SEX, 25 DE JANEIRO DE 2013 15:52 /
ATUALIZADO - QUA, 30 DE JANEIRO DE 2013 06:52POR: CNBB
Pai de Ayrton Senna tem essa prática de trabalho escravo em suas propriedades, leia mais: http://ayrtonsennavive.blogspot.com.br/2013/09/fazenda-do-pai-de-ayrton-senna-mantinha.html
No próximo dia 28 de janeiro,
o Brasil celebra o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. A data é uma
homenagem aos auditores fiscais do trabalho Erastóstenes de Almeida Gonçalves,
João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva, e o motorista Ailton Pereira
de Oliveira, assassinados no ano de 2004, quando apuravam denúncia de trabalho
escravo na zona rural de Unaí (MG). A data foi oficializada em 2009, no
entanto, essa luta é mais antiga. Desde o início dos anos 1970, a Igreja, com dom
Pedro Casaldáliga, e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), organismo vinculado à
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem denunciado a utilização
do trabalho escravo na abertura das novas fronteiras agrícolas do país.
A CPT foi pioneira no combate
ao trabalho escravo e levou a denúncia às Organização das Nações Unidas (ONU).
“A Igreja precisava tomar um posicionamento diante da realidade já muito
explícita de trabalho escravo no Brasil, o Governo negava que existia esse tipo
de situação”, disse o assessor da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da
Caridade, Justiça e da Paz, padre Ari Antônio dos Reis. Com isso, o Estado se
comprometeu em criar uma estrutura de combate a esse crime em território
brasileiro.
De acordo com a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho escravo apresenta características
bem delimitadas. Além das condições precárias, como falta de alojamento, água
potável e sanitários, por exemplo, também existe cerceamento do direito de ir e
vir pela coação de homens armados. Os trabalhadores são forçados a assumir
dívidas crescentes e intermináveis, com alimentação e despesas com ferramentas
usadas no serviço.
Por parte do Estado, existem
ações que podem auxiliar no combate ao trabalho escravo, como por exemplo, a
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438. A "PEC do Trabalho Escravo" é
considerada um dos projetos mais importantes de combate à escravidão, tanto
pelo forte instrumento de repressão que pode criar, mas também pelo seu
simbolismo, pois revigora a importância da função social da terra, já prevista
na Constituição.
A PEC 438 foi apresentada em
1999, pelo ex-senador Ademir Andrade (PSB-PA), e propõe o confisco de
propriedades em que forem encontrados casos de exploração de mão-de-obra
equivalente à escravidão, e/ou lavouras de plantas psicotrópicas ilegais, como
a maconha. A PEC 438/2001 define ainda que as propriedades confiscadas serão
destinadas ao assentamento de famílias como parte do programa de reforma
agrária.
A Igreja do Brasil está
atenta à realidade do tráfico humano. Prova disso, é que a Campanha da
Fraternidade de 2014 terá como tema “Fraternidade e Tráfico Humano” e lema “É
para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). “A partir do trabalho e da
reflexão dentro da CNBB, e do Conselho de Pastoral, foi aprovado para a
Campanha da Fraternidade de 2014, tratar do trabalho escravo, por sua vez,
ligado ao tráfico humano. Então nós vamos trabalhar na Campanha essas duas
propostas: a denúncia do tráfico de pessoas e trabalho escravo, e todas as
consequências que essas denúncias trazem para a Igreja”, explicou padre Ari.
De acordo com a secretária do
Grupo de Trabalho (GT) de Enfrentamento ao Tráfico Humano, da CNBB, irmã
Claudina Scapini, o trabalho escravo é uma entre as modalidades do tráfico
humano. “O trabalho escravo, a exploração sexual, o tráfico de órgãos, e a
adoção irregular, são, para nós, as grandes modalidades do tráfico de seres
humanos”, afirmou.
Segundo os últimos dados da
Campanha Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, os casos de trabalho escravo
em 2012, somaram 189, com a libertação de 2.723 trabalhadores, em todo o país.
Ainda de acordo com as informações, o número de trabalhadores resgatados do
trabalho escravo cresceu 9% em relação a 2011. Os maiores índices foram
encontrados na região Norte, onde foi registrada metade do número total de
trabalhadores envolvidos em situação de escravidão, e 39% dos que chegaram a
ser resgatados.
No ano de 2011, o estado do
Pará havia deixado de ser o campeão permanente do ranking entre os estados,
pelo número de trabalhadores envolvidos em situação de escravidão. Já em 2012,
voltou ao topo do ranking em todos os critérios: número de casos (50), número
de trabalhadores envolvidos (1244) e número de libertados (519). O Tocantins
vem logo em seguida com 22 casos, 360 envolvidos e 321 libertados (três vezes
mais que em 2011).
No estado do Amazonas, onde a
fiscalização passou a operar mais recentemente, foram identificados 10 casos, e
resgatados quase três vezes mais trabalhadores do que no ano anterior: 171
pessoas. Alagoas, em apenas um caso, passou de 51 para 110 trabalhadores
resgatados e o Piauí (com 9 casos), de 30 para 97.
Outro dado que chama a
atenção é o aumento da participação da região Sul na prática desse crime. Em
2011, foram registrados na região 23 casos, envolvendo 158 trabalhadores, sendo
que 154 foram resgatados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
De uma forma geral, os
números mostram que houve resgate de trabalhadores em 20 estados, o que
demonstra que essa prática criminosa persiste de norte a sul do nosso país,
mesmo diante das ações de órgãos do governo e de organizações sociais que lutam
pelo seu fim. A CNBB é aliada ao combate desse tipo de prática, fazendo o
chamamento ao diálogo de dioceses, paróquias, comunidades e entidades ligadas à
missão pastoral.
Persistem alguns desafios
para o Estado, a Igreja e a sociedade civil, voltados na perspectiva de
enfrentamento e superação desta situação. Destacam-se a fiscalização eficiente,
a mobilização social contra esta prática, a reforma agrária, superação da
miséria. A impunidade, ainda constante, precisa ser combatida. Na chacina
de Unaí, nove anos depois, nenhum dos nove réus indiciados foi julgado. Agora
são oito réus, pois Francisco Elder Pinheiro, acusado de ter sido o contratante
dos pistoleiros, morreu no último dia 7 de janeiro, aos 77 anos, vítima de um
Acidente Vascular Cerebral (AVC).
FONTE DE PESQUISA
Trabalho escravo no Brasil: ganância,
miséria e impunidade. Disponível em <http://www.cnbb.org.br/imprensa/noticias/11232-trabalho-escravo-no-brasil-ganancia-miseria-e-impunidade>
Acesso em: 21 de setembro 2013.
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