Parte 1
(Depoimento de Benedito José
de Souza - Padrinho de Ayrton)
A cara do Becão iluminou-se
quando viu o papagaio cantar e repetir o refrão de uma velha toada do Pantanal:
♫ ...Chorava o pai, chorava a mãe,
Chorava o filho
Com pena do papagaio...♫
E logo quis comprar o bichinho. Bem que eu tentei, mandei o dono do papagaio fazer preço, mas era bicho de estimação do caboclo e não deu negócio.
Me senti um padrinho diminuído na frente do afilhado e tentei consolá-lo
lembrando que a gente estava indo explorar o alto Araguaia durante nossas férias.
Eu tinha um prazer especial em ensinar o Beco a caçar e pescar desde os seus 10 anos. Ele foi um afilhado que ganhei como fruto da amizade feita com o Miltão, o Milton da Silva, pai dele, no fim dos anos 50. A gente se conheceu numa caçada de capivara e quase ficamos inimigos em vez de compadres. Eu dei um tiro numa capivara, mas o chumbo ricocheteou e acertou na perna direita do Miltão. Pegou de raspão, só queimou a calça e deixou a canela dele vermelha.
Tempos depois, quando o Miltão me surpreendeu com o convite para ser seu compadre, achei que ele não tinha se esquecido do tiro e perguntei:
- Eu vou ter que ir para São Paulo?
- Claro. Ou vai querer que eu traga a criança aqui?
♫ ...Chorava o pai, chorava a mãe,
Chorava o filho
Com pena do papagaio...♫
E logo quis comprar o bichinho. Bem que eu tentei, mandei o dono do papagaio fazer preço, mas era bicho de estimação do caboclo e não deu negócio.
Me senti um padrinho diminuído na frente do afilhado e tentei consolá-lo
lembrando que a gente estava indo explorar o alto Araguaia durante nossas férias.
Eu tinha um prazer especial em ensinar o Beco a caçar e pescar desde os seus 10 anos. Ele foi um afilhado que ganhei como fruto da amizade feita com o Miltão, o Milton da Silva, pai dele, no fim dos anos 50. A gente se conheceu numa caçada de capivara e quase ficamos inimigos em vez de compadres. Eu dei um tiro numa capivara, mas o chumbo ricocheteou e acertou na perna direita do Miltão. Pegou de raspão, só queimou a calça e deixou a canela dele vermelha.
Tempos depois, quando o Miltão me surpreendeu com o convite para ser seu compadre, achei que ele não tinha se esquecido do tiro e perguntei:
- Eu vou ter que ir para São Paulo?
- Claro. Ou vai querer que eu traga a criança aqui?
Me deu uma tremedeira. Eu, caipira do serrado, morador de Goiânia, que só viajava pelas matas do Alto Araguaia, ir a São Paulo... Só podia ser vingança do Miltão. Mas fui, que afilhado não se enjeita. Porém não foi daquela vez que ficamos compadres, porque a crisma era da Viviane, e como homem não crisma menina foi a Wanda, minha mulher, quem ficou a madrinha. Mas em plena cerimônia o Miltão bateu no meu ombro e falou disfarçado no meu ouvido:
- Calma que o teu afilhado vem aí.
No momento não entendi, mas a Wanda matou a charada na hora. Naquela altura, o Beco já tinha sido encomendado e seria o meu futuro afilhado.
Foi comigo que o Ayrton aprendeu, nas férias, muito de pescaria e caçada e , lógico, de travessuras que eu ajudei ele a fazer.
A viagem de mil quilômetros de Goiânia à cidade de Casina, que a gente fazia de avião, era de suspense para o menino. Um tempo de expectativa, porque para ele bom mesmo era navegar, pilotando a lancha nos 150 quilômetros de Araguaia, de Casina até o acampamento na ponta da ilha do Bananal.
Lembro das bravatas do Beco como se fosse hoje. Ele tinha um jeito de deixar a gente feliz. Hoje a saudade dele às vezes beira o pranto.
Tinha vez que ele se aborrecia comigo porque eu não lhe dava as linhas de pescar acima do número 50. E com as que ele tinha jamais chegaria à proeza de tirar das águas do Araguaia um piratinga de 2,12 metros, pesando 121 quilos, como me viu fazer. Um peixe daqueles só se arranca do rio com linha grossa, forte, número 100. Era um cuidado aqui do velho Dito, para o Beco não se machucar se fisgasse um peixe muito bravo. Até 10 quilos a linha agüentava, depois ela partia e não havia perigo para o menino.
Quanto a dirigir eu não fazia restrições. Ele guiava os carros, pilotava as lanchas do acampamento, mas, por recomendação severa e definitiva do pai, tinha que ficar longe dos ultraleves. O Miltão sabia das minhas proezas com aquele mosquitão. Com ele vivi grandes aventuras e sustos ainda maiores. Adorava escoltar os grandes barcos. Araguaia de ultraleve com flutuador. Pousava na água e decolava, exibindo aos navegantes a perícia que, porém não me livrou de quatro quedas. No ultimo tombo, machuquei a região da fala, o que me deixou meio gago e rindo desse jeito, meio aos socos.
O Beco adorava o jipe e adorava a Kombi nas idas e voltas ao acampamento. Num retorno a Goiânia tremeu quando viu a polícia à margem da estrada e me pediu que pegasse a direção. Eu achei graça, porque a policia não era de trânsito, e ainda fiz questão de exibir orgulhoso aos soldados a competência do meu afilhado ao volante.
Nadar era outro prazer que o Beco curtia. Certa vez Ayrton mergulhou por horas nas águas transparentes do Araguaia até laçar um motor de canoa que o Fidélis, outro afilhado meu, tinha deixado cair no rio.
Olha, aquele menino sabia fazer de tudo. O Ayrton era capaz de consertar um carburador de motor de popa, que eu não conseguia em duas horas, em 30 minutos. Até caçar porco-do-mato ele sabia. E não tinha medo. Uma vez fomos fazer uma caçada de catitu, uma espécie de javali menor que só sai da toca de dois modos: Ou a gente usando um espelho para refletir o sol no buraco, ou com mato molhado de urina.
