Adriane e Ayrton
Adriane Galisteu revelou em
seu livro "Caminho das Borboletas" que tinha um ótimo relacionamento com a sogra dona Neyde, mãe de
Ayrton Senna, o que foi confirmado na biografia de
Ayrton "The Life of Senna". O biografo de Ayrton Senna, Tom Rubython,
relata no livro que Neyde era a única da família Senna que gostava de Adriane, para ela
o que mais importava era ver o filho feliz. Vamos ao trecho do livro:
Ayrton Senna arrumou uma pequena mala
para as três noites que ele ia passar em um hotel em San Pietro,
perto de Bolonha, ao mesmo tempo competir no Grande Prêmio de San
Marino. Não houve jantares formais ou compromissos naquele fim de semana,
por isso a necessidade de roupas eram mínimas. Com tudo pronto, ele comentou a
Juraci que a vida não poderia ficar melhor do que era naquela manhã ensolarada
no Algarve. Mas ele sempre dizia que para as pessoas ao seu redor, lembrando-os
todos, e não menos a si mesmo, a sorte que todos deviam estar partilhando com
ele que a Formula Um lhe dera.
Mas havia uma pequena irritação na sua vida naquela manhã gloriosa. Seu irmão, Leonardo, estava hospedado até domingo e estaria vindo com ele para Imola. Leonardo estava em uma missão de sua família para tentar convencê-lo a desistir de Adriane. Por vários tipos de razões a família, com exceção de sua mãe Neyde, que amava o que ele amava, detestava Adriane. Eles consideravam-na como pouco melhor do que uma camponesa, e não bom o suficiente para seu filho, o herói do Brasil. A verdade é que era da conta deles, que Senna amava a menina e, provavelmente, pedir-lhe para casar com ele quando este verão terminasse.
Mas havia uma pequena irritação na sua vida naquela manhã gloriosa. Seu irmão, Leonardo, estava hospedado até domingo e estaria vindo com ele para Imola. Leonardo estava em uma missão de sua família para tentar convencê-lo a desistir de Adriane. Por vários tipos de razões a família, com exceção de sua mãe Neyde, que amava o que ele amava, detestava Adriane. Eles consideravam-na como pouco melhor do que uma camponesa, e não bom o suficiente para seu filho, o herói do Brasil. A verdade é que era da conta deles, que Senna amava a menina e, provavelmente, pedir-lhe para casar com ele quando este verão terminasse.
Citações de Adriane Galisteu sobre dona Neyde em seu livro "Caminho das Borboletas":
TRADADA COMO UMA FILHA
Angra passou a ser minha casa - nossa casa. Compartilhei com ele vários lares. Moramos juntos no apartamento da Rua Paraguai, em São Paulo. Dividimos, certas noites, quarto e cama na casa dos pais dele, no Pacaembu, onde a Zaza (apelido da mãe do Ayrton) me acolhia como uma filha e dava colo a muitas das minhas ingênuas confidências de menina de 20 anos.
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Para nós, o que Angra era no
Brasil, o Algarve era na Europa. Há dois anos e meio Ayrton fazia daquele
cantinho ensolarado do sul de Portugal o seu mix de refúgio e escritório ao
longo de toda a temporada européia - que, com uma ou outra alteração de
calendário, coincidia com o período mais agradável de final de primavera, verão
e comecinho de outono. De mais a mais, as férias escolares brasileiras, em
julho, sempre davam chance para que a família, ou parte dela, se achegasse -
como aconteceu em 1993. Pude curtir meus primeiros momentos de verdadeira intimidade
com a Zaza, mãe dele - a quem eu ainda tratava pelo cerimonioso "dona Neide".
Intimidade é isso: café da manhã juntas, preparar na cozinha uma comidinha
especial para o filho, sair às compras com ela e a Juraci, a caseira. Viver
essas coisas banais do cotidiano.
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Descemos. Esperava por mim um
Uno Mille Electronic zero, prata, igualzinho ao que eu queria comprar. Com um
buquê de rosas no capô e o detalhe da chapa: DRI 7770. Só faltava laçarote e
papel celofane.
