Entrevista concedida a Celso Sabadin e Francisco Ucha.
Publicada no Jornal da ABI em março de 2011
Publicada no Jornal da ABI em março de 2011
Paralelamente ao trabalho como diretor da revista Playboy, entre 1991 até o final de 1994, Juca trabalhava no Jornal da Globo como ancora e comentarista esportivo. Ele ficou na Globo de 1988 até 1994, e revela que era muito complicado “porque vira e mexe eu dava minhas cotoveladas, e causava problemas.”, disse em entrevista recente. Ele recorda um episódio que fez um comentário sobre Senna no telejornal e por isso foi chamado atenção pela cúpula da emissora.
Juca Kfouri entrega o troféu de Esportista do Ano de Placar
em 1986 para Ayrton Senna.
Foto de André Boccato
Veja o trecho da reportagem:
Havia assuntos dos quais você não podia falar?
Nunca. Te conto exatamente as crises maiores, o que eu não pude falar, porque são jeitos engraçados e diferentes de resolver as coisas. Primeiro, deixar claro, a Globo pra mim era bico, quase um hobby. Isto era muito claro para a TV Globo. Eu não faria nada na Globo que atrapalhasse meu trabalho na Abril. Eu fui surpreendido pelo convite para trabalhar na TV Globo exatamente pelas minhas características. Armando Nogueira um belo dia me chama com estas palavras: “Precisamos ter uma cara inteligente no esporte, quero que você venha fazer o Jornal da Globo e comentar junto.” Lá fui eu. O Armando era claro. No ato da contratação, ele me falou: “Quero que fique claro pra você que estou aqui para defender os interesses do Doutor Roberto Marinho e das Organizações Globo. Então, procure evitar de falar de João Havelange, que é muito amigo do Dr. Roberto. Se tiver que falar me consulte antes para a gente ver de que jeito.” Tudo bem. Diferente dos termos da Editora Abril. É uma coisa profissional, que você aceita ou não. Toquei minha vida, falando as coisas que eu queria. Um belo dia, o Presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo Farah, mandou uma carta para o Armando, dizendo: “Eu não entendo. Vocês compram a preço de ouro o Campeonato Paulista e o colunista de vocês esculhamba a competição, dizendo que ela não tem a menor importância”. O Armando me telefonou: “Juca, estou te mandando uma carta que recebi do Farah. Te peço para você responder, mandar de volta para mim, para eu assinar. Eu acho que você responderá melhor do que eu. Faço questão de que você diga que aqui na Rede Globo há uma clara separação entre a compra de direitos e o jornalismo”. Escrevi uma carta para o Farah, em nome do Armando, me defendendo. Esta foi a primeira. Tempos depois houve uma briga do Ayrton Senna com o Balestre, Presidente da FIA. Eu não me metia em Fórmula 1, mas a briga estava acesíssima, e eu fiz um comentário dizendo que o Senna inevitavelmente teria que recuar porque ele era muito moço ainda para correr na F-Indy, que era o que acabaria acontecendo se ele peitasse o Balestre. No dia seguinte, o Armando me telefona: “Juca, você gosta de Fórmula 1?”. “Você sabe que não”, respondi. “Você entende de Fórmula 1?”, ele retrucou. “Um pouco, né, Armando?”. “Então vamos combinar uma coisa: deixa que o Galvão Bueno e o Reginaldo Leme falem do assunto. Estamos aqui ofendidíssimos porque você fez uma gozação com Ayrton Senna. Então, não te mete nisso, tá?”
Nunca. Te conto exatamente as crises maiores, o que eu não pude falar, porque são jeitos engraçados e diferentes de resolver as coisas. Primeiro, deixar claro, a Globo pra mim era bico, quase um hobby. Isto era muito claro para a TV Globo. Eu não faria nada na Globo que atrapalhasse meu trabalho na Abril. Eu fui surpreendido pelo convite para trabalhar na TV Globo exatamente pelas minhas características. Armando Nogueira um belo dia me chama com estas palavras: “Precisamos ter uma cara inteligente no esporte, quero que você venha fazer o Jornal da Globo e comentar junto.” Lá fui eu. O Armando era claro. No ato da contratação, ele me falou: “Quero que fique claro pra você que estou aqui para defender os interesses do Doutor Roberto Marinho e das Organizações Globo. Então, procure evitar de falar de João Havelange, que é muito amigo do Dr. Roberto. Se tiver que falar me consulte antes para a gente ver de que jeito.” Tudo bem. Diferente dos termos da Editora Abril. É uma coisa profissional, que você aceita ou não. Toquei minha vida, falando as coisas que eu queria. Um belo dia, o Presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo Farah, mandou uma carta para o Armando, dizendo: “Eu não entendo. Vocês compram a preço de ouro o Campeonato Paulista e o colunista de vocês esculhamba a competição, dizendo que ela não tem a menor importância”. O Armando me telefonou: “Juca, estou te mandando uma carta que recebi do Farah. Te peço para você responder, mandar de volta para mim, para eu assinar. Eu acho que você responderá melhor do que eu. Faço questão de que você diga que aqui na Rede Globo há uma clara separação entre a compra de direitos e o jornalismo”. Escrevi uma carta para o Farah, em nome do Armando, me defendendo. Esta foi a primeira. Tempos depois houve uma briga do Ayrton Senna com o Balestre, Presidente da FIA. Eu não me metia em Fórmula 1, mas a briga estava acesíssima, e eu fiz um comentário dizendo que o Senna inevitavelmente teria que recuar porque ele era muito moço ainda para correr na F-Indy, que era o que acabaria acontecendo se ele peitasse o Balestre. No dia seguinte, o Armando me telefona: “Juca, você gosta de Fórmula 1?”. “Você sabe que não”, respondi. “Você entende de Fórmula 1?”, ele retrucou. “Um pouco, né, Armando?”. “Então vamos combinar uma coisa: deixa que o Galvão Bueno e o Reginaldo Leme falem do assunto. Estamos aqui ofendidíssimos porque você fez uma gozação com Ayrton Senna. Então, não te mete nisso, tá?”
FONTE PESQUISADA
SABADIN, Celso; UCHA, Francisco. Juca
Kfouri: Ele não desiste nunca. Disponível em: <http://doispontosblog.wordpress.com/entrevistas/juca-kfouri/>.
Acesso em: 06/06/2014.
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