Enterro de Senna
evidenciou status de herói nacional
POR DANIEL MÉDICI
grid.blogfolha.uol.com.b
05/05/2016 15:21
Se você tem 30 anos ou mais e
é brasileiro, é bastante provável que se lembre de onde estava quando soube da
morte de Ayrton Senna. E deve se recordar bem da suntuosidade de seu cortejo
fúnebre e funeral, que hoje completa 22 anos.
A namorada de Ayrton, Adriane Galisteu, com uma amiga no enterro
As honras recebidas foram
equivalentes à de um chefe de Estado —carreata, velório aberto ao público, com
filas imensas de populares para ver de perto por alguns segundos o caixão.
Multidões se amontoavam ao lado das avenidas para ver o caminhão dos bombeiros
passar em direção ao cemitério. Segundo a biografia escrita por Ernesto
Rodrigues, poucas vezes a rede Globo passou tanto tempo em uma transmissão ao
vivo sem colocar no ar um único intervalo comercial.
A comoção que tomou conta do
Brasil (e foi compartilhada por pessoas em boa parte do mundo) é indicativa de
que, além de um esportista extremamente bem-sucedido, Senna havia se tornado um
herói nacional.
Há um consenso de que o
piloto brasileiro surgiu num momento em que o Brasil passava por um período de auto-estima incrivelmente baixa. Eram os anos 1980, a inflação galopava,
a seleção brasileira não vencia uma Copa do Mundo havia mais de uma década
(isso parecia uma eternidade, na época) e a política saía aos trancos e
barrancos de uma ditadura militar.
Reprodução de página do
jornal francês "L´Équipe", que presta homenagem ao piloto brasileiro
Ayrton Senna na edição de 2 de maio de 2014: \'Inesquecível\'
Por: Reprodução 02/05/2014
No meio disso, aparecia um
jovem usando um capacete amarelo, verde e azul —que ele havia adotado após um
mundial de kart, no qual os competidores foram obrigados a correr com as cores
de seus respectivos países— ganhando todos os campeonatos ingleses de base que
disputava.
Foi num dos grandes picos de
anticlímax da política nacional, 21 de abril de 1985, que Senna venceu sua
primeira prova de F-1. No mesmo dia, morria Tancredo Neves em um hospital da
capital paulista.
O ato de empunhar a bandeira
brasileira a cada vitória também surgiu por acaso. No dia anterior anterior do
GP da Detroit de 1986, a
seleção brasileira havia sido eliminada pela França de Platini na Copa do Mundo
do México. Foi a deixa para os mecânicos da Renault, que fornecia motores à
Lotus, alugassem o brasileiro. Após a vitória, ao encontrar um torcedor com a
bandeira na beira da pista, a pediu emprestada (nunca a devolveu) para reagir à
tiração de sarro de que fora vítima.
A TV brasileira não
transmitiu ao vivo a prova. Mas o gesto se repetiu. Vieram campeonatos e, com a
sorte de Piquet já em declínio, Senna passou a ser a personificação do Brasil
que vencia os gringos mundo afora.
Não impressiona, portanto,
que poucas horas depois da batida fatal no GP de San Marino, o sentimento luto
tenha se espalhado como um rastilho de pólvora pelo país. E não deixa de ser uma
coincidência estranha: logo após sua morte, o plano Real foi implantado, as
primeiras eleições nacionais foram realizadas após o impeachment de Collor e o
Brasil conquistou sua primeira Copa do Mundo desde 1970.
Os jogadores do tetra
comemoraram estendendo, no campo, uma faixa em homenagem a Ayrton.
Os pilotos Emerson Fittipaldi, Alain Prost, Christian
Fittipaldi, Jackie Stewart, Gerhard Berger, Rubens Barrichello, Thierry
Boutsen, Raul Boesel, Michele Alboreto, Pedro Lamy e Damon Hill fazem o cortejo
fúnebre ao lado do caixão de Ayrton Senna no cemitério do Morumby, em São Paulo Por :
Eduardo Knapp - 5.mai.94/Folhapress 05/05/1994
Funeral do piloto brasileiro
Ayrton Senna no cemitério do Morumby, em São Paulo Por :
mai.94 30/04/2014
Multidão acompanha cortejo
fúnebre de Ayrton Senna na avenida 23 de Maio, em São Paulo ; cerca de 50
mil pessoas estiveram no velório realizado na Assembléia Legislativa Por: Jorge
Araújo - mai.94/Folhapress
Multidão acompanha cortejo
fúnebre de Ayrton Senna pelas ruas de São Paulo Por: Matuiti Mayezo -
4.mai.94/Folhapress 04/05/1994
Multidão acompanha cortejo
fúnebre do piloto na região do Anhangabau, no centro de São Paulo Por: Luiz
Carlos Murauskas - 04.mai.1994/Folhapress
Equipe de resgate dá os
primeiros socorros, ao lado de seu carro destruído, após batida contra a parede
da curva Tamborelo durante o GP de San Marino em Imola (Itália) Por: 1.mai.94
Reprodução de TV do acidente
fatal do piloto Aytron Senna Por: 1.mai.94
Imagem mostra exato momento
do acidente fatal do piloto Ayrton Senna, no GP de San Marino, em Imola, na
Itália Por: 1.mai.94/Reuters 01/05/1994
Momentos antes da prova, o
piloto Ayrton Senna se concentra em seu carro na Williams Por: 01.mai.1994/AFP
O piloto brasileiro Ayrton
Senna faz sua primeira corrida pela escuderia Williams, no GP Brasil, na
abertura da temporada da F-1 de 1994 em Interlagos Por :
Pisco Del Gaiso - 27.mar.94/Folhapress 27/03/1994
FONTE PESQUISADA
MÉDICI, Daniel. Enterro de Senna evidenciou
status de herói nacional. Disponível em: <http://grid.blogfolha.uol.com.br/2016/05/05/enterro-de-senna-evidenciou-status-de-heroi-nacional/>.
Acesso em: 05 de maio 2016.
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