segunda-feira, 13
de fevereiro de 2012
Daniel Brito
Do CorreioWeb
Ayrton Senna e o amigo Américo Jacoto Junior
"Falta velocidade,
né?". Essa foi a frase mais marcante de Ayrton Senna em uma das
três vezes em que esteve em
Brasília. O tricampeão mundial era fanático
por aeromodelismo. Para qualquer lugar do mundo, ele levava um "avião
de brinquedo" na mala. Foi assim em 1991, primeira vez que veio à capital
federal. O convite partiu do Presidente da República Fernando Collor de Mello..
No final daquele ano, Collor
era bombardeado por denúncias de todos os lados. A imagem de político
carismático estava tão firme como prego na areia. Por isso ele buscava alguém
que servisse de alicerce para se manter no cargo até o final do mandato.
Na mesma época, Ayrton Senna
comemorava o tricampeonato da Fórmula 1. Era a pessoa mais popular do país na
época. Nem jogador de futebol era mais querido. O personagem perfeito
para salvar Collor do impeachement, apostava o presidente, que convidou
Senna para uma conversa no Palácio do Planalto, em dezembro de 1991.
O piloto fazia pouco caso das
pretensões de Fernando Collor. Queria mais era aproveitar as horas livres que
tinha entre a temporada 91/92. Há algum tempo, Senna não pilotava seu avião
aeromodelo. Já que passaria seis horas em Brasília, pensou em
"brincar" um pouco na cidade. Por intermédio do aeromodelista
paulista, Celso di Santi, pediu que alguém o recebesse em Brasília para mostrar
as pistas de aeromodelismo da capital federal. Com uma condição: ninguém poderia
saber da presença de Senna na cidade.
O deputado distrital,
atualmente em licença médica, Wigberto Tartuce, outro apaixonado pelo
esporte, foi o indicado para ciceronear Ayrton Senna em Brasília. O tricampeão
chegou por volta do meio-dia e seguiu direto para o Palácio do Planalto.
Conversou em reservado com Collor por volta de 45 minutos. Na saída, um pelotão
de fotógrafos e jornalista esperava Senna.
"Ele só sorriu para os
fotógrafos, pediu para eu ir devagar para não machucar ninguém com o
carro", lembra Tartuce. "Senna falou pouco. Sobre Fórmula 1 ele só
sorria, quando eu falava dessa ou daquela corrida. Ele era meio desconfiado, eu
acho", comenta.
Do Planalto, Tartuce e Ayrton
Senna seguiram para o final da L2 Sul, na maior pista de aeromodelismo de
Brasília. O piloto havia esquecido seu "brinquedo" no avião
particular. O jeito foi voar com um F 16 de Tartuce, motor japonês OS 91. Mas
tinha um problema. O controle do avião era feito para destros, e Senna era
canhoto. Era como se os pedais da McLaren estivessem trocados dentro do
cockpit.
"Ele reclamou. Disse que
não sabia controlar o aeromodelo com o controle invertido. Fez cara feia, mas
na hora que levantou vôo deu um show, mesmo com os comandos trocados",
recorda o deputado. O mundo podia explodir atrás dele que Senna não estava nem
aí. Fez as manobras mais radicais com o F 16, atingiu avelocidade
máxima do modelo, algo em torno de 189 Km/H . Na aterrisagem,
ele entregou o controle a Tartuce e exclamou:
- Falta velocidade, ne?
- Falta velocidade, ne?
Amizade
Um dos pedidos de Senna antes de desembarcar em Brasília era manter em sigilo a visita. "Ele gostou de mim. A gente não tinha conversas profundas, mas ele gostou de mim porque mantive em segredo sua presença por aqui", assegura Tartuce.
De acordo com os amigos mais
próximos de Senna, ele dificilmente mantinha uma amizade com pessoas
desconhecidas. Para o piloto, Tartuce era um desconhecido, que no começo da
década de 90 ainda não tinha pretensões políticas. "Se eu fosse deputado
distrital chamava Deus e o Mundo para tirar foto dele ao meu lado",
brinca. Mas Ayrton Senna simpatizou com seu cicerone em Brasília.
Um ano após a primeira
visita, o piloto veio ao Centro-Oeste para um evento e decidiu passar três
horas com seu aeromodelo na pista do final da L2 Sul, em Brasília. Deu um
motor YS 91 japonês a Tartuce de presente. O deputado guarda até hoje. Veio no
jatinho particular, ao lado do amigo inseparável Américo Jacoto Júnior. Trouxe
seu controle para canhoto e voou no céu de Brasília por três horas.
Neste dia, alguns
aeromodelistas tentaram puxar conversa, tirar fotos, mas Senna não dava
atenção. "Ele parecia obcecado pela velocidade. Vibrava com cada manobra,
o olho dele brilhava com aquela situação toda", comenta Tartuce.
Despedida
A terceira e última vez que
Ayrton Senna desembarcou em Brasília foi cinco meses antes de morrer. Seu avião
particular fez uma escala na capital federal e ele se encontrou com Wigberto
Tartuce no aeroporto. Os dois conversaram rapidamente sobre aeromodelismo e
marcaram um encontro.
"Quando eu tiver um
folguinha volto aqui para a gente brincar um pouco".
Não voltou...
Fonte: http://www.correioweb.com.br
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