sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Alain Prost Lembra "Batalha Humana" Com Senna: "Eu Era A Motivação Dele"

04/05/2014 10h02 - Atualizado em 04/05/2014 10h19
Esporte Espetacular

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Para o tetracampeão francês, a rivalidade com o piloto brasileiro foi importante para que ambos buscassem superar seus limites dentro das pistas da Fórmula 1


Por Marcelo Courrege e Rafael Lopes*Barcelona, Espanha


De companheiros de equipe a inimigos declarados, Ayrton Senna e Alain Prost protagonizaram uma das maiores rivalidades da história do esporte mundial. Os dois pilotos estavam dispostos a tudo para dominar a Fórmula 1, e travaram duelos espetaculares nas pistas da categoria durante os anos 1980 e início dos 90. Quando o francês resolveu se aposentar, os desafetos optaram pela trégua. No fim, acabaram percebendo que dependiam um do outro para alcançar níveis cada vez mais elevados.

Em entrevista exclusiva ao Esporte Espetacular (clique no vídeo acima e confira a reportagem completa), por ocasião dos 20 anos da trágica morte do piloto brasileiro, no GP de San Marino de 1994, o francês de 59 anos afirma que o clima de competição constante foi fundamental para ambos. Para Prost, sua presença se tornou a “motivação” que Senna precisava para superar seus limites na pista.

- Eu acho que a rivalidade teve início quando ele começou a se interessar por corridas de automóveis. A ver que eu estava lá. Eu era o objetivo do Senna. Desde o início ele me disse uma, duas, várias vezes que eu era a motivação dele. Então, tudo o que aconteceu na pista era de verdade algo que ele já tinha programado, pensado, havia muito tempo. De uma certa maneira, ele se atirou dentro dessa rivalidade, que acabou naquele pódio de 1993 (na Austrália, com Senna em 1º e Prost em 2º), quando eu parei de pilotar. Com isso, ele perdeu a motivação para guiar.

Alain Prost falou da rivalidade com Ayrton Senna (Foto: Reprodução TV Globo)

A Fórmula 1 se destacou, desde o início, como a categoria mais competitiva do automobilismo, dando origem a rivalidades marcantes, como Juan Manuel Fangio contra Stirling Moss e James Hunt contra Niki Lauda. Questionado se a concorrência com Senna foi a maior da história da categoria, Prost afirma que a relação dos dois atingiu um patamar inédito, transformando-se em uma verdadeira “batalha humana”.

- Eu acho que sim. Há outras rivalidades, mas não tão intensas e em um período em que tantas pessoas tenham visto. A nossa batalha foi uma batalha humana, de personalidades, de características, de pilotos com qualidades claras e bem diferentes. Hoje eu percebo, mas na época eu não percebia isso tudo que eu te disse.

Ayrton Senna e Alain Prost se tornaram inimigos declarados quando dividiam os boxes da McLaren (Foto: AFP)

Clima de inimizade

Após um convívio amistoso na temporada de 1988, que marcou a estreia de Ayrton na McLaren, a relação do brasileiro com o francês, que à época era dono de dois títulos mundiais com a escuderia de Woking, azedou de vez durante o GP de San Marino de 1989, segunda etapa do campeonato. Senna ignorou um acordo firmado com o companheiro ao ultrapassá-lo após a segunda largada da corrida disputada no circuito de Ímola. A partir daí, um clima de inimizade latente tomou conta dos dois pilotos.

A situação se tornou insustentável após o GP do Japão de 1989, quando Prost provocou uma batida em Senna para garantir seu terceiro título. Senna conseguiu voltar para a pista com a ajuda dos fiscais de prova e venceu a corrida, mas o francês recorreu ao então presidente da FIA, Jean-Marie Balestre, para desclassificar o brasileiro e assegurar o campeonato. Na decisão do ano seguinte, também em Suzuka, Ayrton decidiu “dar o troco” no rival, que então já corrida pela Ferrari. Logo na primeira curva, o piloto da McLaren forçou um acidente para acabar com as chances de Alain.

- O pior (momento com Senna) foi o Grande Prêmio do Japão de 90. Eu perdi o campeonato na largada e o fato de ter feito e reconhecido no ano seguinte que aquilo foi de propósito. Eu sabia que foi de propósito, mas ouvir aquilo foi muito difícil pra mim.

Em 1990, Suzuka foi palco do famoso 'troco' de Ayrton em Prost, que garantiu o título para o brasileiro (Foto: Getty Images)

A reconciliação

No encerramento da temporada de 1993, que teve Prost conquistando seu quarto título e Senna como vice-campeão, um cumprimento entre os eternos rivais no pódio do GP da Austrália mostrou que os ressentimentos haviam sido superados. Em Adelaide, a relação mais explosiva do automobilismo mundial finalmente ganhava um desfecho amigável. Quando a carreira de Ayrton foi interrompida de forma precoce, no fatídico GP de San Marino de 1994, a relação já era de amizade e confiança. O brasileiro passou a telefonar para Prost com frequência, e os dois trocavam confidências e impressões sobre os novos rumos da Fórmula 1.

- O melhor momento foi talvez o pódio de 93, e todo esse período após 93 até, infelizmente, o acidente de Ímola, quando estávamos bem próximos. Então, verdadeiramente, houve um período quando eu corria e um período diferente depois. Essa é a melhor lembrança. Eu não guardo muitas lembranças das corridas, guardo essas lembranças boas com ele.

Alain Prost e Ayrton Senna fazem as pazes no GP da Austrália de 1993 (Foto: Getty Images)

O documentário "Senna"

Prost não esconde mágoa com abordagem do documentário 'Senna' (Foto: Divulgação)

Prost não esconde a mágoa com o documentário “Senna”, dirigido por Asif Kaspadia e lançado em 2010. O filme, que retrata a vida e a carreira do tricampeão mundial a partir de imagens de arquivo e depoimentos, obteve sucesso de bilheteria e conquistou diversos prêmios. Entretanto, o francês acredita que a obra o retrata como “vilão”, enquanto Senna é mostrado como “mocinho”.

- Eu não quero me alongar muito, mas eu não gostei nada desse filme. Porque há muitas coisas que eu não teria feito. Em primeiro lugar, o filme não é justo. Em segundo lugar, e ainda mais importante, há coisas que não estão na história, claramente, no fim do filme. Eu passei um tempão, oito horas gravando para explicar algumas coisas. A gente não faz mais do que um filme assim na vida. E eu acho que dava pra ter feito muito melhor. Não apenas pra mim, mas para o Ayrton também.
Após superar as brigas do passado, o ex-piloto mantém até hoje uma boa relação com a família Senna. Prost é um dos principais colaboradores do Instituto Ayrton Senna, fundado após a trágica morte do brasileiro, aos 34 anos, na mesma pista de Ímola que presenciou o estopim da rivalidade que marcou para sempre a Fórmula 1.

*Colaborou Túlio Moreira, do GloboEsporte.com, Rio de Janeiro


FONTE PESQUISADA

Esporte Espetacular da TV Globo (04/05/2014)

Alain Prost lembra "batalha humana" com Senna: "Eu era a motivação dele". COURREGE, Marcelo; LOPES, Rafael. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/programas/esporte-espetacular/noticia/2014/05/alain-prost-lembra-batalha-humana-com-senna-eu-era-motivacao-dele.html>. Acesso em: 01 de agosto 2014.


FOTOS AYRTON SENNA E ALAIN PROST - RON DENNIS - IMAGENS - PHOTOS - PICTURES - IMAGES 
















 

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