O Becão, moleque, preferiu do segundo modo. Fez uma touceira de ramos, mijou nela e colocou na toca. Mas não funcionou. Ele achou que eu estava lhe passando um trote. O meu capataz foi buscar o espelho do carro e brincou com o Beco: - Mijo da cidade é Fraco pra tirar catitu da toca.
Porém, bastou dirigir o reflexo do sol para o buraco para que os dois porcos saltassem dali. O Becão, esperto, armou a espingarda e deu um tiro certeiro no primeiro, mas o segundo catitu escapou. Depois do abate – Lembro como se fosse hoje -, o menino ficou um tempão olhando o animal morto e me pareceu arrependido da façanha.
O Beco era um companheirão.
Numa das voltas do Araguaia para casa, em Goiânia, paramos em Marianópolis, na
Belém-Brasília, para almoçar. Eu tinha dinheiro para a gasolina, mas como
estava com oito sobrinhos além do Beco, ia faltar dinheiro.
Fiquei meio sem jeito de pedir fiado, mas nem precisou. Como tínhamos um saco de abacaxis fresquinhos no carro, o Beco propôs completar o pagamento da comida com frutas. O dono do restaurante topou e nós tivemos um almoção.
No final das férias de 1973 na volta de Goiânia, comecei a fazer planos de trocar as barracas do acampamento por uma casa. Achei que devíamos ter mais conforto nas nossas férias. Escolhi o local bem na ponta da Ilha do Bananal, perto da cidade de Lago Grande, junto da foz do Rio Beleza. Fiquei acalentando o sonho, até que em 1994 a morada ficou pronta. Tem todo o conforto de que um homem precisa, inclusive pista para avião e um requinte especial: um quarto com uma placa que diz “Apartamento do Beco”. Uma peça de 25 metros quadrados, vedada contra escorpião, lagartixa, mosquitos e outros bichos, construída especialmente para meu afilhado. Pena que ele não teve tempo de conhecer. Mas o Apartamento do Beco continua e vai ficar lá, intacto, às margens do Rio Beleza.
Fiquei meio sem jeito de pedir fiado, mas nem precisou. Como tínhamos um saco de abacaxis fresquinhos no carro, o Beco propôs completar o pagamento da comida com frutas. O dono do restaurante topou e nós tivemos um almoção.
No final das férias de 1973 na volta de Goiânia, comecei a fazer planos de trocar as barracas do acampamento por uma casa. Achei que devíamos ter mais conforto nas nossas férias. Escolhi o local bem na ponta da Ilha do Bananal, perto da cidade de Lago Grande, junto da foz do Rio Beleza. Fiquei acalentando o sonho, até que em 1994 a morada ficou pronta. Tem todo o conforto de que um homem precisa, inclusive pista para avião e um requinte especial: um quarto com uma placa que diz “Apartamento do Beco”. Uma peça de 25 metros quadrados, vedada contra escorpião, lagartixa, mosquitos e outros bichos, construída especialmente para meu afilhado. Pena que ele não teve tempo de conhecer. Mas o Apartamento do Beco continua e vai ficar lá, intacto, às margens do Rio Beleza.
Parte 2
Recém-casados,
Milton da Silva e sua mulher, Neide Senna da Silva passeavam por São Paulo
traçando planos para o futuro. De repente, Milton para diante de uma vitrine de
uma loja onde encontrava-se um Kart exposto e diz para a mulher: "Quando
nós tivermos um filho, eu vou fazer um igualzinho para ele."
Com o primeiro filho do
casal, Milton não poderia pôr em prática o seu desejo. Nasceria uma garota,
Viviane, que se formaria em psicologia.
No dia 21 de março de
1960, porém, o casal tem seu segundo filho: Ayrton. Mesmo sendo homem, Milton
continuou achando que não seria desta vez que construiria o sonhado kart. O
garoto apresentava problemas de coordenação motora, como afirmou sua mãe:
"Eu não acreditava que ele fosse normal. Era muito difícil para ele
conseguir subir até uma escada com mais de três degraus." Os pais resolveram
fazer um eletro encefalograma no garoto que acabou revelando uma criança
normal.
Ayrton Senna e a mãe Neyde
Parte 3
(Depoimento de Neyde Senna da Silva - Mãe de Ayrton)
“Ainda
fazia um calor de angustiar naqueles dias de outono de 1960. (Neyde Senna da
Silva – Mãe de Ayrton) Eu me preparava para ir me deitar quando senti que
alguma coisa de anormal estava acontecendo comigo: me assustei com o
incontrolável desejo de urinar. Na época ainda havia muitos tagus e a gente não
tinha grandes informações. Tanto que confundi o rompimento da bolsa com a minha
micção.
Eram 9h30 da
noite do dia 20 de março de 1960. Contei ao meu marido da perda exagerada de
liquido e do princípio de cólicas. Tentamos avisar o doutor Carizzatto, velho
medido da nossa família e que já tinha assistido minha mãe no meu nascimento,
mas não o encontramos. Foi a Antonieta, experiente parteira do médico, que
afinal diagnosticou o rompimento da bolsa, quem ordenou que eu fosse
imediatamente para o hospital e maternidade Promater. Enquanto partíamos do bairro
do Tucuruvi (zona norte de São Paulo), Antonieta conseguiu tirar o medido de
uma mesa de pôquer – numa noite de sorte – para me atender.
Como eu já era
mãe de uma menina, a Viviane, torcia por um filho. Tudo correu bem e às 2h45 do
dia 21 de março de 1960 Ayrton nasceu. Foi o único dos meus três filhos que
veio ao mundo de um parto seco (a bolsa já havia se rompido) e, que ironia,
justamente ele que seria um campeão do mundo especialista em vencer no
molhado.”
O primeiro
comentário sobre o meu filho foi feito pela Eunice, minha cunhada, e ele era
pouco animado. Ela me disse:
- Zazá (meu apelido em casa), você ganhou um menino. É homem o seu filho.
E sem tomar nem fôlego me alertou:
- Olha, não quero te assustar, mas ele é feio, muito feinho.
Eu tive que rir, nunca esqueci a sinceridade dela e fiquei curiosa para
ver o meu filho. Olhei o neném, todo enrugadinho, com o rosto semi-encoberto e
só com uma boca à mostra, que me pareceu enorme, mas não tão feio.
