Adriane Galisteu
Foto: Luiza Dantas/CZN
"Não tenho raiva da família do
Ayrton (Senna) nem das pessoas que me viraram a cara. E olha que foi muita
gente! Quando o Ayrton morreu, fui totalmente ignorada pela família. Passei
quatro dias ligando e ouvia a mesma resposta da empregada: ninguém estava em
casa. Eu não conseguia entender por que estava sendo rejeitada daquela
maneira. Senti muita raiva de todos, até de Deus. Como é que a vida podia ter
me dado aquela rasteira? Eu já tinha perdido meu pai e aí perdi o cara que eu
amava. Pouco depois, descobri que meu irmão estava com aids. Temendo um
contágio, parte da minha família se afastou dele."
Leia a matéria completa:
Revista Quem Acontece
Histórias de perdão
Edição 365 - Set/07
Quando Ayrton
Senna morreu, no dia 1º de maio de 1994, durante uma corrida do Campeonato
Mundial de Fórmula 1 na Itália,Adriane Galisteu, na época uma modelo de 21
anos, estava com o piloto havia um ano e nem pôde se despedir direito do
namorado. A família Senna não permitiu que, no velório, ela ficasse ao lado dos
parentes e dos amigos - e Adriane teve de se misturar aos fãs. As honras de
ex-namorada ficaram com Xuxa Meneghel. Depois do episódio, em 1995,
Adriane lançou o livro O Caminho das Borboletas, em que conta a sua
relação com o piloto. Por isso, ganhou a pecha de oportunista. Hoje, diz que
superou a mágoa e a tristeza daqueles tempos - e também as que vieram depois.
'Aprendi a importância do
perdão cedo. Quando tinha 15 anos, menti para minha mãe dizendo que iria passar
uns dias com uma amiga e os pais dela no Guarujá e viajei com um namorado para
Arujá. Naquele fim de semana, meu pai faleceu. Minha mãe me procurou e não me
achou. Mas eu fiquei com um sentimento ruim e decidi voltar mais cedo para casa.
Ainda vi meu pai pela última vez. Ajoelhei ao lado do caixão e pedi perdão a
minha mãe.
Não tenho problema em pedir
perdão. Mas também acho que não adianta ser da boca para fora. É preciso se
esforçar para não cometer os mesmos erros. O perdão é um exercício diário. Não
sinto raiva nem guardo mágoa. Não sou santa, mas isso não faz parte do meu
temperamento. Acredito na lei da atração e no poder do pensamento. O que você
deseja de ruim para os outros um dia volta para você. Guardar mágoa é criar um
câncer.
Não tenho raiva da família do
Ayrton (Senna) nem das pessoas que me viraram a cara. E olha que foi muita
gente! Quando o Ayrton morreu, fui totalmente ignorada pela família. Passei
quatro dias ligando e ouvia a mesma resposta da empregada: ninguém estava em
casa. Eu não conseguia entender por que estava sendo rejeitada daquela
maneira. Senti muita raiva de todos, até de Deus. Como é que a vida podia ter
me dado aquela rasteira? Eu já tinha perdido meu pai e aí perdi o cara que eu
amava. Pouco depois, descobri que meu irmão estava com aids. Temendo um
contágio, parte da minha família se afastou dele.
Foi o Braga (o
empresário Antônio de Almeida Braga, amigo de Senna) quem sugeriu que eu
escrevesse o livro como forma de recuperar a minha identidade. Até então, eu
era apenas a 'fulana' do Ayrton; me chamavam de 'viúva alegre', de
'oportunista'. Consegui superar a raiva e a tristeza. Não importa como a
tragédia entra na sua vida. Você precisa se levantar. Atualmente ajudo os
mesmos familiares que viraram as costas para o meu irmão. Entendi que eles não
tinham informação para conviver com a doença. Em relação à família do Ayrton,
eu os perdoo. Por ter presenciado o sofrimento da minha mãe com a perda do
filho, entendo a mãe do Ayrton. Se os pais do Ayrton ou a Viviane (irmã
dele) me ligassem para tomar um café, largaria tudo para ir.
FONTE PESQUISADA
Histórias de perdão.
Disponível em: <http://revistaquem.globo.com/EditoraGlobo/componentes/article/edg_article_print/1,3916,1626319-6129-1,00.html>.
Acesso em: 23 de janeiro 2012.
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