Jo Ramirez, amigo de Senna e ex-coordenador chefe da equipe McLaren narra em sua autobiografia, lançada em 2005, tudo que
presenciou naquele trágico final de semana em San Marino, onde Senna perdeu a vida
O ano de 1994 não ficará
gravado na nossa mente por não ter vencido um Grande Prêmio (Ele se refere a
equipe McLaren), mas porque perdemos o melhor embaixador do nosso esporte
durante o fatídico fim de semana de 01 de maio. O Grande Prêmio de San Marino foi
o primeiro que Ayrton Senna venceu em uma McLaren e, infelizmente, foi a última
corrida de sua brilhante vida.
O trágico fim de
semana começou com o espetacular acidente de Rubens Barrichello, na Jordan, que
o deixou com o braço direito machucado e pequenos cortes e feridas no nariz e
boca. Ele foi salvo com uma noite no hospital. Mas o mais memorável para
'Rubinho' era que seu ídolo Ayrton Senna veio visita-lo no hospital. Só tinha
um ano na Fórmula Um e já se estava moldando a imagem de seu grande herói e
compatriota.
Acidente Barrichello em Ímola 1994
Senna, Betise Assumpção (assessora) e Rubens Barrichelo
Senna conversa com Rubinho após o novato brasileiro deixar hospital
No dia seguinte,
o segundo de qualificações, o jovem novato austríaco Roland Ratzenberger perdeu
o controle de seu Simtek-Ford poucos segundos depois de ficar sem sua asa
dianteira na parte mais rápida da pista após a curva Tamburello e morreu com o
impacto. O mundo do automobilismo ficou horrorizado, tinha passado oito anos desde
que um pilotou morreu em um carro de Formula Um e, portanto, não estávamos acostumados com as tragédias que em décadas anteriores eram mais comuns. Elio
de Angelis foi o último que nos havia deixado desta maneira, enquanto fazia
testes em Paul Ricard.
Senna assiste morte de Ratzenberger pelo monitor
Ayrton Senna conheceu
Ratzenberger um dia antes e lhe havia dado boas-vindas a Fórmula Um, pelo que
Roland ficou muito grato. Após o acidente Ayrton ficou muito triste e passou um
tempo conversando com o professor Sid Watkins, médico e ressuscitador do circo
da Fórmula Um, uma grande pessoa, amado e respeitado por todos.
Ayrton Senna conversa com Sid Watkins após a morte de Ratzenberger
Apesar de Ayrton ser mais do que ciente dos riscos que existem na condução destes carros e falava frequentemente sobre esse tema, se deprimiu muito quando ele teve que encarar a realidade. Não importa o quão seguro são os carros e circuitos, de vez em quando o esporte tem suas vítimas. Ayrton havia apoiado o Professor Watkins em sua campanha para melhorar a assistência imediata na pista, a qual hoje é excelente.
Ayrton chegou a
Imola com seu irmão Leonardo, deixando sua namorada, Adriane, em casa, na
Quinta do Lago, Portugal, e ainda que estivesse rodeado de amigos, em situações
como esta lhe fazia falta a companhia de uma mulher. No sábado, depois do
treino, me pediu para reserva-lhe um helicóptero para depois da corrida, para
levá-lo de volta para Forli, onde estava estacionado seu avião. Ele queria
voltar o mais rápido possível junto a Adriane. Ele disse que estar na Williams
era muito diferente de estar na McLaren, já que os pilotos eram tratados como
um empregado e ninguém se encarregava de cuidar de suas necessidades. Também
disse que era muito mais fácil pedir a mim (a reserva do helicóptero para se
encontrar com Adriane) porque eu conhecia todo mundo em toda a parte. Para mim,
isso foi um sinal da continuidade da nossa amizade, ainda que agora lutávamos
sob bandeiras diferentes.
Jo Ramirez acredita que seria importantíssimo para Ayrton a companhia de Adriane naquele fim de semana, faria bem a ele.