O nome foi outro parto. O Ayrton saiu de uma lista de mais de 20
sugestões e só se chegou a um consenso porque já estávamos no último dos dez
dias que o cartório estipula como prazo para o registro.
De Ayrton surgiu “Beco”, um diminutivo oriundo da dificuldade da minha
sobrinha Lílian pronunciar o nome do novo primo.
O Ayrton sempre foi muito carinhoso com as professoras, acho que
retribuía a compreensão delas. Certa vez, acho que aos 12 anos de idade,
comprou uma rosa e foi levar à casa de dona Nídia, uma das professoras pela qual
ele tinha um carinho especial. Quando nos encontramos, a professora me
agradeceu, certa de que a iniciativa tinha sido minha e não do Beco. Surpresa,
perguntei a ele:
- Meu filho, por que você quis dar uma flor para a sua professora?
Ele me abraçou e simplesmente retrucou:
- Asshh... foi saudade, mãe. Eu tive saudadeda professora e comprei uma flor
para ela.
E depois saiu correndo.
O Beco foi brigão
no colégio. Vivia arrumando confusão no pátio, no recreio, ,as era atento nas
aulas. Por isso eu aceitava o habito dele só fazer as lições de casa dez ou 15
minutos antes de ir à escola. Levantava cedo e, sem preguiça, resolvia os remas
rapidamente, como tudo o que fez na vida. Só quando tinha prova é que eu lhe
tomava a lição. Mas ele quase sempre sabia tudo. Não era de estudar muito em
casa, nunca foi o primeiro da classe, mas estava longe dos últimos.
Certa vez
presenciei um curioso diálogo no café da manhã entre o Ayrton e a Viviane. Ele
ficara impressionado com o fato da irmã ter estudado até tarde da noite para
uma prova de francês. Quando soube que ela precisava só de meio ponto, acabou a
solidariedade. Caiu na gargalhada. Afinal, ele havia precisado de quatro pontos
em português e tinha resolvido tudo em meia hora.
A roupa só foi
se tornar uma preocupação para o Beco depois da adolescência.
Até então, usava o que lhe
comprávamos, sem preferências. Porém, foi um recordista em gastar sapatos. Ou
melhor, botas, porque nenhum calçado convencional resistia por mais de 15 dias
às suas travessuras.
Duas semanas era
o tempo exato para a bota abrir a sola. E eram botas reforçadas, de cano médio
e com contrafortes no calcanhar e no bico. Ele fazia test driver com elas.
Calçava-as, armava uma corrida e brecava. Se as botas deslizassem, ele não
queria. Tinham que segura-lo. O Beco podia ser sócio da Sapataria Hollywood,
uma loja que ficava bem na esquina da nossa rua. O seu Rodolfo, dono da loja,
jamais se descuidou da bota preferida do Ayrton. Sempre havia um estoque delas.
Os brinquedos
tiveram tudo a ver com o que ele seria no futuro. Primeiro os carrinhos de
rolimã, bicicleta... Depois dos 11 anos, foi o Kart. Saía do colégio e ia com o
Pedro, nosso motorista, direto para Interlagos.
Nos sábados,
domingos e feriados, corria nos trechos em contrução da Avenida Margina do
Tietê, com os amigos da época: o Sérgio, o Português e o Jacotinho, todos
conduzidos, com seus respectivos Karts, no caminhãozinho do pai. O Beco era tão
impaciente que, quando chegava a vez do Fábio, o seu primo, andar no Kart, ele
não se continha e ia soltar pandorga.
Parte 3
(Depoimento de Viviane Senna Lalli - Irmã de Ayrton)
Eu já tinha
procurado meu irmão em todos cantos do clube. (Viviane Senna). Meus avós João e
Maria, que todos os sábados nos levavam, juntamente com minha prima Lilian, ao
Clube Santana, estavam muito nervosos porque tinham perdido o menino. Não havia
mais onde procurá-lo. De repente, o alto-falante anunciou um garoto de 5 anos
procurando seus parentes.
Mesmo sendo só quatro anos
mais velha que meu irmão, jamais conseguia acompanhar os movimentos do
espoleta. "Espoleta" era um dos vários apelidos pelos quais a gente
chamava o Ayrton. No começo foi "Caneco", mas depois ficou "Beco",
porque a nossa priminha Lilian não conseguia falar Caneco. E, mais tarde, ele
se assumiria como "Becão".
Corremos para a área de
alimentação do clube e lá estava o Caneco, Beco, Becão em cima do balcão da
pastelaria, ao mesmo tempo chorando e devorando um pastel misturado com
lágrimas desesperadas.
Pastel era uma
das iguarias que consolavam o Ayrton. Eu não esqueço como ele era comilão. A
nossa mãe tinha que fazer três escalas obrigatórias no caminho para a escola:
uma parada em cada uma das três pastelarias da Rua Voluntário da Pátria, no
bairro de Santana. Era divertido ver a exata divisão que o Beco fazia entre a
gula e a distância das pastelarias e o colégio.
O Ayrton sempre
teve bom apetite, e a rapidez era uma parte acentuada da sua personalidade. Um
glutão precavido, pois mesmo quando convidado para um banquete não deixava de
degustar antes alguma coisa em casa para se prevenir contra surpresas no
cardápio.
Era incrível. Uma vez
não consegui ver o filme Brande de Neve e os Sete Anões por causa do apetite do
Beco. Bastou a bruxa começar a insistir para que a Branca de Neve comesse a
maça envenenada e a fome dele despertou. O Beco insistiu tanto, mas tanto, para
a mãe comprar uma maça que, enquanto não saímos do cinema para lhe satisfazer o
desejo, ele não sossegou.
O Becão também
nunca foi paciente. Batia recordes de lições em casa e na escola. Terminava
suas tarefas na aula e depois ficava atazanando os colegas. Não foram poucas as
vezes em que a professora o mandou copiar vinte vezes as tabuadas do 2 até 9,
para acalmá-lo.
Foi um menino feioso, cheio
de alergias pelo rosto, inquieto e ativo, mas sempre muito ligado na gente.
