terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Noiro Koike, o Fotografo de Ayrton Senna EM CONSTRUÇÃO



"Ayrton viveu intensamente. Num espaço de tempo restrito, ele viveu uma vida plena."
Norio Koike 


Um dossiê sobre O fotógrafo japonês Norio Koike, companheiro de Ayrton Senna que fotografou toda a sua carreira, dentro e fora das pistas. Koike realizou mais de 40 mil fotos do tri-campeão mundial, e após o acidente fatal em Ímola cedeu todo o material ao Instituto Ayrton Senna.

Ayrton Senna e Norio Koike
Foto: Arquivo Pessoal Ayrton Senna


Durante vários anos, o fotógrafo japonês Norio Koike tinha sido fotógrafo particular de Ayrton. Koike o seguiu por toda parte, sempre calmo e discreto, trabalhando incansavelmente e quase despercebida.



Logo após o acidente, ele estava profundamente perturbado. Após a morte de Ayrton tinha sido oficialmente notificados, Norio procurou Leonardo Senna, entregou toda a sua enorme coleção de material fotográfico e desapareceu.Ninguém o viu desde então!




SITE SENNA

Um personagem marcante na vida de Ayrton foi o fotógrafo japonês Norio , que o acompanhava em todos os lugares. Nas pistas ou fora delas. Introvertido, Norio fez milhares de fotos de Senna. Parecia que a máquina fotográfica era uma extensão do seu corpo. Em 1994, Norio tinha comprado uma nova máquina fotográfica, uma Nikon F5, para continuar fotografando Senna. Mas infelizmente aconteceu o acidente e Norio perdeu a motivação de continuar fotografando outra pessoa com aquela máquina. A nova máquina foi dada para Leonardo Senna, irmão de Ayrton, pois Norio não queria mais utilizá-la. Uma recordação que hoje faz parte do Memorial Ayrton Senna, em São Paulo. Além disso, Norio doou mais de 40 mil fotos para a família, que hoje estão sendo utilizadas nesse site.

PS.: Dessas 40 mil fotos que dizem que o Norio doou, a família só utilizou no site deles no máximo 10 fotos, e mais um punhado em livros caríssimo que lançaram. E muitas dessas 40 mil fotos são de Adriane com Ayrton.

ASSISTA UMA ENTREVISTA DE NORIO KOIKE:




***

LIVRO CAMINHO DAS BORBOLETAS DE ADRIANE GALISTEU

Angra, lá vou eu. Pela primeira vez, eu saía de casa a passeio, não a trabalho. Na minha confusão momentânea, embaralhava-se a crise conjugal com delírios profissionais - ir para Hong Kong, por exemplo, de onde um amigo meu, também modelo, Sérgio Finetto, me acenava com perspectivas de um mercado em expansão. Dei até um passo concreto: indicada pela Elite, posei para a Playboy. No Guarujá - uma marina e um barco maravilhosos. O cachê pagaria a passagem e os primeiros tempos de adaptação no Oriente. Cheguei a comentar com o Ayrton, a caminho do heliporto. A reviravolta que aquela viagem nem bem iniciada produziria na minha vida impediu que as fotos de Playboy  fossem publicadas.
O helicóptero esperava por nós no heliporto do prédio de escritórios dos Senna, no bairro de Santana. Como eu sinceramente queria desanuviar, na viagem, sem nenhuma outra intenção além disso, foi um alívio perceber que já esperavam por nós Norio Koike, um incansável japonês freqüentador do circo da Fórmula 1 mas que acabou fotógrafo particular do Ayrton, e duas meninas da Elite, duas outras Danielas, ou congêneres - a Daniela Carvalho e a Danielle Aguiar. Alívio para mim, choque para elas, que não esperavam me ver ali, chegando com o ídolo.
Primeira viagem de helicóptero, e logo com quem. Ele levava ao pé da letra a palavra piloto. Carro, helicóptero, avião, lancha, jet-ski - tinha a mania de estar sempre no comando das operações. Norio, ao lado dele. Nós três atrás.
Eu, sem graça, me contorcendo para não roer as unhas de ansiedade e condenada a servir de Cristo dele:
- Não se preocupe, não. Eu tive uma aulinha de direção antes de a gente vir pra cá.
Tentei me distrair dividindo minha atenção com a paisagem e minha curiosidade com o Norio. Como modelo, eu estava acostumada a filmes e a equipamento fotográfico, mas o japonês extrapolava. Pendurava-se de incontáveis máquinas e lentes, pequenas, médias, grandes, zooms, teleobjetivas, grandes-angulares, etc. Carregava uma caixa com quinhentos filmes - isso mesmo, quinhentos. Fiquei sabendo que, com aquela desconfiança que tinha da imprensa, Ayrton só se deixava fotografar  pelo Norio.
Sob o sol magnífico de Angra, um oriental da cor do tomate era visto, clique, clique, perseguindo, empapado de suor, o seu cobiçado alvo. Depois, revelava pessoalmente os filmes, colocava cromo por cromo nas cartelas e destinava todo o material ao patrão - o qual, minucioso, cauteloso com sua imagem, selecionava dali meia dúzia de fotos, nunca mais do que isso. Norio tinha no sangue aquela elegante discrição que caracteriza sua gente. Só falava inglês - pouco e, penso eu, propositalmente  mal. Tenho certeza de que ele entendia tudo o que nós dizíamos em português. De vez em quando, eu surpreendia um brilho maroto em seus olhinhos vivos e inteligentes. Ele  tratava de despistar.
Ali no helicóptero, entre nervosa e ansiosa, observando o japonês Norio, eu começava a tomar contato com uma parte  importante da vida de Ayrton Senna: aquele clubinho fechado, o Clube dos Amigos do Béco. Uma dezena de pessoas, por aí, que tinha acesso à resguardada senha dessa intimidade: o apelido de família. Gente como o Gordinho, que eu tinha conhecido na pista, o Cristiano, o Júnior, companheiros de rua da Zona Norte de São Paulo.