Uma breve explicação sobre o motivo de
Adriane não estar com ele em Ímola
Naquele fim de semana Ayrton estava no auge de uma
briga com a família, que não aceitavam as suas decisões referentes a ele e
Adriane. O pai seu Milton já tinha feito de um tudo para separa-los sem sucesso
e isso irritou e entristeceu profundamente Ayrton. E por essa briga toda com a
família, sabendo que seu irmão, enviado pela família a Ímola, tentaria mais uma
vez, ele achou melhor deixar Adriane o esperando em casa, no Algarve em
Portugal.
Continuando...
Na manhã
seguinte fui até ele e lhe dei detalhes sobre o helicóptero. Ele ainda parecia
um pouco deprimido, mas mais feliz com o carro depois do warm up matutino.
Senna qualificou na pole, na Posição de Privilegio mas foi ele e não o carro
quem o havia conseguido. O Williams FW16 ainda não era bom o suficiente e tinha
sido essa determinação quase sobre-humana e desejo de sucesso que, muitas
vezes, levou-o a alcançar metas que nenhum outro piloto poderia conseguir.
Adicionado a isso, havia o fato de estar desesperado porque seu novo rival,
Michael Schumacher, lhe colocou uma vantagem de 20 pontos em apenas duas
corridas. Voltei a vê-lo na reunião de pilotos, onde permaneceu por um bom
tempo conversando com Michael sobre como fazer mais seguras as corridas.
Depois, enquanto
eu caminhava em direção ao grid, achei Alain Prost, que estava em Imola como
comentarista para a televisão francesa, e me disse com grande sinceridade e
satisfação que ele teve uma conversa muito boa com Senna, que foi muito
simpático e talvez, depois de tudo o que aconteceu eles poderiam acabar sendo
amigos! Parecia que a rivalidade de anos entre estes dois grandes campeões e
cinco anos de batalha finalmente chegou ao fim.
A corrida começou tal como o
fim de semana: o Benetton B194 de J.J. Lehto, tinha permanecido no grid de
largada com um motor morto e a Lotus 107 de Pedro Lamy, acabou colidindo contra
o carro de Lehto, destruindo ambos e deixando a pista completamente cheia de
pedaços de peças soltas, enquanto que um pneu tinha voado para as
arquibancadas ferindo alguns espectadores. Em vez de parar a corrida com uma
bandeira vermelha, enviaram um carro de segurança durante cinco voltas,
enquanto eles limparam a bagunça.
Ayrton era o
líder e ele percebeu que o carro de segurança estava prestes a voltar para o
pit lane. Ele imediatamente reduziu a velocidade e, em seguida, acelerou como
louco uma vez que entrou no grid de largada deixando os seus adversários surpresos.
No entanto, no final da volta seguinte estava meio segundo à frente de Michael
Schumacher, que percebeu que Ayrton estava conduzindo a Williams, que batia com
força contra o chão e tinha certeza de que teria que diminuir a velocidade mais
cedo ou mais tarde. Mas talvez nem mesmo Michael compreendeu o desejo de vencer
de Ayrton, nada neste mundo teria o feito diminuir a velocidade. Simplesmente
odiava chegar em segunda lugar e talvez isto, mais do que tudo, foi o que lhe
custou a vida, a sua total incapacidade de aceitar a derrota.
Acidente fatal de Senna
No início da
sétima volta, Michael, atrás de Ayrton, viu outra vez a Williams bater no chão
na entrada da curva Tamburello e sair da pista a 300 quilômetros por
hora. Na verdade, tamburello não é uma curva, é uma reta inclinada para cima e
ninguém levanta o pé do acelerador nesse ponto. Existem mil teorias sobre o que
realmente aconteceu, especialmente porque (o acidente fatal) foi na Itália e
lá, segundo suas normas, não há acidentes. Alguém devia ser responsável e
realizou uma investigação que durou vários anos. No entanto, eu acho que você
não precisa ser um cientista espacial para descobrir que o melhor piloto do
mundo não cometeu nenhum erro na Tamburello!