Parte 4
(Depoimento de Neyde Joana Senna da Silva - Mãe de Ayrton)
O Beco dizia em casa que era o piloto mais
antigo da F1 porque tinha começado muito cedo, aos 4 anos. (Neide Joana Senna
da Silva). Meu marido Milton tinha uma metalúrgica e resolveu fazer um Kart.
Ele gostava de corridas, mas nunca tinha feito um, levou uns 6 meses até
terminar. Dizem que o Kart era da irmã, Viviane, mas nunca foi. Era para o
Ayrton mesmo, que sempre gostou de carros. Nos sábados à tarde, o Milton pegava
um caminhão da empresa, botava o Kart e os garotos da rua em cima e levava todo
mundo para brincar. Não sei bem o ano dessa foto (a foto exibida nesse post.),
mas é da década de 60. O Kart já era o de número 007. Nessa época, a gente
morava no Tremembé. A Marginal Tietê ficava perto e ainda não estava toda
pronta, tinha trechos asfaltados fechados ao trânsito. O Beco é o menorzinho da
foto, mas já corria bastante.
Ayrton Senna com 13 anos e o irmão Leonardo Senna com 7 anos
Parte 5
(Depoimento de Leonardo Senna da Silva - Irmão de Ayrton)
Os seis anos de diferença de
idade que me separavam do Ayrton não deixaram muitas lembranças de infância
compartilhada (Leonardo Senna). Claro que tenho na memória as peripécias dele
no Kart, as quais, aliás, acompanhei sem muita inveja. Mas o Beco era tão
ligado ao Kart que cheguei a me arriscar a pilotar uma vez. Foi dentro da
metalúrgica do meu pai. O Beco me explicou tudo, mas mal saí e entrei embaixo
de um caminhão estacionado. Terminou ali a minha carreira de piloto.
Ayrton Senna com o pai Milton da Silva na Infância
Parte 6
(Depoimento de Milton da Silva
- Pai de Ayrton)
O Ayrton adorava a Fazenda
Caraíbas, que nós tínhamos em
Goiás. Pequeno ainda, com 7 anos, adonou-se do jipe Wyllis
1967 que havia por lá. Mal alcançava os pedais, mas passava o dia inteiro
levando os vaqueiros para todos os cantos da fazenda. Também fazia misérias
numa moto Suzuki 180 nas terras da propriedade do Tocantins.
Certa vez ele ficou muito triste porque perdeu o primeiro capacete que eu tinha
lhe dado. Na verdade, ficou esquecido dentro de um almoxarifado. Há pouco
tempo, ao vender a fazenda, eu o recuperei, e o Sid Mosca, que pintava todos os
seus capacetes, fez uma bela restauração dele. A peça agora está no memorial.
O Ayrton aprendia tudo muito rapidamente porque tinha a escola do Kart. E o
menino que se inicia no Kart leva uma grande vantagem, pois vai cuidar do
físico, abster-se de beber, de fumar, fica longe das drogas. Enfim, vai seguir
a filosofia da preparação para competir num esporte muito exigente. Capacita-se
a fazer um cavalo-de-pau, se necessário, mas habilitado para evitar acidentes.
O Ayrton sempre encarnou essa filosofia. Levou muito a sério a pilotagem e fez
dela sua profissão de corpo e alma. Por isso foi o tricampeão que todo mundo
elogia.
Ayrton Senna em uma competição de kart aos 9 anos
Parte 7
(Depoimento de Milton da Silva
- Pai de Ayrton)
Quando ele tinha 9 anos,
comprei um Kart oficial. Era muito bonito e fora feito para o Emerson
Fittipaldi, já com freios dianteiros. Era muito aerodinâmico. Quando fez 13
anos, levei o Ayrton para competir na categoria de estreantes e novatos.
Aniversariou em 21 de março e em julho participou do Torneio de Inverno, em Interlagos. Ganhou
as duas provas e o torneio de estréia.
Mas antes disso, ainda aos 9 anos, Ayrton competiu numa prova amistosa de rua,
em campinas, São Paulo. Não esqueci que fui eu, e não ele, quem tremeu naquele
dia – se é que algum dia ele tremeu. Me assustei quando vi mais de 30
Kartistas, todos mais velhos. As posições de largada foram definidas por
sorteio, cabendo ao Ayrton o número 1. Fiz tudo para ele não entrar na pista.
Retirei a inscrição e guardei o Kart. Mas a insistência dele foi tamanha que
acabei concordando, só que com uma exigência: não sair na pole position, e sim
em último.
Também perdi essa parada. Bom, pensei, seja o que Deus quiser. Eram 40 voltas.
Ele largou na frente e foi mantendo a liderança, enquanto eu, nervoso, torcia
para a corrida terminar. Já estava na 35ª volta e os demais pilotos aumentavam
a pressão, mas ele nem tomava conhecimento: seguia firme, fazendo tomadas,
fechando a porta e me fazendo sofrer. De repente, num trecho complicado, um
estrondo, a poeira levantou e ele sumiu... Saí correndo para o local, pensando:
mataram o moleque. Mas foi só susto. Quando cheguei na curva, ele já estava de
pé, sacudindo a poeira e olhando para o garoto que o havia tirado da pista.
Sempre gostei de
automobilismo e como o Ayrton era fanático por Kart resolvi me transformar num
pai-projetista e contruí um Kart para ele. Foi o brinquedo que, com o passar
dos anos, acabaria se transformando no lado mais sério da vida dele. Na época,
eu tinha a Metalúrgica Universal, no bairro do Tremembé, em São Paulo. Improvisei
o projeto com base no que eu via em fotos, e o trabalho, totalmente artesanal,
feito peça por peça, levou seis meses, uma eternidade para o Ayrton, que estava
contando os dias, ansioso para ter o carrinho.
Nosso primeiro projeto tinha
alguma sofisticação: os freios já eram a disco, a direção de cremalheira, banco
anatômico, mas o motor foi adaptado de uma máquina de cortar grama de 3 cv. Era
normal, portanto, que o Kart tivesse pequenos problemas técnicos. Ficou um
pouco alto em relação ao chão, o banco tinha inclinação limitada e a relação
entre o motor e a cremalheira (corrente de tração) ficou longa. Uma
característica que deixou o Kart com pouca força na arrancada, mas ele chegava
a 60km/h de velocidade final, que o Ayrton atingia sem esforço nenhum, apesar
de só ter 4 anos. Eu tinha medo, mas ele pilotou aquele kartinha até os 9 anos
sem nenhum problema.
