quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Entrevista: Lucio Pascoal, Ex-Preparador De Motores De Senna

21.03.10 - Por Vitor Matsubara
Quatro Rodas - quatrorodas.abril.com.br

Talvez muita gente que gosta de automobilismo não conheça Lucio Pascoal Gascon. Mas quem acompanhou de perto a carreira de Ayrton Senna ou tem algum envolvimento com o mundo do kartismo respeita muito este simpático senhor de fala mansa, conhecido no meio simplesmente como “Tchê”.

Nascido na Espanha, Pascoal veio para o Brasil em 1960 em busca de emprego. Não demorou muito para começar a trabalhar na preparação de motores, aprendendo bastante com Silvano Poz, um dos pioneiros do kartismo brasileiro. Mas foi em 1º de junho de 1974 que a vida de Lucio começou a mudar.  Naquele dia, ele teve o primeiro contato com um jovem – e talentoso – piloto de gênio forte chamado Ayrton Senna da Silva.


Em entrevista concedida a GRID durante um evento de karts antigos em Atibaia, interior de São Paulo, Tchê revelou passagens curiosas e algumas peculiaridades da vida de Senna, considerado por ele como o melhor piloto com quem já trabalhou.

 Ayrton e Tchê na época do kart

Quando o senhor chegou ao Brasil?

Eu vim para o Brasil em 1960. Eu era ferramenteiro na Espanha e decidi vir para cá em busca de um emprego na área em que estudei (engenharia). Logo comecei a preparar motores e, naquela época, trabalhava dia e noite sem descanso. Tive um professor muito bom chamado Silvano Poz, que foi um dos pioneiros do kartismo no Brasil. Eu já tinha um pouco de conhecimento, mas foi com ele que aperfeiçoei minha técnica.

O senhor trabalhou na preparação de motores de carros ou somente de karts?

Ajudei na preparação de carros para a Mil Milhas Brasileiras (uma das provas de longa duração mais tradicionais do automobilismo brasileiro nas décadas de 60 e 70). Quando entramos na pista, as outras equipes riram de nós. Os carros não tinham muitas mudanças: eram apenas veículos de passeio com peso aliviado e os equipamentos de segurança para as pistas. Mesmo assim, vencemos a prova de 1965 com um Volkswagen Sedan, na categoria de até 1.300 cilindradas.

Além de Senna, quais outros pilotos passaram por suas mãos?

Posso citar alguns, como Chico Serra, Maurizio Sala, Emerson Fittipaldi, Mauricio Gugelmin e Roberto Pupo Moreno.

O senhor diria que Ayrton Senna foi o melhor piloto com quem já trabalhou?

Sim. Trabalhei com muitos pilotos bons, mas nenhum deles era tão dedicado quanto ele. Na pista, ele fazia o possível para tirar um milésimo de segundo por volta. Como todo piloto, ele errava bastante no começo, rodava e saía da pista. Mas ele começou a treinar bastante e sempre perguntava se podia fazer alguma coisa nos ajustes, mesmo que a sugestão dele acabasse não funcionando. Era um cara que montava motores sozinho, media a pressão dos pneus e fazia todos os ajustes por conta própria. Era o primeiro piloto a entrar na pista pela manhã e o último a voltar para os boxes. Senna era muito dedicado.

Conte-nos um pouco mais sobre o dia-a-dia com Ayrton.

Ele (Senna) treinava muito. Corria todo dia, com chuva ou sol, e entendia bastante de mecânica. Após cada volta, parava e mexia no kart para ver o que estava acontecendo. E não deixava ninguém mais mexer no kart dele. Ele também não admitia que falassem com ele enquanto estava trabalhando no carro. Após a corrida, podíamos discutir sobre a corrida, mas durante os treinos ninguém podia conversar com ele.

Esta foto de autoria de Miguel Costa Jr. mostra Ayrton Senna andando de Superkart 200cc em Interlagos 1982, liderando o pelotão e sendo perseguido pelo grande piloto Maneco Combacau, um dos precursores do kart no Brasil. 


O senhor se lembra de alguma passagem curiosa envolvendo o Senna?

Ele sempre procurava enfrentar os melhores pilotos, só para provar que conseguia andar na frente de qualquer um. Tinha um estilo de pilotagem bem agressivo e fazia questão de tirar os pilotos mais lentos de sua frente de qualquer maneira.

Ele (Senna) reduzia mais marchas do que os outros. Para não rodar na pista molhada, ele não freava. Ao invés de mudar da quarta marcha para a terceira, ele reduzia direto para a segunda marcha. Lembro que Senna chegou a fazer uma corrida de Fórmula 3 sem freios. Tanto é que, após a prova, ele pediu para que o mecânico colocasse a mão nos discos. Foi aí que ele (o mecânico) percebeu que a peça estava totalmente gelada.

O que o senhor acha dos pilotos que começam no kartismo de hoje?

A maioria dos pilotos não tem tanta dedicação e não leva o esporte a sério. Normalmente, quando o garoto chega ao kartismo, o pai acaba querendo controlar a carreira do menino, que acaba ficando confuso. Além disso, a cobrança é muito grande, pois os pais querem que o filho vença tudo. O problema é que os pais interferem muito na vida dos garotos e eles (os pilotos) acabam ficando para trás. Aí, eles acabam desaparecendo. E isso acontece com muita freqüência.



FONTE PESQUISADA

MATSUBARA, Vitor. Entrevista: Lucio Pascoal, ex-preparador de motores de Senna. Disponível em: <http://quatrorodas.abril.com.br/grid/noticias/reportagens/entrevista-lucio-pascoal-gascon-ex-preparador-motores-senna-224598_p.shtml>. 12 de setembro 2012.



Fotos Ayrton Senna com Lúcio Pascoal – Tchê – Imagens – Photos – Pictures – Kart - Images





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