Coluna Retrovisor: Forçando a mão
Por Roberto Brandão
Quando tenta se misturar
esporte com espetáculo e marketing, nem sempre os resultados são os esperados.
E quando o planejado e devidamente pautado não se cumpre, o que sai é,
geralmente, patético.
Foi exatamente o que aconteceu
num GP do Brasil de F-1, já no mutilado traçado de Interlagos. O romance
imperial entre a rainha dos baixinhos e nosso ídolo do automobilismo serviu
para calar os boatos sobre "masculinidade" que rondavam a dupla — um
por falta, a outra por excesso. Um romance no mínimo complicado, pois ele
passava o maior tempo na Europa e ela não saía do Brasil, com centenas de
compromissos profissionais e shows por todo o país. Chegara o momento do
encontro, o GP Brasil de F-1. A
TV Globo adoraria filmar uma cena romântica do casal imperial e resolveu
inventar uma.
Os treinos de sábado já tinham terminado havia algumas horas, Senna conquistara a pole, como sempre. Os boxes já se esvaziavam e ficavam só os mecânicos e engenheiros procurando os últimos e melhores acertos para a corrida do dia seguinte. De repente, uma equipe da TV Globo começa a montar uns50 metros de trilhos e
equipamentos para uma filmagem. Eu, no camarote da própria Globo, via a cena de
cima, num misto de preguiça para voltar para a casa e natural curiosidade de
ficar sapeando tudo o que acontecia nos boxes, aguardando uma deixa para dar
uma última passeada por lá.
Aí surge a Xuxa, caminhando pelo pit lane. O diretor explica a cena aos dois. Ayrton deveria encontrá-la em determinado ponto dos boxes e os dois caminhariam juntos até a garagem da McLaren, de mãos dadas, como se ele fosse mostrar a ela o trabalho de sua equipe. Senna sai de um dos pits acompanhado por seu engenheiro, conversando. Fala alguma coisa com o diretor, que aceita.
Primeiro take: Senna vem conversando com seu engenheiro, encontra Xuxa e seguem até a McLaren. Mas Senna é brasileiro, e tem a necessidade de falar usando as mãos, explicando alguma coisa a seu engenheiro. A namorada tenta, desesperadamente pegar a mão de Ayrton, que pára, explica, anda, sempre voltado para seu engenheiro. O diretor dá um berro e pára tudo.
Take 2: Senna dá um beijinho em Xuxa, pega na mão, encontra o engenheiro e começam a caminhar. Ayrton não resiste e volta a explicar ao engenheiro o que se passava em sua cabeça, largando a mão da namorada no meio do caminho, para se fazer entender por seu interlocutor. O diretor manda parar tudo de novo.
A terceira tomada é mais desastrosa ainda, uma vez que Senna já estava irritado por interromper sua conversa (provavelmente providências para melhorar o carro para a corrida, no dia seguinte) e caminha agarrando com força a mão de Xuxa, com cara de poucos amigos e falando, quase de costas para ela, com seu engenheiro.
O diretor, desta vez, não manda parar e os três personagens entram pelos boxes da equipe, vão lá para o fundo, longe das câmeras. Pouco tempo depois, uma Xuxa com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudanças era vista sentada sobre as caixas de ferramentas, no fundo dos boxes, enquanto Ayrton fazia uma pequena reunião em pé com Jo Ramirez, o engenheiro e seus mecânicos.
Algum tempo mais tarde, quando o sol da tarde dava os primeiros sinais de que preparava-se para recolher, vejo o tal diretor no camarote, com seus assessores, dizendo: "Editem as três tomadas e vejam no que dá. Façam alguma coisa com esse material, que ficou uma m....".
Do meu canto, enquanto buscava um último quitute e um refrigerante antes de sair do Templo, ria sozinho. Que cena patética! Podia imaginar o mau-humor do piloto que, preocupado com o melhor acerto do carro, perdera mais de uma hora com aquela filmagem — totalmente desnecessária, para quem gosta de automobilismo.
Os treinos de sábado já tinham terminado havia algumas horas, Senna conquistara a pole, como sempre. Os boxes já se esvaziavam e ficavam só os mecânicos e engenheiros procurando os últimos e melhores acertos para a corrida do dia seguinte. De repente, uma equipe da TV Globo começa a montar uns
Aí surge a Xuxa, caminhando pelo pit lane. O diretor explica a cena aos dois. Ayrton deveria encontrá-la em determinado ponto dos boxes e os dois caminhariam juntos até a garagem da McLaren, de mãos dadas, como se ele fosse mostrar a ela o trabalho de sua equipe. Senna sai de um dos pits acompanhado por seu engenheiro, conversando. Fala alguma coisa com o diretor, que aceita.
Primeiro take: Senna vem conversando com seu engenheiro, encontra Xuxa e seguem até a McLaren. Mas Senna é brasileiro, e tem a necessidade de falar usando as mãos, explicando alguma coisa a seu engenheiro. A namorada tenta, desesperadamente pegar a mão de Ayrton, que pára, explica, anda, sempre voltado para seu engenheiro. O diretor dá um berro e pára tudo.
Take 2: Senna dá um beijinho em Xuxa, pega na mão, encontra o engenheiro e começam a caminhar. Ayrton não resiste e volta a explicar ao engenheiro o que se passava em sua cabeça, largando a mão da namorada no meio do caminho, para se fazer entender por seu interlocutor. O diretor manda parar tudo de novo.
A terceira tomada é mais desastrosa ainda, uma vez que Senna já estava irritado por interromper sua conversa (provavelmente providências para melhorar o carro para a corrida, no dia seguinte) e caminha agarrando com força a mão de Xuxa, com cara de poucos amigos e falando, quase de costas para ela, com seu engenheiro.
O diretor, desta vez, não manda parar e os três personagens entram pelos boxes da equipe, vão lá para o fundo, longe das câmeras. Pouco tempo depois, uma Xuxa com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudanças era vista sentada sobre as caixas de ferramentas, no fundo dos boxes, enquanto Ayrton fazia uma pequena reunião em pé com Jo Ramirez, o engenheiro e seus mecânicos.
Algum tempo mais tarde, quando o sol da tarde dava os primeiros sinais de que preparava-se para recolher, vejo o tal diretor no camarote, com seus assessores, dizendo: "Editem as três tomadas e vejam no que dá. Façam alguma coisa com esse material, que ficou uma m....".
Do meu canto, enquanto buscava um último quitute e um refrigerante antes de sair do Templo, ria sozinho. Que cena patética! Podia imaginar o mau-humor do piloto que, preocupado com o melhor acerto do carro, perdera mais de uma hora com aquela filmagem — totalmente desnecessária, para quem gosta de automobilismo.
FONTE PESQUISADA
BRANDÃO, Roberto. Coluna Retrovisor:
Forçando a mão. Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/paginas/grandepremio/materias>.
Acesso em: 02 de junho 2013.
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