A gente ia a lugares sem
trânsito, como um antigo loteamento na saída de São Paulo da Rodovia Fernão
Dias. O Ayrton tinha uma porção de amigos, eu juntava a molecada, colocava os
Karts num caminhão e supervisionava a brincadeira nos finais de semana.
Como ele continuava fanático
por tudo o que tinha motor, resolvi montar uma oficina completa na nossa casa.
Foi ali que ele aprendeu a tornear, a inventar mil e uma no seu Kart. Varava o
dia inteiro e, se deixasse, a noite, montando e desmontando os seus Karts. Era
difícil fazê-lo se desligar da graxa e mandá-lo para a cama antes da
meia-noite. Eu, como já disse, gostava muito de automobilismo e ele era muito
bom nessa arte. Acho que por isso existia uma grande motivação recíproca. Mas
havia uma filosofia por trás desse brinquedo: a de que ele extravasasse toda a
sua energia de jovem no Kart e não em outras coisas.
O Ayrton, como todos os meus
filhos, era teimoso. Herdaram essa "virtude" um pouco de mim e outro
tanto da Neyde. Mas isso não impediu que ele refletisse e agisse dentro da
lógica para fazer prevalecer o que era melhor para nós. Eu não queria vê-lo
piloto profissional, mas ele ficou tão desmotivado trabalhando nos negócios da
família que acabei concordando.
Sempre tememos acidentes, mas
depois que o Ayrton entrou pra valer nesse esporte tentamos dar-lhe o máximo de
apoio. Ajudamos a amadurecer a experiência insistindo para que não queimasse
etapas e seguisse a ordem natural da carreira: Fórmula Ford, Fórmula 2000 e
Fórmula 3. Aí, como segurá-lo se o moleque foi campeão em tudo e nessa ordem?
Chegou a ganhar dois campeonatos simultâneos nas três categorias, o britânico e
o europeu.
O Ayrton tinha muita
iniciativa. Fez 18 anos e no dia seguinte foi tirar a carteira de habilitação.
Foi ele quem descobriu e contratou o Tchê, seu mecânico nos tempos do Kart.
Parte 7
Teste da Bota
Depoimento de Neyde Senna, Mãe de Ayrton
FOTO: Aos 3 anos, Ayrton (à dir.) batiza as bonecas da
irmã
“A Viviane, minha sobrinha Lilian e filhas da minha amiga ficavam brincando nessa casa, que era da minha mãe. Era uma rua sem saída, todos se conheciam. As meninas ganharam bonecas novas e os meninos quiseram batizar. Eles brigavam para ver quem seria padre, meu pai fez uma mesa com docinhos e guaraná, era um sábado à tarde. Meu pai fotografou. O Beco ficava bravo porque no aniversário dele não tinha bombinhas, pois era em março, enquanto o da Viviane, que era em junho, tinha. Nem sempre a gente comemorava. Mas no aniversário de 4 anos fizemos uma festa. A gente havia acabado de se mudar, então seria coisa pequena. Mas chegaram dez garotos, depois 20, uma hora o Milton parou de contar. Ayrton foi de porta em porta, convidando gente que nem conhecia. A gente morou na ladeira da rua Pedro, no Tremembé. A calçada era em degrau, porque era uma ladeira forte. Ele descia a calçada num carrinho de rolimã e dava um cavalinho de pau antes do degrau. Ia cada vez mais perto. Eu olhava e pensava: ‘Agora cai’. Mas ele não caía. E depois ia ainda mais perto. Ele nunca quebrou nada, mas vivia ralado. Eu punha pedaços de couro na calça dele, para proteger os joelhos. Os únicos calçados que resistiam eram umas botas, e ainda assim não duravam mais de 15 dias. A gente comprava na Sapataria Hollywood,em Santana. Para
experimentar, ele corria na loja e de repente brecava. Se derrapasse, ele não
queria. Precisava brecar.”
“A Viviane, minha sobrinha Lilian e filhas da minha amiga ficavam brincando nessa casa, que era da minha mãe. Era uma rua sem saída, todos se conheciam. As meninas ganharam bonecas novas e os meninos quiseram batizar. Eles brigavam para ver quem seria padre, meu pai fez uma mesa com docinhos e guaraná, era um sábado à tarde. Meu pai fotografou. O Beco ficava bravo porque no aniversário dele não tinha bombinhas, pois era em março, enquanto o da Viviane, que era em junho, tinha. Nem sempre a gente comemorava. Mas no aniversário de 4 anos fizemos uma festa. A gente havia acabado de se mudar, então seria coisa pequena. Mas chegaram dez garotos, depois 20, uma hora o Milton parou de contar. Ayrton foi de porta em porta, convidando gente que nem conhecia. A gente morou na ladeira da rua Pedro, no Tremembé. A calçada era em degrau, porque era uma ladeira forte. Ele descia a calçada num carrinho de rolimã e dava um cavalinho de pau antes do degrau. Ia cada vez mais perto. Eu olhava e pensava: ‘Agora cai’. Mas ele não caía. E depois ia ainda mais perto. Ele nunca quebrou nada, mas vivia ralado. Eu punha pedaços de couro na calça dele, para proteger os joelhos. Os únicos calçados que resistiam eram umas botas, e ainda assim não duravam mais de 15 dias. A gente comprava na Sapataria Hollywood,
Parte 8
Na primeira entrevista no departamento de Orientação Educacional do Colégio Rio Braco, em 1970, "Beco" escreveu uma pequena redação onde já se definia como futuro piloto de Fórmula 1. Isso aconteceu antes mesmo do primeiro título na categoria, conquistado por Emerson Fittipaldi, em
Milton, Neide e os três
filhos sentaram-se à mesa para o café da manhã, na casa confortável no
Tremembé, reduto da classe média paulistana. As crianças comiam com pressa.
Tinham minutos para sair a bordo de um carro em direção ao colégio de freiras.