- Isso é um presente de
agosto.
- Mas por que agosto? -
estranhei. - Não é Dia dos Namorados, não é nada...
- Por isso mesmo: não tem
data nenhuma. É um presente de agosto.
Enchi o Béco de beijos.
Fiquei sem palavras. Entrei como louca no carro e corri para mostrar a minha
mãe. Liguei também para a mãe dele:
- Ganhei um carro novinho.
- Ele me contou - disse a
Zaza. - Vem cá que eu quero dar uma volta.
Zaza, Bia, a sobrinha mais
velha, e eu, lá fomos nós - depois, jantamos todos no apartamento do Pacaembu.
Nosso convívio na Europa me dava a idéia de fazer parte da família. A Bia -
Bix, eu a chamava - era como uma irmã mais novinha. Passamos aquele fim de
semana na fazenda de Tatuí e, na volta, acompanhei a Zaza ao shopping. Éramos
confidentes de copa e cozinha, do tipo de ficar conversando enquanto se fazem
as unhas. Tanto que, depois de levar o Béco ao aeroporto, no Mercedes dele,
naquela noite de terça-feira, 24 de agosto, para Frankfurt e, de lá, para o GP
da Bélgica, fiz o que achei mais natural: Eu fui dormir na casa dos pais
dele, na cama dele.
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Meu Natal, portanto, seria
com ele. Zaza, pessoalmente, reiterou o convite. Quatro ou cinco dias antes, toda
a família se deslocaria para a fazenda de Tatuí, e a festa teria o duplo
sentido de celebrar a ceia com filhos, sobrinhos, genros, noras e de inaugurar
o casarão novo, todo restaurado.
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A DESPEDIDA
O pai se retirou (do funeral de Ayrton), mas
Zaza estava firme, beijei-a e ouvi dela: "Quero muito falar com
você". Respondi: "Eu também". Mas não imaginei que no dia
seguinte ela já batesse à minha porta. Depois, achei que nunca mais nos
veríamos. Estava enganada.
Quando olhei pela última vez
para a cova do Béco, eu lhe disse em silêncio:
- Eu o amo, mas você me
deixou, você me faz falta. Daqui para a frente, minha vida será um tormento.
No dia em que tomei coragem,
enfim, de ir a nossa casa, na Rua Paraguai, para retirar as minhas coisas de
lá, reencontrei a Zaza. Na fazenda do Braga, em Campinas, recebi o apoio
de muitos amigos, uma longa e afetuosa visita da Betise, a Birgit, muitas amigas
inesperadas e minha mãe, mas eu estava tão sem eixo, sem rumo, havia perdido
tão completamente o fio da meada que me abaixei no carro quando fui a São Paulo
pela primeira vez, com o motorista do Braga, depois do enterro. Só ver a cidade
já me apavorava.
Fui direto ao apartamento,
sem buscar minha mãe, como eu tinha prometido. Dona Neide me esperava. Dez dias
depois de toda aquela tragédia. Respirei fundo para enfrentar os fantasmas da
memória. Subi de elevador. A porta, entreaberta. Tudo igual - e ao mesmo tempo
tudo tão diferente! Não havia nem sinal daquela baguncinha que nós dois
produzíamos ali. Tudo no lugar. Não havia mais vida ali. Sentamos, a mãe do
Béco e eu, no sofá e conversamos uns quarenta minutos. Ela me falou da Bíblia
e, por coincidência, do salmo 81 - aquele que o Béco lia e relia. Ela não se
conformava. Senti que ia desabar. Tratei de entrar no quarto. Atirava minhas
coisas na mala de qualquer maneira, para poupar sofrimento. Quatro malas
cheias, no final. Entrei no banheiro, estava do mesmo jeitinho: a escova de
dentes dele no mesmo lugar.
Não resisti: pedi a Zaza para
guardá-la. Beijei-a e guardei.
