JORNAL DO BRASIL | Automobilismo | quinta-feira, 11/01/1990 | 1° caderno | Pagina 25
PARIS – Quem imaginava que os problemas de Ayrton Senna,
quanto ao desfecho da última temporada, terminariam com as punições que recebeu
da Federação Internacional de Automobilismo, se enganou. Ele pode até não
correr este ano. Ontem, o presidente da FIA, Jean-Marie Ballestre, negou ao
piloto a superlicença para competir na temporada de 1990. E só a concederá, se
o brasileiro se desculpar pelas críticas que fez à entidade e à Fisa (Federação
Internacional de Esportes Automobilísticos), após o Grande Prêmio do Japão, no
qual foi desclassificado, depois de receber a bandeirada de vencedor, numa
decisão que deu ao francês Alain Prost seu terceiro título na Fórmula 1.
Ballestre recebeu Senna no dia 6 de dezembro, em Paris, e
disse que o piloto "manteve uma conduta arrogante e desrespeitosa",
negando-se a se retratar das declarações no Japão, segundo as quais houvera
manipulação da FIA e da Fisa em favor de Alain Prost, na decisão do Campeonato
de Pilotos do ano passado. Para o presidente do organismo máximo do
automobilismo mundial, Senna, se quiser correr a temporada de 1990, deverá
"retirar suas mentiras".
O dirigente, que também preside a Fisa, exige que Senna se
desculpe publicamente pelas acusações. Poucos dias após o conturbado GP
japonês, a FIA multou o brasileiro em US$ 100 mil e o suspendeu por seis meses,
com direito a sursis, considerando que ele cometera várias irregularidades, não
só na prova disputada em Suzuka, mas também em outras corridas das temporadas
de 1988 e 1989. “O Conselho Mundial da FIA decidiu que Senna não terá acesso á
superlicença enquanto não se retratar publicamente de suas declarações e
reconhecer que o resultado do campeonato do ano passado estava acima de qualquer
suspeita e reprovação", afirmou Ballestre, numa conferência de imprensa,
na sede da FIA.
Diplomacia — O prazo para a concessão de superlicenças aos
pilotos termina no dia 15 de fevereiro. "Em todo esse assunto, não tenho
nenhuma responsabilidade pessoal, pois tudo foi decidido pelo Conselho Mundial,
integrado por personalidades do porte dos presidentes das federações de Estados
Unidos, Japão, Alemanha Ocidental e Grã-Bretanha", declarou o dirigente,
concluindo com uma tentativa de receber a simpatia dos brasileiros: "Quero
voltar tranqüilamente ao Brasil, pais que admiro e no qual tenho bons amigos.
Entre eles, alguns que, curiosamente, foram, do mesmo modo que Senna, campeões
do mundo, como Nélson Piquet e Emerson Fittipaldi."
GP do Japão, a 22 de outubro passado, foi o penúltimo da
temporada. E o único resultado que impedia o título de Prost seria a vitória
de Senna. O brasileiro, que vencera a prova anterior, na Espanha, era pole position . O francês, que largava a seu lado no grid, saiu na frente e
conseguiu boa vantagem. Senna foi reduzindo a diferença e, faltando poucas
voltas, tentou a ultrapassagem na curva de acesso á chicane. Foi fechado e os
dois carros se enroscaram.
O francês Jean-Marie Ballestre, 68 anos, preside a FIA
(desde 78) e a Fisa (desde 73), mas quase nunca é levado a sério na Fórmula 1.
Agora, ele está disposto a fazer valer sua autoridade e vencer a guerra que
trava com Bernie Ecclestone, presidente da Foca (Associação dos Construtores de
Fórmula 1), pelo poder na categoria. Ele já se viu em situação delicada, diante
de um dossiê que comprovava seu engajamento nas tropas da SS, durante a
ocupação da França pela Alemanha, na Segunda Guerra Mundial.
O campeonato perdido para Prost ainda incomoda Senna
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