A franzina primogênita de 14 anos não camuflava as olheiras. Cruzara a
madrugada entre livros e cadernos, decidida a conseguir meio ponto numa prova
de Francês e ser antecipadamente aprovada em todas as matérias. O esforço e a
tensão da garota não pareceram comover o irmão do meio, que reagiu com um
sorriso maroto e a pergunta eternizada no folclore familiar dos Senna da Silva:
"Você ficou louca?" (Surpreso! Por ela estudar tanto por causa de meio ponto), provocou o menino Ayrton, então com 11 anos.
Parte 10
Festa de Aniversário
Fazia uns dois anos que
Ayrton não dava uma festinha de aniversário porque sempre aprontava alguma e,
de castigo, não podia dar festa. Quando foi completar 6 anos de idade, disse
que naquele ano ele queria uma festa grande. Não adiantava ser uma festinha,
tinha que ser uma baita festa.
Como ele tinha se comportado
bem nos últimos tempos disse a ele que podia convidar quem ele quisesse...
No dia do aniversário, lá
pelas 16h30 a molecada começou a chegar... Tinha menino de todo tipo, tamanho e
idade. O Milton começou a contar mas desistiu lá pelo número 30...
Tinha gente saindo por todos
os lados.
Milton ensinou a criançada a
brincar de ULA NA MULA (Pula-Cela) e foi a maior bagunça.
Mais tarde, depois que todos
os convidados tinham ido embora, perguntei para o Beco de onde eram todos
aqueles amigos. Com a maior tranqüilidade ele respondeu:
"Na verdade eu não
conhecia todo mundo. Eu fui andando pela nossa rua, tocando a campainha e
convidando as crianças que moravam lá para minha festa de aniversário."
(D. Neyde Senna, mãe)
Parte 11
A poça
Tínhamos que ir a um
aniversário na casa de uns primos. Como o Beco e o Leo eram pequenos, dei banho
neles enquanto a Viviane se arrumava sozinha. Todos prontos, bem arrumadinhos e
perfumados, fomos para o carro. Morávamos numa rua de terra e havia chovido,
então vocês podem imaginar o barro que estava. Apressado, como sempre, Beco foi
na frente de todos, abriu a porta do carro e foi engatinhando para o lado do
motorista, encostando-se na porta. Só que ela estava apenas encostada e o pior
aconteceu. Ele se apoiou com tamanha força na porta que ela abriu e o Beco foi
com tudo para o chão, estatelando-se em uma poça d'água. Enquanto o Leo e a
Viviane quase perdiam o fôlego de tanto rir, eu fiquei num tremendo mau humor
por ter que voltar para casa e arrumá-lo novamente."
(D. Neyde Senna, mãe)
Viviane, Leonardo e Ayrton
A maça
Certa vez, levei a Viviane, o
Leo e o Beco assistir ao filme A Branca de Neve e os Sete Anões. A Vivi, mais
velha, é que estava louca para assistir ao filme e os dois menores estavam com
as caras amarradas. Bem, tudo estava caminhando tranqüilo - até demais -,
quando chegou a cena em que a bruxa colocava veneno na maçã para envenenar a
Branca de Neve.
"Mãe, quero aquela
maçã", pediu o Beco.
"Mais tarde",
sussurrei para não incomodar os outros no cinema.
Dois minutos depois, ele me
cutucou novamente, e falou mais alto:
"Mãe, quero a
maçããã..."
Respondi novamente, bem
baixinho:
"Espera um pouco. Depois
do filme eu compro quantas maçãs você quiser. Agora, assista ao filme e fica
quietinho.
" Mas não fui muito
convincente, pois ele começou a berrar dentro do cinema:
"Mãe, quero a maçã
agora."
Resultado: tivemos que sair
no meio do filme para que ele comesse uma maçã igual àquela..."
(D. Neyde Senna, mãe)
Ele adorava comer desde
pequenininho. Eu me lembro que um dia minha mãe nos levou ao cinema para ver
Branca de Neve e os Sete Anões. Na cena em que a Branca de Neve pega a maçã ele
ficou com vontade de comer maçã e começou a berrar: “Mãe, quero maçã! Eu quero
maçã”. Tivemos que sair do cinema e comprar uma maçã para o Beco – era assim
que chamávamos o Ayrton. Fiquei louca porque perdi o filme (risos). Mas foi
engraçado. Ele tinha cinco anos.
(Viviane Senna, irmã)
Criança Agitada
Era agitado. Às vezes minha
mãe achava que ele tinha algum problema na cabeça porque estava sempre correndo
e caindo. Vivia com galo na cabeça e roxo na perna. Contrário a mim, que sempre
fui tranqüila. Beco também era meigo e carinhoso.
Vencer Sempre
Durante a infância e a
adolescência passávamos três meses de férias na praia, com nossos avós. À noite
jogávamos buraco e Ayrton sempre queria ganhar. Um dia minha avó foi arrumar a
mesa e descobriu cartas escondidas no lugar em que ele se sentava. Ela ficou
brava e disse: “Olha só que safado de moleque. Ele quer ganhar de qualquer
jeito”. Ayrton falava que o segundo lugar era o primeiro perdedor (risos). Era
muito engraçadinho.
Coração Bom
Eu me lembro que aos oito
anos ele viu uma criança pobre e disse: “Ele não deve ter bicicleta e eu quero
dar a minha”. Ayrton sempre teve um coração de ouro.
A prima Lilian, Ayrton Senna e a irmã Viviane
Parte 11
Como Surgiu Apelido de Ayrton Senna: Beco
Ele foi primeiro apelidado de Caneco, mas ninguém da família se lembra porque ele ganhou esse apelido. “É um mistério”, dizem eles. Quando eram pequenos, Ayrton e Viviane brincavam muito com uma prima que não conseguia dizer “Caneco” direito, e encurtou para “Beco”. O apelido pegou.
Parte 12
As vitórias no Carrinho de Rolimã
Parte 13
Parte 14
Os primeiros contatos com o Kart
Parte 15
Oficina de Kart em casa
Parte 16
A Primeira Visita a um Kartódromo
Parte 17
"O Menino Ayrton Marcou Minha Vida" Tchê
Tchê segurando o "42", número que Ayrton usava em seus Karts na infância
Parte 18
As férias em Goiás
Quando criança, durante as
férias, Ayrton Senna passava alguns dias na Pousada do Rio Quente (GO).