A corrida foi
interrompida enquanto o Professor Watkins e a equipe médica retiraram Senna do
carro destruído da Williams e o helicóptero o levou para o hospital em
Bologna. As horas seguintes foram de agonia, o ambiente estava muito frio e
silencioso, todo mundo estava cabisbaixo, fazendo o seu trabalho para se
preparar para o reinício (da corrida), mas na verdade o que todos queriam era
sair o mais rápido possível de Imola.
Eu só me lembro que nunca
antes na minha vida havia lutado tanto com a minha própria mente para evitar
quaisquer pensamentos mórbidos e tentar me concentrar na corrida. Às vezes
pensava o pior, mas dois minutos depois confiava em Ayrton, que sempre saia de
situações difíceis, talvez com alguns ossos quebrados, mas nada sério.
A atmosfera
piorou no final da corrida. Ninguém estava interessado em resultados, os boatos
continuavam pairando, mas eu tampei meus ouvidos, não queria ouvir nada e segui
com a minha rotina após a corrida. Às 18:40 foi declarado a morte de Ayrton e
Keke Rosberg veio e me deu a má notícia.
O mundo do
automobilismo tinha acabado de perder seu maior ícone, sentiríamos a sua falta
ao longo de décadas, não só aqueles que o viram correr, mas por todos os que
ouviram falar dele. Todos nós que tivemos a sorte de trabalhar com ele e a
honra de estar na sua lista de amigos sentiremos sua falta ainda mais. No dia
seguinte, o mundo inteiro se deu conta da magnitude da perda, não havia nenhum
jornal do mundo que não tivesse a trágica notícia na primeira página.
Ayrton Senna
morreu como viveu: na frente, como um líder, no limite em sua profissão
escolhida. Levou a Fórmula Um a um novo nível e todos aqueles que permanecem no
esporte seguem seus passos. Não só foi o melhor piloto de corridas, um verdadeiro
poeta na arte, mas também um grande personagem: herdamos seu exemplo e um mundo
de memórias.
Falei com os pais de
Ayrton, Neyde e Milton, poucos dias antes do funeral em São Paulo, e me
ofereceram para ficar em sua casa se decidisse ir. Eu tinha a minha passagem de
avião, mas de última hora senti que eu não poderia viver o mesmo processo de
luto novamente, desta vez com sua família e amigos e todo o país que acabara de
perder seu mais amado cidadão. Eu fiquei em casa e fui calmamente para uma
igreja próxima, enquanto o funeral estava ocorrendo no Brasil, para pensar nele
e dedicar-lhe minhas orações. Gerhard Berger me disse que foi um dia muito
emotivo, tão digno e bem organizado até parecia que o próprio Ayrton tinha
preparado (Betise Assumpção, fiel amiga e assessora de imprensa foi quem
organizou todo o cerimonial, que segundo em suas entrevistas ela fizera de acordo com
o que sabia que o patrão gostaria).
Na última
corrida do ano, em Adelaide, onde Michael Schumacher e Damon Hill colidiram e o
campeonato foi para Michael, ele teve a generosidade de dedicar a "amigos
ausentes". A equipe Benetton organizou uma festa de comemoração no bar,
que foi justamente no final do circuito de rua em Adelaide e convidaram todas
as equipes. Ron Dennis não estava muito feliz que o campeonato havia sido
definido a favor de Michael, mas ainda sentia que tinha que fazer outra
tentativa para tentar convencê-lo a mudar para a McLaren. Então, ele me disse
para encontrar algum espaço no bar e de alguma forma lá para tirar Michael. Não
foi uma tarefa fácil em um bar público, mas consegui encontrar um lugar, levar
Michael lá e dar o sinal verde para Ron. Enquanto outras pessoas o viram entrar
na sala e tiraram suas próprias conclusões, fiquei do lado de fora vigiando
para que ninguém interrompesse a reunião improvisada.
