21.03.10 - Por Vitor Matsubara
Quatro Rodas - quatrorodas.abril.com.br
Talvez muita gente que gosta
de automobilismo não conheça Lucio Pascoal Gascon. Mas quem acompanhou de perto
a carreira de Ayrton Senna ou tem algum envolvimento com o mundo do kartismo
respeita muito este simpático senhor de fala mansa, conhecido no meio
simplesmente como “Tchê”.
Nascido na Espanha, Pascoal
veio para o Brasil em 1960 em busca de emprego. Não demorou muito para começar
a trabalhar na preparação de motores, aprendendo bastante com Silvano Poz, um
dos pioneiros do kartismo brasileiro. Mas foi em 1º de junho de 1974 que a vida
de Lucio começou a mudar. Naquele dia, ele teve o primeiro contato com um
jovem – e talentoso – piloto de gênio forte chamado Ayrton Senna da Silva.
Em entrevista concedida a
GRID durante um evento de karts antigos em Atibaia, interior de São Paulo, Tchê
revelou passagens curiosas e algumas peculiaridades da vida de Senna,
considerado por ele como o melhor piloto com quem já trabalhou.
Ayrton e Tchê na época do kart
Quando o senhor chegou ao Brasil?
Eu vim para o Brasil em 1960.
Eu era ferramenteiro na Espanha e decidi vir para cá em busca de um emprego na
área em que estudei (engenharia). Logo comecei a preparar motores e, naquela
época, trabalhava dia e noite sem descanso. Tive um professor muito bom chamado
Silvano Poz, que foi um dos pioneiros do kartismo no Brasil. Eu já tinha um
pouco de conhecimento, mas foi com ele que aperfeiçoei minha técnica.
O senhor trabalhou na preparação de motores de carros
ou somente de karts?
Ajudei na preparação de
carros para a Mil Milhas Brasileiras (uma das provas de longa duração mais
tradicionais do automobilismo brasileiro nas décadas de 60 e 70). Quando
entramos na pista, as outras equipes riram de nós. Os carros não tinham muitas
mudanças: eram apenas veículos de passeio com peso aliviado e os equipamentos
de segurança para as pistas. Mesmo assim, vencemos a prova de 1965 com um
Volkswagen Sedan, na categoria de até 1.300 cilindradas.
Além de Senna, quais outros pilotos passaram por suas
mãos?
Posso citar alguns, como
Chico Serra, Maurizio Sala, Emerson Fittipaldi, Mauricio Gugelmin e Roberto
Pupo Moreno.
O senhor diria que Ayrton Senna foi o melhor piloto
com quem já trabalhou?
Sim. Trabalhei com muitos
pilotos bons, mas nenhum deles era tão dedicado quanto ele. Na pista, ele fazia
o possível para tirar um milésimo de segundo por volta. Como todo piloto, ele
errava bastante no começo, rodava e saía da pista. Mas ele começou a treinar
bastante e sempre perguntava se podia fazer alguma coisa nos ajustes, mesmo que
a sugestão dele acabasse não funcionando. Era um cara que montava motores
sozinho, media a pressão dos pneus e fazia todos os ajustes por conta própria.
Era o primeiro piloto a entrar na pista pela manhã e o último a voltar para os
boxes. Senna era muito dedicado.
Conte-nos um pouco mais sobre o dia-a-dia com Ayrton.
Ele (Senna) treinava muito.
Corria todo dia, com chuva ou sol, e entendia bastante de mecânica. Após cada
volta, parava e mexia no kart para ver o que estava acontecendo. E não deixava
ninguém mais mexer no kart dele. Ele também não admitia que falassem com ele
enquanto estava trabalhando no carro. Após a corrida, podíamos discutir sobre a
corrida, mas durante os treinos ninguém podia conversar com ele.
Esta foto de autoria de Miguel Costa Jr. mostra Ayrton Senna
andando de Superkart 200cc em Interlagos 1982, liderando o pelotão e sendo
perseguido pelo grande piloto Maneco Combacau, um dos precursores do kart no
Brasil.
O senhor se lembra de alguma passagem curiosa
envolvendo o Senna?
Ele sempre procurava
enfrentar os melhores pilotos, só para provar que conseguia andar na frente de
qualquer um. Tinha um estilo de pilotagem bem agressivo e fazia questão de
tirar os pilotos mais lentos de sua frente de qualquer maneira.
Ele (Senna) reduzia mais
marchas do que os outros. Para não rodar na pista molhada, ele não freava. Ao
invés de mudar da quarta marcha para a terceira, ele reduzia direto para a
segunda marcha. Lembro que Senna chegou a fazer uma corrida de Fórmula 3 sem
freios. Tanto é que, após a prova, ele pediu para que o mecânico colocasse a
mão nos discos. Foi aí que ele (o mecânico) percebeu que a peça estava
totalmente gelada.
O que o senhor acha dos pilotos que começam no
kartismo de hoje?
A maioria dos pilotos não tem
tanta dedicação e não leva o esporte a sério. Normalmente, quando o garoto
chega ao kartismo, o pai acaba querendo controlar a carreira do menino, que
acaba ficando confuso. Além disso, a cobrança é muito grande, pois os pais
querem que o filho vença tudo. O problema é que os pais interferem muito na
vida dos garotos e eles (os pilotos) acabam ficando para trás. Aí, eles acabam
desaparecendo. E isso acontece com muita freqüência.
FONTE PESQUISADA
MATSUBARA, Vitor. Entrevista: Lucio
Pascoal, ex-preparador de motores de Senna. Disponível em: <http://quatrorodas.abril.com.br/grid/noticias/reportagens/entrevista-lucio-pascoal-gascon-ex-preparador-motores-senna-224598_p.shtml>.
12 de setembro 2012.
Fotos Ayrton Senna com Lúcio Pascoal – Tchê
– Imagens – Photos – Pictures – Kart - Images
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