Junto com sua família, o garotinho brincava, nadava nas cachoeiras e se
divertia com os irmãos!
Parte 19
A bicicleta amarela
Ayrton em sua bicicleta amarela com a irmã Viviane
Um dos primeiros brinquedos
que Ayrton Senna acelerou em sua infância foi uma bicicleta amarela, logo aos 4
anos. Mesmo mais velho, costumava pedalar nos autódromos pelo mundo.
“Eu comecei quando eu tinha 3
ou 4 anos. Usava uma bicicleta amarela pequena. Foi aí que comecei e ela era
tudo pra mim no mundo. Eu andei nela até os 12 anos, quando já era bem grande
pra ela. Mas eu não queria ter uma bicicleta nova e maior, porque foi nela que
eu eu aprendi a andar, a manter o equilíbrio, guiar em linha reta e competir em
velocidade com outras crianças. Era uma atividade muito saudável e agradável”.
Parte 20
Ayrton, o motorista da família
Pequeno Ayrton em 1965 em sua casa no Bairro Jardim São Paulo
Ayrton Senna foi criado na
Zona Norte, na Serra da Cantareira, onde dividia o quarto com seu irmão
Leonardo.
Era dali que ia para o colégio e para o autódromo, cruzando toda a cidade de
São Paulo para correr de kart, em Interlagos. Viagens que, na maioria das
vezes, eram feitas com ele dirigindo o carro para chegar mais rápido.
Um dos motoristas contratados para levá-lo não ficou muito tempo no emprego: “Por
que vou continuar motorista se o garoto é quem dirige?”
Parte 21
Coração Bom
Desde a infância, Ayrton
demonstrava um sentimento genuíno de compaixão pelos desfavorecidos. Como no
dia em que um dos meninos pobres que moravam perto de sua casa, em Santana,
bateu à porta. Era um Natal no final dos anos 60. Dona Neyde (mãe) descobriu, nas
palavras do menino, que Ayrton tinha cuidado do presente dele:
– Vim buscar a bicicleta.
Parte 22
O Primeiro Kart
“Ayrton buzinou, buzinou, mas buzinou tanto nos ouvidos do pai que seu Milton, talvez para se ver livre daquela ladainha, decidiu atender às súplicas do filho e construir o kart que ele tanto pedia. Não era propriamente um modelo para competições, mas o 007 confeccionado na metalúrgica Universal, com motor dois tempos, semelhante ao de um cortador de grama – curiosamente montado por um médico amigo da família, o Dr. Passos, fanático por mecânica –, estava mais do que bom para acelerar na pista inacabada da futura Marginal Tietê, invadida pela turma da velocidade nos finais de semana. Entretanto, o que deveria ser apenas uma brincadeira foi tomando ares mais sérios. O menino tinha mesmo jeito para a coisa. E assim, no início da década de 1970, ganhou dos pais um kart profissional. Para acompanha r o bólido, precisava escolher um capacete. Dentre todas as cores... Amarelo.”
Parte 23
Santana e Jardim São Paulo
Santana
e Jardim São Paulo: Os Bairros Que Viram Ayrton Senna Crescer
Ayrton dando suas pedaladas na frente da casa da família, em Santana (1963)
O piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna (1960-1994), homenageado com seu nome em uma das paradas da linha 1 do metrô que atende a região, viveu na Rua Condessa Siciliano, perto do Mirante de Santana, dos 4 aos 12 anos de idade.
Ruas de Santana viram Ayrton Senna crescer
******
Uma verdadeira adoração pela velocidade
Ayrton dando suas pedaladas na frente da casa da família, em Santana (1963)
Na infância, ele costumava brincar com seu carrinho de rolimã com os amigos. Esses carrinhos eram brinquedos de movimento muito simples, feitos para a criança sentar ou deitar sobre eles, usando quaisquer rodas que estivessem à mão – quase sempre rolamentos de aço usados. “Ele passava horas procurando rolamentos – e os polia se fosse necessário – e treinava para ganhar segundos na ‘pista’, que eram as ruas do bairro de Santana em São Paulo, onde morávamos”, contam os Senna.
A casa deles ficava em uma ladeira, e seus contemporâneos confirmam que era possível alcançar uma boa velocidade ao descer a rua principal.
Imagem ilustrativa
Scan Revista Manchete de março 2004
Parte 24
Lembranças do Beco
Madrinha de Senna, Wanda conta como ex-piloto era custoso quando criança e relata com carinho as visitas, mesmo as tumultuadas, já depois da fama
Wanda se diverte lembrando das brincadeiras do afilhado
O Popular - opopular.com.br
30/04/2014 22:44
Ayrton Senna, aos 4 anos, brinca com seu primeiro kart, feito pelo pai, Milton e construído por um médico da família: foto é guardada por madrinha de ex- piloto, que mora em Goiânia e tem outras relíquias
Em Tatuí (SP), em 1993, foi bem descontraído, leve. Quando ele estava com a família, era o Béco. Eu o vi pilotando o helicóptero, onde estavam ele, lindo, o piloto e a Adriane (Galisteu). Foi a última cena.” - Elizabeth de Souza, goiana, amiga de infância de Ayrton Senna, sobre a última vez em que o viu, meses antes do acidente fatal
Em Goiás, fosse na Ilha do Bananal, na Pousada do Rio Quente ou na fazenda em Dianópolis (hoje no Tocantins), ele sempre foi só o Beco.
Quando criança, durante as férias, Ayrton Senna passava alguns dias na Pousada do Rio Quente (GO). Junto com sua família e padrinhos, o garotinho brincava, nadava nas cachoeiras e se divertia com os irmãos e primos
O apelido carinhoso era usado pela família e amigos muito próximos. Era assim que os padrinhos Benedito de Souza e Wanda Oliveira de Souzao conheciam, mesmo depois de ele se tornar o fenômeno do automobilismo internacional, Ayrton Senna.
Uma relação familiar que começou quando Benedito recebeu o pai de Béco em sua fazenda, no interior de Goiás. A amizade se estendeu. O casal goiano batizou o primeiro filho homem do casal de amigos paulistas. Antes, Wanda tinha crismado a primogênita deles, Viviane. “Imagina uma jacu ir lá em São Paulo crismar uma menina...”, brinca Wanda.
