Não fosse em Suzuka a vitória de Ayrton na chuva depois de cinco
meses de jejum, a sua discussão acesa com Ron Dennis ainda devido ao rescaldo
do Estoril e a sua cena de pancadaria com Eddie Irvine porque o estreante o
obstruiu e depois, com uma volta de atraso decidiu passar Senna ("não és
um piloto, mas um idiota" - Senna), e a vitória de Senna na austrália,
dando o vice-campeonato à McLaren e o recorde de vitórias, e o ano já poderia
ter terminado ali no Estoril.
Mas, não. Se assim tivesse sido teria terminado
com sabor amargo. Em Adelaide, no seu clima habitualmente festivo e já de
férias, tudo de mau foi esquecido, enquanto se recordaram todos os momentos
bons do passado.
Para Ayrton foi um GP muito especial pois
ele "não queria sair da McLaren da mesma forma como Prost havia saído um
ano antes da Ferrari". Ele queria retribuir a Ron Dennis, a Jo Ramirez e a
todos da equipe os seis anos esplendorosos que passou com eles, com três
títulos mundias e muitos recordes, vitórias e alegrias e momentos difíceis que
todos suplantaram. Ayrton havia chegado a Adelaide, a bordo do seu jatinho,
vindo do Tahiti, onde havia passado uns dias com Adriane. Bronzeado, bem
disposto, parecia com novo ânimo, para enfrentar novos desafios. Muito
diferente do Senna de anos anteriores, desmotivado.
Ele queria tanto essa vitória que antes de sair para o grid enfiou uma bandeira
verde no bolso do macacão, para o caso de não encontrar nenhum torcedor perto a
quem roubasse uma bandeira na volta da consagração. E foi esse trapo verde que
ele acenou com emoção redobrada, de despedida de Ron Dennis, da McLaren, e nele
enxugou as lágrimas no momento de abraças Ron, à chegada.
Jo Ramirez havia reservado o salão grande de “La Tratoria” em nome da
Philip Morris para essa noite. Quando Ayrton e Adriane entraram, de mãos dadas,
não previam o que iam encontrar: uma festa de homenagem a Ayrton pelos seus
seis anos de Marlboro McLaren. Foram momentos emocionantes principalmente para
Ayrton, Jo e Ron. Estavam esquecidas as discussões, as amarguras, a separação.
Ficavam apenas as boas recordações, estampadas no quadro que Jo entrega a
Ayrton com as lágrimas nos olhos. Dois bons amigos se separavam.
Um trapo verde
que o sonho transformou na bandeira do Brasil. Acenado com paixão. Aplaudido
com saudade da pátria, com veneração pelo ídolo. Foi sua última bandeira verde.
Sua última vitória. Suas últimas lágrimas de alegria dentro de um F1.
Naquele pano verde que Ayrton tirara do bolso à tarde, a simbólica
bandeira do Brasil, todos nós deveríamos ter ensopado nossas lágrimas pois essa
foi a sua derradeira vitória.
FONTE: Livro Ayrton Senna do Brasil de
Francisco Santos
Em sua última vitória Senna se reconcilia
com Prost
Nenhum comentário:
Postar um comentário