Após crer que
tinha problemas cardíacos, piloto procurou especialista para melhorar
condicionamento e acabou sendo o precursor na preparação de corpo e mente na
F-1
02/05/2014 07h50 - Atualizado em 02/05/2014
10h22
Por GloboEsporte.com*
Rio de Janeiro
Nuno e Senna trabalharam juntos durante muito tempo na
preparação física e espiritual do piloto (Foto: Arquivo pessoal)
James Hunt era fumante e piloto de Fórmula 1 (Foto:
Divulgação)
Durante os anos 70, a preparação física não
era algo levado muito à risca na Fórmula 1. Era comum até ver alguns pilotos
fumando antes dos GPs - bem exemplificado por James Hunt, britânico campeão de
76. Em uma época em que, sem o aparato tecnológico, o esforço exigido levava o
corpo humano ao extremo, o cuidado com a boa forma era paradoxalmente ignorado.
Entretanto, em 1983,Ayrton
Senna começou a mudar essa história. Convencido de que tinha um
problema cardíaco devido aos desmaios e à imensa estafa que sentia após as
corridas ainda nas categorias de base, decidiu procurar um especialista, pois
tinha receio de não conseguir completar as provas mais exigentes na F-1.
Consultou-se com Nuno Cobra, para que uma melhor preparação aperfeiçoasse seu
desempenho na pista. Deu certo. Muito certo. A condição do tricampeão evoluiu e
permitiu façanhas que o tornaram "imortal". Mal sabia ele que estava
ali mais um legado, seguido por quase todo o grid atual, e que inspirou o maior
nome que surgiu depois dele: Michael Schumacher. Na semana em que completam-se
20 anos do adeus a Ayrton, o GloboEsporte.com conversou com o "guru"
Nuno Cobra, que contou que o trabalho realizado com o aluno Senna culminou em
uma relação ainda mais especial.
- O trabalho com o Ayrton foi
monumental para o meu desenvolvimento, tanto profissional, como pessoal.
Criamos uma amizade que ultrapassou a do aluno. Foi algo muito bonito e
profundo. Ele passou a ser um filho para mim – relembrou Nuno.
Confira o bate-papo abaixo:
GloboEsporte.com: Qual o tamanho da
importância pessoal e profissional que o trabalho com o Ayrton teve na sua
vida?
Cobra ressalta evolução pessoal e profissional que teve no
trabalho com Senna (Foto: Agência Estado)
Nuno Cobra: Como ele era
uma pessoa muito difícil, o crescimento foi ainda maior. No campo pessoal, esta
dificuldade me trouxe mais persistência e desenvolveu muito minha capacidade de
tolerância. No profissional, ter em mãos uma pessoa tão magra, frágil e fraca
me ofereceu a possibilidade de colocar todo o meu método em prática de uma
forma exuberante. Ao perceber, logo de início, que ele tinha o talento do
"fazer", e seguia de forma absolutamente exata tudo que eu lhe pedia,
não apenas no sono, na alimentação e até mesmo na respiração e concentração, vi
claramente que tinha em minhas mãos um extraordinário atleta.
Na época, seu método era famoso e
controverso, pois pregava que a modificação física passava necessariamente pelo
crescimento mental, espiritual e emocional do atleta. Com o Ayrton sendo tão ansioso,
metódico e inquieto, como era trabalhar sua mente? Era mais difícil do que o
físico?
Este assunto é palpitante e
de difícil entendimento ainda hoje. No meu método, uso o corpo como uma
impressionante ferramenta para obter a transformação total da pessoa. Não se
trabalha a mente pela mente, este trabalho ocorre exatamente no momento que seu
corpo consegue realizar façanhas antes jamais sonhadas. O fato de ele ser
naquele início de 84 (ano de estreia na F-1) fisicamente muito fraco ofereceu
muito mais oportunidade de desenvolver sua mente, de fortalecer suas emoções e
de elevar o seu espírito. Como para ele levantar - com a força de seu braço - o
seu corpo na barra fixa era absolutamente impossível, quando ele conseguiu,
depois de quase um ano de persistente e dedicado trabalho, dar uma
"oitava" (exercício difícil e exuberante) nesta mesma barra, foi
tocado por algo indescritível. Ele fez do impossível algo muito fácil e neste
momento de tal conquista extraordinária e superação jamais sonhada, tudo nele
se transformou completamente.