Benedito morreu há mais de um ano [em 2012]. Ele gostava de lembrar de histórias do afilhado, que, por aqui, era só Béco mesmo. “O Ayrton Senna era o Ayrton Senna, o Béco era o Béco, o menino levado que a gente viu nascer”, explica Wanda, que mora em Goiânia e ficou com a tarefa de contar as histórias. “Só de falar dele, eu fico feliz.”
Ela gosta de recordar como sempre foi confundida com a mãe de Senna,Neyde Senna – para ela, só Záza –, chegando a ouvir chamarem-nas de irmãs gêmeas. Semelhança que fez com que algumas pessoas a cumprimentassem como se fosse a mãe do piloto no dia do velório. Algumas lembranças ainda a emocionam e fazem sua filha, Elizabeth de Souza, segurar as lágrimas.
“Tenho assistido (a reportagem sobre os 20 anos da morte de Senna) e vejo o Béco... O Béco que jogava areia em mim, que puxava meu cabelo... Eu acho linda a carreira dele, mas eu sinto falta do Béco, do meu primo”, lamenta Beth, que só tem adjetivos para ele. Brincalhão, companheiro, espirituoso, piadista, arteiro... “O Béco era terrível”, comenta Wanda, que tinha sempre de fazer empadinhas de frango para receber o afilhado.
Na estante, uma garrafa de champanhe, com a qual ele comemorou um dos pódios que fez em pistas brasileiras de Fórmula 1. Mas não é nela, nem nas fotos, que estão o elo entre as famílias e a lembrança do afilhado e amigo morto. Estão, sim, nas palavras, no discurso de quem parece ainda esperar que o Béco ligue e marque um encontro surpresa para jantar ou venha para a fazenda pescar e jogar baralho – canastra, sempre. Ou, ainda, mande buscar a família Souza, de Goiânia, para passar um tempo com ele em Angra dos Reis.
Assista mais histórias do menino Béco contadas pela madrinha dona Wanda:
Parte 25
Do carrinho ao carrão
O Estado de São Paulo 04 12 1988
Parte 26
Lembranças do Menino Senna
O Estado de São Paulo 09 05 1994
Parte 27
Ruim de Bola
Béco era louco por desafios. Gostava, como os meninos da sua idade, de soltar pipas, jogar bola de gude, colecionar figurinhas e de futebol. Porém, por mais que tentasse, nunca foi bom de bola. Tanto que sempre fazia força para jogar ao lado do “Fúria”, do “Raça” e do “Arraso”, craques do bairro e seus colegas do Colégio Santana. Foi por insistência desses amigos que Becão – sempre escolhido para jogar na ponta-esquerda – se tornou corintiano (uma paixão revelada pela camiseta do “Timão”, que usaria sob macacão no final do campeonato de kart de 1978).
FONTES PESQUISADAS
MARTINS, Lemyr.
Uma estrela chamada Ayrton Senna. São
Paulo: Editora Panda, 2001.
MOURA, Marcelo. Ayrton em cena. Revista quatro
rodas, São Paulo, Edição 607, Ano 50, p. 210 - 214, Editora Abril, Agosto 2013.
Jornal O Globo
GREENHALGH, Laura; RAMOS, Carlos Henrique. A
guardiã do mito. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,ERT186275-15228-186275-3934,00.html>.
Acesso em: 12 de dezembro 2013.
Festa de aniversário. Disponível
em: <http://senna.globo.com/memorialayrtonsenna/html_port/pe_p1.htm>.
Acesso em: 12 de dezembro 2013.
Isto é
HILTON, Christopher. Tradução de Cláudio Blanc. Ayrton Senna, uma lenda a toda velocidade: Uma jornada interativa. Edição Brasileira. São Paulo, 2009.
Mr. Silvastone. Manchete, São Paulo, Edição
Histórica, nº 2530, p. 40 – 45, Março 2004.
Fanpage Oficial Ayrton Senna
Fanpage Oficial Ayrton Senna
Infância. Disponível em: <http://www.ayrtonsenna.com.br/historias/fora-das-pistas/infancia/>.
Acesso em: 16 de fevereiro 2015.
Hobbies. Disponível em: <http://www.ayrtonsenna.com.br/historias/fora-das-pistas/atitude-ayrton-senna/hobbies>. Acesso em: 09 de fevereiro 2015.
Ayrton Senna. Disponível em: <http://www.meusonhonaotemfim.org.br/sonhadores_view.asp?editid1=117>. Acesso em: 06 de junho 2015.
Ayrton Senna. Disponível em: <http://www.meusonhonaotemfim.org.br/sonhadores_view.asp?editid1=117>. Acesso em: 06 de junho 2015.
MAXPRESSNET - Lançamento "100 Senna" e exposição de capacete na Livraria Cultura do Iguatemi. Disponível em: <http://www.maxpressnet.com.br/Conteudo/1,798560,Lancamento_100_Senna_e_exposicao_de_capacete_na_Livraria_Cultura_do_Iguatemi,798560,6.htm>. Acesso em: 04 de novembro 2015.
ESTADÃO - Cinco curiosidades sobre Santana e o Jardim São Paulo. Disponível em: <http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,cinco-curiosidades-sobre-santana-e-o-jardim-sao-paulo,1790591>. Acesso em: 06 de novembro 2015.
O POPULAR - Lembranças do Beco. Disponível em: <http://www.opopular.com.br/editorias/esporte/lembranças-do-béco-1.535569>. Acesso em: 06 de dezembro 2015.
BARTHOLOMEI, Marcelo. Prezado senhor Ayrton
Senna. O Estado de S. Paulo, 04 de dezembro de 1988, Estadinho, página 112.
BAIROS, Ricardo. Saudade: Vizinhos falam do
menino Senna. O Estado de S. Paulo, 09 de maio de 1994, Seu Bairro (Região
Norte), página 76.
MARTINS, Lemyr. O pequeno grande Senna. São Paulo: Editora Panda, 2004.
MARTINS, Lemyr. O pequeno grande Senna. São Paulo: Editora Panda, 2004.
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