias no Brasil, preferindo ficar na Europa e na sua casa na Quinta do Lago.
Esta inédita decisão fez soar os alarmes na família que vivia em função de
Ayrton: «É muita gente em função de mim», desabafou uma vez Ayrton com o seu
amigo Galvão Bueno.
Naquele verão, Ayrton passou todo o tempo com o seu
novo amor, que muitos, como Braguinha,
consideram ser a mulher que fez Senna mais feliz e com quem ele tencionava
casar. Os dois, enamorados, costumavam brincar que aquele verão era o ensaio
para a lua de mel – conta Adriane no seu livro A minha vida com Ayrton Senna. Adriane preparava-se para ser a sra.
Senna, aprendia inglês e melhorava o seu jogging
com Nuno Cobra, para poder acompanhar o seu namorado nos seus treinos físicos.
A jovem brasileira acreditava que Ayrton Senna lhe
iria propor casamento quando se reencontrassem após o Grande Prémio de São
Marino. Ela ficara no Brasil para concluir o seu curso de inglês e tinha
bilhete marcado num voo da Varig para Lisboa no dia 27 de abril.
Iria passar aqueles dias com Juracy no Algarve,
esperando o regresso de Ayrton, quem sabe com um anel de noivado.
FONTE PESQUISADA
PELEJÃO, Rui. A paixão de Senna. Edição 1. Editora Leya Portugal. S.A., julho de 2014.
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