Em sua temporada de estreia, em 1984, Ayrton Senna teve que
lidar com o desgaste físico (Foto: Getty Images)
Ainda que o desgaste daquela época fosse
enorme, o Senna foi o precursor na preparação física dos pilotos, já nos anos
80. Por que exatamente ele se interessou pelas atividades? Quais os primeiros
pilotos da época a seguirem seu exemplo?
Ele foi realmente o precursor desse trabalho na
Formula 1, e o piloto que primeiro passou a se interessar demais por isto foi o
Schumacher, que tinha no início de sua carreira um quarto repleto de fotos do
Ayrton e muitos artigos meus traduzido, segundo ele mesmo. Nuno Cobra
O Ayrton me procurou
justamente pela consciência que tinha do organismo muito fraco que possuía.
Havia sofrido muito na Fórmula 3, que era uma corrida fraca que durava apenas
25 minutos. Ele me disse, quando nos encontramos na primeira vez, que nem sabia
como chegava, fora quando acordava na enfermaria. Então ele tinha muita
consciência que com aquele seu organismo tão frágil não conseguiria correr
na Fórmula 1, que necessitava ficar correndo por 2 horas. O interessante é o
que aquilo que era o seu ponto mais fraco ficou sendo o seu ponto mais forte.
Ele foi realmente o precursor desse trabalho na Formula 1, e o piloto que
primeiro passou a se interessar demais por isto foi o Schumacher, que tinha no
início de sua carreira um quarto repleto de fotos do Ayrton e muitos artigos
meus traduzido, segundo ele mesmo. O interessante que quando ficou mais falado
o trabalho de outros pilotos, o Ayrton sempre me dizia: olhe Nunão, (como ele
dizia) podem querer tentar fazer qualquer coisa, mas ninguém vai conseguir, nem
de longe, fazer um trabalho como nosso.
Ayrton foi o precursor da preparação física e
mental na Formula 1 (Foto: Agência Estado)
Os desmaios e a estafa física eram
comuns para o Senna. Isso se dava apenas pelo esforço maior nos carros de
antigamente, e sua fraca preparação inicial, ou porque o Ayrton era tão
comprometido que iria até o fim, independentemente das consequências?
O ano de 84 foi realmente
muito difícil para ele. A dificuldade não era devido aos carros que realmente
eram completamente diferentes destes de agora - tanto é que no ano passado o
Hamilton foi dar umas voltas no famoso McLaren do Ayrton, e já na terceira
volta parou dizendo que era por demais difícil dirigir aquele carro tão pesado
e que corria demais... Apesar de nossa exigente e científica preparação, ele
sofreu demais mesmo. Ele era muito frágil, como disse, e afinal, mágica não
existe! Mas, depois, também ficou fácil demais.
"Fazer o Ayrton entender que tinha que correr foi um
desafio inimaginável", relata Nuno (Foto: Agência Estado)
É dito que antes de um GP, ele ficava
alguns dias sem sexo. Se sim, por que o fazia?
Não é correto. Afinal, ele
tinha necessidade de se colocar num estado mais tranquilo e nada melhor que
sexo para isto. Estando bem preparado, o sexo só ajuda em qualquer
circunstância. É necessário apenas bom senso.
Semana #SennaSempre
Assista:
Nuno Cobra Lembra de Ayrton Senna
FONTE PESQUISADA
"Guru" Nuno Cobra lembra de Senna
como "filho" e espelho para Schumi. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/senna-para-sempre/noticia/2014/05/guru-nuno-cobra-lembra-de-senna-como-filho-e-espelho-para-schumi.html#atleta-ayrton-senna>.
Acesso em: 15 de julho 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário