sábado, 12 de julho de 2014

Lições de Uma Surra

Vitória de Ayrton Senna na F1


Fábio Seixas
folha.uol.com.br
11/07/2014 02h00


A bola ainda estava rolando, o vexame estava sendo construído, o placar ainda não estava consumado. Mas o país já se jogava na discussão sobre as causas do 7 a 1.

Catedráticos raivosos esmiuçavam os lances, comentaristas indignados criticavam decisões que nunca haviam sido contestadas.
O consenso hoje em todo o Brasil, à exceção da comissão técnica e da Dona Lúcia, é de que muita coisa precisa mudar para "nosso futebol" não mergulhar numa crise.

Esta coluna surge de uma piada. Porque, claro, houve quem lembrasse dos sete títulos de Schumacher. Pela coincidência numérica. E pelo impacto da lavada.
O que o alemão fez entre 1994 e 2004 foi tão impactante, tão destruidor, tão avassalador, tão humilhante quanto o jogo do Mineirão.

Com duas diferenças. O placar ficou diluído ao longo de 11 temporadas, o que talvez tenha diminuído o baque do resultado. E as vítimas foram todos os outros pilotos, todas as outras bandeiras.
Teve quem se mexesse.

A França, por exemplo. Entre os anos 70 e 80, houve momentos em que uma dezena de pilotos franceses alinhava no grid. A coisa começou a minguar, minguar... Até que a França ficou sem nenhum piloto por duas temporadas, 2010 e 2011.

Mas já havia um trabalho nos bastidores. A federação local já tinha percebido, com anos de antecedência, que um hiato seria inevitável. E tratou de agir, para que esse intervalo fosse o mais breve possível.

Deu resultado. Em 2012, eram três os franceses no grid de Melbourne: Grosjean, Pic e Vergne.

A Alemanha, então... Aproveitou a alta de Schumacher para capitalizar. Usou o "boom" para formar talentos, atrair patrocinadores para seus projetos, crescer.
Schumacher estreou na F-1, em 1991, como o único alemão do grid. Em 2014, são três. Um deles, líder do campeonato. Outro, campeão nas últimas quatro temporadas. E Hulkenberg é "world champion material", como gosta de dizer Emerson.

Por aqui, ficamos na mesma. Assistimos de camarote aos shows de Schumacher –em cinco de seus títulos, ele tinha um brasileiro como companheiro de equipe.
O automobilismo brasileiro sofreu um 5 a 0, para ser conservador.
E não se mexeu.

Nos últimos dois anos, o país teve apenas um piloto na F-1, correndo o risco de ficar a pé a qualquer momento. Há Nasr na GP2, com boas chances de dar o salto para 2015. E só.

A preocupação futebolística que agora toma conta de todas as conversas, das rodas de bares aos salões de cabelereiros, não existiu no automobilismo. Ou ficou restrita a espaços especializados como este.


O futebol brasileiro vai se recuperar da pancada. O automobilismo ainda está na lona, nocauteado.




FONTE PESQUISADA


SEIXAS, Fábio. Lições de uma surra. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/fabioseixas/2014/07/1484114-licoes-de-uma-surra.shtml>. Acesso em: 12 de julho 2014.

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