O armário dele, presente que eu tinha dado, a gaveta
com seu pijama predileto, o mais velhinho, tipo bermuda e camiseta de meia
manga, azul-claro. Tinha tudo a ver com a nossa vida. Fiquei com ele
também. Mas o cartão que eu lhe tinha dado de aniversário e que ele pregou na
porta, eu fiz questão de dar a dona Neide:
- É seu, fica com você -
insistiu ela.
- Não, é dele, portanto fica
com a senhora.
Dei as costas a um pedaço
grande do meu mundo - e sabia que essa despedida seria também para sempre. Dona
Neide me levou até a saída do prédio, nós nos abraçamos, eu chorei tanto, ela
chorou tanto, uma no ombro da outra, que os dois porteiros que assistiam à cena
também se emocionaram. Quis desanuviar:
- Se me pegarem na estrada,
vão achar que sou uma sacoleira - disse eu.
Ela ainda falou sério:
- Adriane, obrigada por ter
sido mulher dele e tê-lo deixado feliz. Ele foi muito feliz com você.
- Eu também fui muito feliz
com ele.
- Vou rezar por você, vou
torcer por você, gosto muito de você.
Peguei-lhe pela mão e disse:
- A senhora ainda vai me ver
bem, pode ter certeza disso. De uma forma muito real, sincera, coerente, vou
dar um jeito na minha vida.
Chovia muito, me recordo.
Cada uma de nós entrou no seu carro. Até nunca mais. Uma página estava virada
em minha vida.
Mas, que a Zaza me permita,
eu conhecia seu filho e sabia quando é que ele tinha seus momentos de oração.
Aquela cena que a tevê mostrou, pouco antes do desastre, não foi um deles. Béco
rezava em casa, à noite, longe das pessoas - era dono de uma fé recatada e
íntima, não fazia o estardalhaço de um militante de púlpito.
Para mim, naquela hora de
rosto tenso e mãos cravadas no carro, ele apenas pensava. Pela primeira vez na
sua carreira de piloto vitorioso, para quem o triunfo vinha primeiro que tudo,
sentiu a fragilidade da máquina e a fragilidade do ser humano. Um homem tinha
morrido à sua frente. Um amigo se estourara contra um muro. Até então, o piloto
Ayrton Senna sentava no carro e andava no limite.
De repente, outros
sentimentos tinham se intrometido na sua vida: susto, surpresa, medo. Medo -
que palavra cruelmente realista! Em tantos meses de conhecimento íntimo e
profundo, nunca o vi demonstrar qualquer coisa parecida. Ele passou por
situações incríveis, bem diante do meu nariz. Nunca se inquietou. Ao contrário,
buscava o perigo. Mas eu falo agora com a sinceridade de quem ouviu,
sentiu, viu - e de quem não tem nenhum compromisso a não ser com aquilo em que
verdadeiramente acredita. Hoje, assisto de camarote aos que tentam dar a suas
próprias mentiras um ar piedoso, quase religioso. Teorias e mais teorias, todas
atribuindo a Ayrton coisas que detestava fazer e negando-lhe aquilo que
mais buscava, ou seja, a liberdade.
Ímola era a prova de fogo
dele. O tudo-ou-nada da temporada 1994. Ele sabia que tinha de ultrapassar
todos os limites, a começar pelos de sua máquina frágil
e difícil de dominar. A minha verdade é a de que se viu, enfim, como uma
criatura de carne e osso. Os super-heróis não têm medo. As pessoas têm. No dia
em que Ayrton Senna pôde experimentar o mais humano dos sentimentos, no dia em
que ele definitivamente se completou como ser, a insanidade dos mercadores do
perigo veio golpeá-lo na cabeça. Meu Béco, amado e inesquecível, pagou com a
vida a escolha de ser aquilo que ele era.
FONTE PESQUISADA
GALISTEU, Adriane. Caminho das
Borboletas. Edição 1. São Paulo: Editora Caras S.A., novembro de 1994.
RUBYTHON, Tom. The Life of Senna. 1º Edição Sofback. London : BusinessF1 Books, 2006.
JONES, Dylan. The last 96 hours of Ayrton Senna. Disponível em <http://8w.forix.com/senna1994.html>. Acesso em: 30 de novembro 2011.
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