***

Da praia, Norio disparava seus cliques incansáveis. Uma multidão aportou por lá, à noite. Gente para ficar, gente só de passagem. O proverbial estilo recatado de Ayrton não economizava gentileza quando se tratava de receber os amigos. O QG da animação era o salão de jogos, que ficava num plano um pouco mais alto em relação ao casarão principal. Sinuca, pebolim, pingue-pongue, um telão magnífico, com videolaser, sofás tão aconchegantes como colo de mãe, mesas para a gente escorar o pé -  muito conforto numa atmosfera de descontração praiana. Eu cheguei num vestidinho branco, tênis branco, cabelo molhado do banho, cara limpa. Estava queimada de sol. Estava feliz e me sentia bonita. Fazia tempo que eu não me dava o direito de viver impunemente, de um jeito tão leve, tão gostoso, esse sentimento.
- Você toma o quê? - ele se achegou, gentil. - Não bebo nada. Coca-Cola, talvez.
- Eu a acompanho.

***

Eu passava por um período de grande confusão na minha vida. Aquele dia magnífico em Angra, o sol, o mar, o cenário, as pessoas, tudo aquilo me fazia esquecer passado, presente, futuro. Vivia o momento - era o que importava. Escorrendo de suor, branquelo que só ele, de short e carregado de máquinas, Norio fotografava sem parar. Ouvi um clique quando, no final da tarde, na lancha, voltando do Saco do Céu, Ayrton me surpreendeu com uma prolongada carícia no cabelo - e, logo, um beijo. É possível que, sensível que é, Norio tenha retratado também a felicidade que minha alma buscava inutilmente esconder.
A temida Quinda nos esperava no píer, abanando o rabo. Aproximou-se de mim, quase rebolando, e lambeu minha mão, carinhosa. Foi a primeira a entender.
***

A realidade, a rigor, só bateu no meu rosto quando, já na confusão do aeroporto de Narita, sem perder de vista aquele chapeuzinho do cantor Fagner, que eu vira no vôo, um guarda da alfândega resolveu pegar no meu pé. Eu já estava nervosa. Minhas malas, cheias de creminhos, custaram a aparecer. Agora, o guarda queria ver tudo. Falou em japonês - eu, nada. "Speak English?" "No, no." Abriu um livro, enorme, com várias perguntas em espanhol:
- Você tem drogas? Tem roupas para vender?
Pediu para abrir minha bolsa - aquela Louis Vuitton, enorme, que o Ayrton me deu e que depois foi roubada em Lisboa. Ah, o guarda tinha o pretexto: uma caixa  de bombons de cereja, da Kopenhagen, que Béco adorava. Criada a confusão: pode, não pode. Um brasileiro veio me ajudar da forma mais objetiva possível, em português mesmo:
- Namorada do Ayrton Senna. Senna, Senna. Williams, Williams.
O implicante me devolveu logo a caixa de bombons e saiu correndo para comentar com os outros coisas incompreensíveis, das quais eu entendia apenas "Senna" ou "Brasil". A definitiva salvaguarda estava assegurada por um sorriso familiar e um cabelinho espetado que me aguardava do lado de fora. Norio, o fotógrafo particular do Ayrton, fora me esperar. Animado, sacudia uns jornais japoneses que para mim eram grego. Mas deu para sacar que Ayrton tinha vencido. Cumprimentei o Norio com  um abraço e com a meia dúzia de palavras em inglês que ele e eu podíamos trocar. Entrei no táxi, senti o acalanto daquela pista sem trepidações e dormi mais uma horinha. Era manhã de segunda-feira quando o Norio me deixou no hotel Hilton Tokyo Bay. Bem diante da Disneylândia de Tóquio. Era maravilhoso, dava para ver o castelo.
O manager do hotel chamou dois valeis para me conduzirem à suíte, o que me levou a crer que, em vez de encontrar o Ayrton, encontraria no máximo um bilhetinho carinhoso dele, "tive compromissos, me espere", por aí.
Abri a porta e meu coração veio à garganta. Essa coisa de adolescente. Ele correu para mim, me apertou num abraço e me deu um beijo escandaloso.

***





POSFÁCIO DO LIVRO: AYRTON SENNA OFFICIAL PHOTOBOOK



Norio Koike fotografado por Ayrton Senna em dezembro de1993 retirado do livro Ayrton Senna Official Photobook



FOTOS FINAIS DO LIVRO DE NORIO KOIKE



Foto final do livro de Norio Koike é de Ayrton e Adriane pescando no lago da fazenda do campeão em Tatuí, em um fim de tarde. A foto é uma das preferidas do fotografo japonês.


TODAS AS FOTOS DO POST É DA AUTORIA DE NORIO KOIKE, MENOS A DO FOTOGRAFO PESCANDO QUE É DA AUTORIA DE AYRTON SENNA.



REFERÊNCIAS:

Norio. Disponível em: <http://senna.globo.com/memorialayrtonsenna/html_port/pe_p2.htm>. Acesso em: 24 de dezembro 2013.

GALISTEU, Adriane. Caminho das Borboletas. Edição 1. São Paulo: Editora Caras S.A., novembro de 1994. 

KOIKE, Norio. Ayrton Senna Official Photobook. 1º Edição. São Paulo:  Editora Globo S. A., 1995.


Nenhum comentário:

Postar um comentário