"Ayrton viveu intensamente. Num espaço de tempo restrito, ele viveu uma vida plena."
Norio Koike
Um dossiê sobre O fotógrafo
japonês Norio Koike, companheiro de Ayrton Senna que fotografou toda a sua
carreira, dentro e fora das pistas. Koike realizou mais de 40 mil fotos do
tri-campeão mundial, e após o acidente fatal em Ímola cedeu todo o material ao
Instituto Ayrton Senna.
Ayrton Senna e Norio Koike
Foto: Arquivo Pessoal Ayrton Senna
Durante vários anos, o
fotógrafo japonês Norio Koike tinha sido fotógrafo particular de
Ayrton. Koike o seguiu por toda parte, sempre calmo e discreto,
trabalhando incansavelmente e quase despercebida.
Logo após o acidente, ele estava
profundamente perturbado. Após a morte de Ayrton tinha sido oficialmente
notificados, Norio procurou Leonardo Senna, entregou toda a sua enorme coleção
de material fotográfico e desapareceu.Ninguém o viu desde então!
SITE SENNA
Um personagem marcante na
vida de Ayrton foi o fotógrafo japonês Norio , que o acompanhava em todos os
lugares. Nas pistas ou fora delas. Introvertido, Norio fez milhares de fotos de
Senna. Parecia que a máquina fotográfica era uma extensão do seu corpo. Em
1994, Norio tinha comprado uma nova máquina fotográfica, uma Nikon F5, para
continuar fotografando Senna. Mas infelizmente aconteceu o acidente e Norio
perdeu a motivação de continuar fotografando outra pessoa com aquela máquina. A
nova máquina foi dada para Leonardo Senna, irmão de Ayrton, pois Norio não
queria mais utilizá-la. Uma recordação que hoje faz parte do Memorial Ayrton
Senna, em São Paulo. Além disso, Norio doou mais de 40 mil fotos para a
família, que hoje estão sendo utilizadas nesse site.
PS.: Dessas 40 mil fotos que
dizem que o Norio doou, a família só utilizou no site deles no máximo 10 fotos,
e mais um punhado em livros caríssimo que lançaram. E muitas dessas 40 mil fotos são
de Adriane com Ayrton.
ASSISTA UMA ENTREVISTA DE NORIO KOIKE:
ASSISTA UMA ENTREVISTA DE NORIO KOIKE:
***
LIVRO CAMINHO DAS BORBOLETAS
DE ADRIANE GALISTEU
Angra, lá vou eu. Pela
primeira vez, eu saía de casa a passeio, não a trabalho. Na minha confusão
momentânea, embaralhava-se a crise conjugal com delírios profissionais -
ir para Hong Kong, por exemplo, de onde um amigo meu, também modelo, Sérgio
Finetto, me acenava com perspectivas de um mercado em expansão. Dei até um
passo concreto: indicada pela Elite, posei para a Playboy. No Guarujá - uma
marina e um barco maravilhosos. O cachê pagaria a passagem e os primeiros
tempos de adaptação no Oriente. Cheguei a comentar com o Ayrton, a caminho
do heliporto. A reviravolta que aquela viagem nem bem iniciada produziria na
minha vida impediu que as fotos de Playboy fossem publicadas.
O helicóptero esperava por
nós no heliporto do prédio de escritórios dos Senna, no bairro de Santana. Como eu sinceramente queria desanuviar, na
viagem, sem nenhuma outra intenção além disso, foi um alívio perceber que
já esperavam por nós Norio Koike, um incansável japonês freqüentador do circo
da Fórmula 1 mas que acabou fotógrafo particular do Ayrton, e duas meninas da
Elite, duas outras Danielas, ou congêneres - a Daniela Carvalho e a Danielle
Aguiar. Alívio para mim, choque para elas, que não esperavam me ver ali,
chegando com o ídolo.
Primeira viagem de helicóptero, e logo com quem. Ele
levava ao pé da letra a palavra piloto. Carro, helicóptero, avião, lancha,
jet-ski - tinha a mania de estar sempre no comando das operações. Norio, ao
lado dele. Nós três atrás.
Eu, sem graça, me contorcendo
para não roer as unhas de ansiedade e condenada a servir de Cristo dele:
- Não se preocupe, não. Eu
tive uma aulinha de direção antes de a gente vir pra cá.
Tentei me distrair dividindo minha atenção com a
paisagem e minha curiosidade com o Norio. Como modelo, eu estava acostumada a
filmes e a equipamento fotográfico, mas o japonês extrapolava. Pendurava-se de
incontáveis máquinas e lentes, pequenas, médias, grandes, zooms, teleobjetivas,
grandes-angulares, etc. Carregava uma caixa com quinhentos filmes - isso mesmo,
quinhentos. Fiquei sabendo que, com aquela desconfiança que tinha da imprensa,
Ayrton só se deixava fotografar pelo Norio.
Sob o sol magnífico de Angra, um oriental da cor do
tomate era visto, clique, clique, perseguindo, empapado de suor, o seu cobiçado
alvo. Depois, revelava pessoalmente os filmes, colocava cromo por cromo nas
cartelas e destinava todo o material ao patrão - o qual, minucioso, cauteloso
com sua imagem, selecionava dali meia dúzia de fotos, nunca mais do que isso.
Norio tinha no sangue aquela elegante discrição que caracteriza sua gente. Só
falava inglês - pouco e, penso eu, propositalmente mal. Tenho certeza de
que ele entendia tudo o que nós dizíamos em português. De vez em quando, eu
surpreendia um brilho maroto em seus olhinhos vivos e inteligentes. Ele
tratava de despistar.
