Ayrton e Adriane viveram um grande amor
Por Mariliz Pereira Jorge
Folha de S.Paulo
folha.uol.com.br
17/07/2014
Com todo respeito a quem diz
que viver só é uma questão de escolha, não sou metade evoluída. Pra mim viver
um grande amor é questão de sobrevivência. Desde que me conheço por gente e que
conheço gente do mundo todo, toda gente que eu conheço quer viver um grande
amor.
Que graça teria a vida se não
fosse pra isso, se não fosse para encontrar um amor grande desses? Um desses
que fosse para sempre. Um desses de perder o sono, a fome, o tempo. Um que
balance, que chacoalhe, que acabe com as unhas, com o juízo, com a sanidade
mental. Mas que depois acalme a alma e sossegue o coração.
Mas para viver um grande amor
é preciso viver amores que não sejam grandes, amores que venham pela metade,
que cheguem pra depois partir. Daqueles que não deixem saudade, apenas
lembranças, e a certeza de que não eram grandes o suficiente.
Passei minha vida procurado
por esse amor. Pensei ter encontrado aos 15, quando a gente acha que vai morrer
quando o grande amor, que nem era tão grande, mas a gente não sabia que não era
grande, acaba.
Depois vieram o Marcio,
Andre, o Justin, o Guilherme, o Felipe. Foram todos meus amores, mas nenhum o
tal grande amor, que você só descobre que é o tal quando finalmente se depara
com algo que nunca sentiu, nunca viveu e nunca experimentou.
Até que um dia, você dá de
cara com ele. E nem reconhece, porque ninguém sabe que cara tem o seu bendito
grande amor. Não vem com etiqueta, não brilha no escuro, não dá 'match' quando
aparece na sua frente.
E você pode perder o bonde do
grande amor. Tenho certeza que ele passa algumas vezes por nossa vida, mas nem
sempre estamos prontos ou queremos subir - e às vezes é ele que não para. Você
nem percebe que pode ser o tal grande amor, porque amores grandes, pequenos e
vagabundos começam quase sempre do mesmo jeito.
Eles vêm recheados de
sorrisos descontrolados, abraços calorosos, beijos sem-vergonha, conversas sem
fim e uma vontade de que as noites não acabem, que os finais de semana sejam
eternos. Você quer dar bom dia. Bom almoço. Boa noite. Bom banho. Boa academia.
Você só pensa nele o tempo inteiro.
Mas o grande amor quando é
grande mesmo continua assim pelos dias que se seguem, pelos meses que se vão,
pelos anos que passam. Dá trabalho. É preciso ter um saco de paciência porque
ele nunca chega pronto. A gente precisa sovar, amassar e deixar descansar para
que o amor cresça e se torne o grande amor.
E ele cresce. E quando você
menos espera percebe que não tem apenas um grande amor. Tem um amigo, um
companheiro, um parceiro. Alguém que está ali pra encarar numa boa toda a
ladainha da alegria e da tristeza, da saúde e da doença. E tudo começa a fazer sentido.
E, então, é preciso estar
preparado para dizer eu te amo sem amar mais ou menos, e encarar o tranco de
alguém que te ama como você sempre quis, mas nem sabia como era porque nunca
tinha vivido um grande amor. É preciso deixar que o amor sufoque, que invada o
coração e o pulmão, porque não há grande amor que deixe o fôlego impune e a
mente sadia.
Não, não existe a sorte de um
grande amor tranquilo.
Esteja preparado para ter
briga e ter raiva, ter choro e ter vela. E depois pegar a raiva, apartar a briga
e implorar pelas pazes se preciso for. Mais vale um grande amor no coração do
que ter razão numa briga de amor.
E depois de tudo, no fim de
tudo, quando você deita naquele braço, no meio daquele abraço, tem a certeza de
que aquele é o melhor lugar do mundo. E percebe que o seu mundo ficou melhor
assim.
Pode ser que ainda inventem,
pode ser que para muita gente haja outras motivações, mas eu ainda não conheço
nesta vida nada que seja melhor do que viver uma história a dois.
Ao meu grande amor.
FONTE PESQUISADA
JORGE, Mariliz Pereira. Para viver um grande
amor. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marilizpereirajorge/2014/07/1487197-para-viver-um-grande-amor.shtml>.
Acesso em: 18 de julho 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário