Bicampeão finlandês revela que clima entre ele e tricampeão brasileiro não era bom nas corridas em que atuaram como companheiros de McLaren, no fim de 93
21/05/2013
Se há uma personalidade de quem Kimi Raikkonen tirou parte de sua famosa “sinceridade ácida”, esse alguém é Mika Hakkinen. Bicampeão mundial com a McLaren em 1998 e 99, o finlandês também era conhecido por suas declarações “curtas e diretas”.
Em entrevista concedida à Sky Sports, que está publicada na íntegra neste link dos nossos parceiros do Jalopnik, o finlandês relembrou seu primeiro ano como piloto da equipe inglesa, 1993. Na época, ele teve o peso de substituir Michael Andretti nas três últimas corridas do ano, tendo como companheiro nada menos que o tricampeão mundial Ayrton Senna.
Em seu primeiro treino classificatório, no GP de Portugal, Hakkinen surpreendeu a todos ao ser mais rápido que o brasileiro, conhecido por sua enorme superioridade em volta lançada, por meio décimo, alcançando o terceiro lugar no grid. Ao rememorar o episódio, o nórdico disse que sentiu aquele feito como “algo normal”, embora Senna não tenha aceitado a situação da mesma forma.
“Antes do GP de Portugal, eu fiz alguns testes junto com Ayrton e ele sempre era mais veloz do que eu. Mas eu sabia que o desempenho dos carros não era o mesmo, porque nos testes você experimenta diferentes itens em cada carro. Então eu sabia que, obviamente, Ayrton poderia andar mais rápido do que aquilo, mas eu também poderia ser mais rápido”, iniciou.
“Então, quando chegamos a Portugal, eu estava bastante confiante de que poderia conquistar um grande resultado. Dentro de mim, eu tinha a confiança de que poderia ser um pouco mais rápido que Ayrton, mas não sabia se, na pista, isso iria se concretizar. Quando veio a classificação, e eu fui mais rápido do que ele, foi maravilhoso a forma como as pessoas reagiram. Elas ficaram realmente surpresas. Eu falava: “Isso é normal”, mas ele era um tricampeão, sempre o mais rápido da pista, mesmo antes de eu entrar na F1″, acrescentou.
Segundo Hakkinen, a pequena vantagem obtida em sua volta rápida veio na velocíssima curva 1, algo que teria gerado grande surpresa no próprio tricampeão. “Ele ficou maravilhado. Acho que houve mais ou menos uma curva só em que eu fui mais rápido, a primeira, que era praticamente de pé cravado. Você só tirava um pouco o pé do acelerador e logo cravava de novo. E eu fui cerca de meio décimo mais rápido do que ele, não muita coisa. Eu voltei à garagem, Ayrton veio conversar comigo e disse: ‘Como você fez isso?’”, contou.
Entretanto, aquele episódio acabou sendo o estopim para a formação de uma pequena “rivalidade interna” entre ambos nos GPs do Japão e da Austrália. “Minha relação com Ayrton não era muito boa. Ela ficou difícil a partir do momento em que eu fui mais rápido que ele em uma classificação. A partir daí, foi uma batalha intensa pelo resto da temporada. Em Suzuka, eu poderia ter sido mais rápido que ele na classificação, caso não tivesse sofrido uma falha mecânica, mas na Austrália ele foi realmente mais veloz. Foi só em uma curva, mas foi o suficiente”, relatou.
O pódio do GP do Japão de 93 foi o único em que Senna e Hakkinen estiveram juntos
Para Hakkinen, foi essa richa de 93 que contribuiu para que Senna tivesse uma reação tão destemperada no GP do Pacífico de 94, quase sete meses depois, quando o brasileiro, já na Williams, foi tirado por ele da prova em um acidente na largada. “Depois da corrida, eu fui vê-lo e pedir desculpas, dizer que não queria fazer aquilo, mas ele estava muito bravo. Eu falei: ‘Calma, cara, eu não fiz de propósito, essas coisas acontecem’”, disse.
De acordo com Mika, as desavenças entre os dois só seriam dirimidas no voo de volta do Japão, quando eles tiveram uma conversa mais amena. “Nós voltamos à Europa no mesmo avião depois dessa corrida. Ele veio me ver, começou a falar comigo e acho que tinha entendido queseu comportamento não estava muito bom. Depois disso, tudo ficou bem, mas aí aconteceu o que aconteceu [o acidente fatal em Ímola, duas semanas depois].”
Apesar dos problemas, Hakkinen ressaltou que a postura de Senna o fez tirar muitas lições profissionais para o resto da carreira. “Eu aprendi muito com Ayrton. Você tinha que ser um cara muito duro para batê-lo. Não adiantava chegar lá sorrindo e se divertindo. Não. Era precisa ter foco e saber o seu lugar”, completou.
O vídeo com a entrevista de Hakkinen (em inglês) tem quase 50 minutos de duração. Nela, o finlandês fala sobre o início da carreira, o apadrinhamento de Keke Rosberg, o início na F1, pela Lotus, o grave acidente sofrido em 1995, os anos de glória com a McLaren, a rivalidade com Michael Schumacher e vários outros assuntos. Entre no Jalopnik para acompanhá-la na íntegra.
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