segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Nos Tempos do Kart



ÉPOCA DE APRENDIZAGEM

TEMPOS DO KART

Porque o Ayrton era fanático por kart, Milton Guirado da Silva resolveu se transformar em um pai-projetista e construiu um kartinho para ele. Foi o brinquedo que, com o passar dos anos, acabaria se transformando no lado mais sério da vida do piloto.
Senna pilotou aquele kart até os 9 anos, quando o pai lhe comprou um kart oficial. Era muito bonito e fora feito para o Emerson Fittipaldi, já com freios dianteiros. Quando fez 13 anos, Milton levou Ayrton para competir na categoria de estreantes e novatos de kart, o Torneio de Inverno, em Interlagos, SP. Ganhou as duas provas e o torneio de estréia.
Mas, antes disso, ainda aos 9 anos, Ayrton competiu em uma prova amistosa de rua, em Campinas, SP. O pai não esquece que foram ele e o filho que tremeram naquele dia – se é que algum dia Becão tremeu.
Eram 30 kartistas, todos mais velhos que Ayrton, e o que deixou Milton de cabelo em pé foi o filho tirar o número 1 no sorteio das posições de largada. “Fiz tudo para ele não entrar na pista. Retirei a inscrição e guardei o kart. Mas a insistência dele foi tamanha que acabei concordando, só que com uma exigência: não sair na pole position, e sim em ultimo ”, mas também perdeu essa parada.
Eram 40 voltas. Ayrton largou na frente e foi mantendo a liderança, enquanto o pai nervoso torcia pra a corrida terminar. Já estava na 35ª voltas e os demais pilotos aumentavam a pressão sobre o menino, mas ele nem tomava conhecimento. Seguia firme, acertando as tomadas, fechando a porta e fazendo o coroa sofrer. De repente, num trecho complicado, Milton ouviu um estrondo, a poeira levantou e Ayrton sumiu. O pai partiu correndo para o local, pensando: “Mataram o moleque”. Mas foi só um susto. “Quando cheguei na curva, Becão já estava de pé, sacudindo a poeira e olhando feio para o garoto que o havia tirado da pista”, lembra perfeitamente o pai de Ayrton Senna.
Milton da Silva fala que Ayrton tinha muita iniciativa. Fez 18 anos e, no dia seguinte, foi tirar a habilitação. Foi ele quem descobriu e contratou o Tchê, seu mecânico nos tempos de kart.
Lucio Pascual Gascón, o Tchê por extenso, um mestre no preparo de kart, acompanhou a primeira vitória de Ayrton da Silva – na época ainda não assinava Senna – no kart, em 1º de julho de 1974, às 15h00, na corrida de novatos, em Interlagos. Tchê, espanhol de Segóvia, foi quem descobriu no menino Ayrton a vocação de grande campeão.
Ele lembra em detalhes a primeira vez que viu Ayrton. Foi na tarde de 26 de junho de 1974 que aquele menino de 14 anos bateu no balcão da pequena oficina de Tchê, na rua Tabajara, no bairro de Mooca, em São Paulo.
“Era um pirralho franzino, desajeitado, mas objetivo, e foi direto ao assunto”, resumo Tchê, garantindo que havia alguma coisa de especial naquele moleque. Numa quase ordem, disse ao preparador que precisava que o mecânico arrumasse imediatamente o seu motor quebrado. Tchê nunca entendeu porque varou duas madrugadas seguidas para entregar o motorzinho ao freguês petulante. Aprontou o motor e vibrou com aquela corrida de Ayrton, que, largando em 3º, chegou à vitória sem suar.
Tchê guardava tudo que lembrava Ayrton Senna. Ou o que sobrou do assalto à oficina em 1991. Levaram troféus e taças, mas ficou o que ele considera a maior relíquia de Senna: a carta do próprio punho em que Ayrton confidencia as corridas européias de kart.
Uma das grandes frustrações do preparador foi não ter acompanhado Ayrton nos Mundiais de Kart de Portugal e Bélgica, os quais Ayrton, por pouco não faturou. Para Tchê, ele perdeu nas duas vezes porque lhe faltou um chefe de equipe. A DAP-Parrilla, a quem a Federação Brasileira de Kart pediu que apoiasse Ayrton, era somente a fábrica que fornecia o equipamento. E, por ser italiana, não estava habilitada a interceder por um piloto brasileiro no apoio extrapista. Como Ayrton sofreu penalizações e toques nos dois campeonatos, ficou sem representante de defesa.

FONTE: revista Racing Especial – Anuário – Nº 315

Ano: 2013

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