Ali no helicóptero, entre
nervosa e ansiosa, observando o japonês Norio, eu começava a tomar contato com
uma parte importante da vida de Ayrton Senna: aquele clubinho fechado, o
Clube dos Amigos do Béco. Uma dezena de pessoas, por aí, que tinha acesso
à resguardada senha dessa intimidade: o apelido de família. Gente como o
Gordinho, que eu tinha conhecido na pista, o Cristiano, o Júnior, companheiros
de rua da Zona Norte de São Paulo.
***
Da praia, Norio disparava seus cliques incansáveis. Uma multidão aportou por lá, à noite. Gente para
ficar, gente só de passagem. O proverbial estilo recatado de Ayrton não
economizava gentileza quando se tratava de receber os amigos. O QG da animação
era o salão de jogos, que ficava num plano um pouco mais alto em relação ao
casarão principal. Sinuca, pebolim, pingue-pongue, um telão magnífico, com
videolaser, sofás tão aconchegantes como colo de mãe, mesas para a gente
escorar o pé - muito conforto numa atmosfera de descontração praiana. Eu
cheguei num vestidinho branco, tênis branco, cabelo molhado do banho, cara
limpa. Estava queimada de sol. Estava feliz e me sentia bonita. Fazia
tempo que eu não me dava o direito de viver impunemente, de um jeito tão leve,
tão gostoso, esse sentimento.
- Você toma o quê? - ele se
achegou, gentil. - Não bebo nada. Coca-Cola, talvez.
- Eu a acompanho.
***
Eu passava por um período de
grande confusão na minha vida. Aquele dia magnífico em Angra, o sol, o mar, o
cenário, as pessoas, tudo aquilo me fazia esquecer passado, presente, futuro.
Vivia o momento - era o que importava. Escorrendo
de suor, branquelo que só ele, de short e carregado de máquinas, Norio
fotografava sem parar. Ouvi um clique quando, no final da tarde, na
lancha, voltando do Saco do Céu, Ayrton me surpreendeu com uma prolongada
carícia no cabelo - e, logo, um beijo. É possível que, sensível que é,
Norio tenha retratado também a felicidade que minha alma buscava inutilmente
esconder.
A temida Quinda nos esperava
no píer, abanando o rabo. Aproximou-se de mim, quase rebolando, e lambeu minha
mão, carinhosa. Foi a primeira a entender.
***
A realidade, a rigor, só
bateu no meu rosto quando, já na confusão do aeroporto de Narita, sem perder de
vista aquele chapeuzinho do cantor Fagner, que eu vira no vôo, um guarda da alfândega
resolveu pegar no meu pé. Eu já estava nervosa. Minhas malas, cheias de
creminhos, custaram a aparecer. Agora, o guarda queria ver tudo. Falou em
japonês - eu, nada. "Speak English?" "No, no." Abriu um
livro, enorme, com várias perguntas em espanhol:
- Você tem drogas? Tem roupas
para vender?
Pediu para abrir minha bolsa
- aquela Louis Vuitton, enorme, que o Ayrton me deu e que depois foi roubada em
Lisboa. Ah, o guarda tinha o pretexto: uma caixa de bombons de cereja, da
Kopenhagen, que Béco adorava. Criada a confusão: pode, não pode. Um brasileiro
veio me ajudar da forma mais objetiva possível, em português mesmo:
- Namorada do Ayrton Senna.
Senna, Senna. Williams, Williams.
O implicante me devolveu logo
a caixa de bombons e saiu correndo para comentar com os outros coisas
incompreensíveis, das quais eu entendia apenas "Senna" ou
"Brasil". A definitiva
salvaguarda estava assegurada por um sorriso familiar e um cabelinho espetado
que me aguardava do lado de fora. Norio, o fotógrafo particular do Ayrton, fora
me esperar. Animado, sacudia uns jornais japoneses que para mim eram grego. Mas
deu para sacar que Ayrton tinha vencido. Cumprimentei o Norio com um
abraço e com a meia dúzia de palavras em inglês que ele e eu podíamos trocar.
Entrei no táxi, senti o acalanto daquela pista sem trepidações e dormi mais uma
horinha. Era manhã de segunda-feira quando o Norio me deixou no hotel Hilton
Tokyo Bay. Bem diante da Disneylândia de Tóquio. Era maravilhoso, dava para ver
o castelo.
O manager do hotel chamou dois
valeis para me conduzirem à suíte, o que me levou a crer que, em vez de
encontrar o Ayrton, encontraria no máximo um bilhetinho carinhoso dele,
"tive compromissos, me espere", por aí.
Abri a porta e meu coração
veio à garganta. Essa coisa de adolescente. Ele correu para mim, me apertou num
abraço e me deu um beijo escandaloso.
POSFÁCIO DO LIVRO: AYRTON SENNA OFFICIAL PHOTOBOOK
Norio Koike fotografado por Ayrton Senna em dezembro de1993 retirado do livro Ayrton Senna Official Photobook
FOTOS FINAIS DO LIVRO DE NORIO KOIKE
Foto final do livro de Norio Koike é de Ayrton e Adriane pescando no lago da fazenda do campeão em Tatuí, em um fim de tarde. A foto é uma das preferidas do fotografo japonês.
TODAS AS FOTOS DO POST É DA AUTORIA DE NORIO KOIKE, MENOS A DO FOTOGRAFO PESCANDO QUE É DA AUTORIA DE AYRTON SENNA.
REFERÊNCIAS:
Norio. Disponível em: <http://senna.globo.com/memorialayrtonsenna/html_port/pe_p2.htm>. Acesso em: 24 de dezembro 2013.
GALISTEU, Adriane. Caminho das Borboletas. Edição 1. São Paulo: Editora Caras S.A.,
novembro de 1994.
KOIKE, Norio.
Ayrton Senna Official Photobook. 1º Edição. São Paulo: Editora Globo S. A., 1995.
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