Quando Ron saiu
disse: "Talvez seja tarde demais, mas só o tempo dirá, mesmo assim foi um
encontro positivo, obrigado." Duas semanas depois, na Inglaterra,
confirmou que havia sido tarde, mas Michael tinha muito dinheiro no bolso, e
Benetton tinha muito menos dinheiro para desenvolver seu carro em 1995! Talvez
essa breve reunião em Adelaide foi algo pelo qual o representante de Michael,
Willi Weber, deviam estar gratos. Definitivamente reacendeu o rancor entre Ron
e Flavio Briatore, chefe da Benetton, mas não parecia muito aborrecida a equipe
Benetton, já que conquistou o campeonato em 1995, também com Michael.
A outra grande
tragédia que se seguiu a enorme perda de Ayrton Senna foi que milhões de fãs ao
redor do mundo iam perder uma das maiores rivalidades potenciais entre Senna e
Schumacher. Michael era nove anos mais novo do que Ayrton e estava melhorando
corrida a corrida. Já tiveram suas divergências, a mais notável foi a que
descrevi durante o Grande Prêmio da França em 1992, em uma seção (de testes)
privada em julho do mesmo ano, e em Hockenheim, quando Ayrton acusou Michael de
o ter fechado. Ele correu para a garagem da Benetton com a verdadeira intenção
de bater em Michael, mas Ian Dyer, nosso chefe de mecânica, o 'dissuadiu'.
O sinal de uma
verdadeira batalha de tirar faíscas entre eles era mais do que anunciado, mas o
verdadeiro problema de Schumacher era sua falta de imagem pública, ou seja,
havia muito pouco sobre ele que o fizera interessante o suficiente. Além disso,
Senna teve um superávit de carisma, já era uma lenda e, por último mas não
menos importante, também uma lenda romântica, por todo o misticismo em torno
dele. Talvez muita gente não gostava de sua falta de misericórdia, mas amava o
seu calor Latino, a inteligência filosófica, atrativo físico e magnetismo.
Sempre que ele entrava em uma sala ou circuito parecia ter uma aura que lhe dava
uma presença eletrizante. Schumacher nunca poderia competir com Senna fora das
pistas.
Senna foi o piloto mais querido e estava acima da F1
No entanto, eles
eram muito parecidos em muitas coisas dentro do carro: ambos tinham o mesmo
instinto assassino e a capacidade de dar 100 por cento em todas as voltas ao
longo de um Grande Prêmio, um talento que só pode ser encontrado entre os
melhores. Ambos também eram capazes de espremer até a última gota de suas
respectivas equipes através da devoção, respeito e confiança, criando um
ambiente de trabalho que deu a ambos a oportunidade de desempenhar o mais alto
nível. Ambos compartilhavam a mesma capacidade de ser o mais rápido na primeira
rodada; poderiam manter a concentração ao volante enquanto discutia táticas e
pit stops no rádio; ambos eram mestres na chuva, mas penso que talvez Senna
aproveitava mais essa vantagem. Eu também acredito que a determinação e vontade
de vencer de Senna era maior, mas Michael é o piloto de Fórmula Um melhor
condicionado fisicamente de todos os tempos e, como Ayrton, nunca pensava duas
vezes antes de bater no seu adversário, quando fosse necessário.
Jô tem crédito e parece bem sincero quanto as semelhanças entre Michael e Senna, mas da forma que ele disse acabou igualando muito os dois. Senna foi o mais habilidoso em matéria de ultrapassagens em toda a história, o melhor em poles com equipamento desfavorável, além de proteção de espaço e concentração implacável em momentos críticos! Senna vence até mesmo, em situaçoes extremas!
ResponderExcluirConcordo com vc...se Senna estivesse vivo quem seria Schumacher?
ResponderExcluir*Isso mesmo ! Na verdade , com toda a certeza, SENNA QUE SERIA O HEPTA (7x) OU MAIS CAMPEÃO DE F1.
ResponderExcluirSenna foi o melhor no seco,molhado e na pole em 10 anos 65 pole position,o Schumacher p chegar a esse número precisou de 15 anos...5 a mais...p ver que até nesse quesito SENNA foi melhor...sem falar no Show no Japão 88 e em Mônaco 84 onde foi roubado!!
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