Trecho extraído do livro “Caminho das Borboletas” de Adriane Galisteu
Apesar de odiar usar terno e gravata, esses trajes caiam muito bem em Ayrton
Ayrton Senna em Paris/França, 09 de dezembro de 1993
Foto: Gerard Fouet
Acabei me saindo
razoavelmente com os hashi, naquele restaurante maravilhoso, do próprio hotel,
mas ao ar livre, perfumado pelos aromas de jardim japonês, com acesso entre
pontezinhas charmosas e tortuosos caminhos de pedra. Não tive coragem de
experimentar peixe cru, mas me deliciei com um camarão feito na chapa -
capturado vivo, enorme, ali mesmo num aquário. Eu pensava: "Coitadinhos
dos bichinhos". Mas foi a refeição mais deliciosa de que me lembro em toda
a minha vida - disparada na frente até dos meus maníacos Big Macs, posso
confessar. Nossos quatro anfitriões, todos homens, curvando-se e recurvando-se
em gentilezas, trouxeram de presente uma câmera fotográfica. Estavam todos
muito formais, de terno escuro e gravata. Todos, inclusive o Ayrton. Quando nos
despedimos e subimos para nossa última noite japonesa, a primeira coisa que
Béco fez foi arrancar a gravata, com força:
- Tenho ódio de terno e
gravata - disse.
Não é esse, com certeza, em
meio a um cenário de sutilezas japonesas e lembranças bonitas, o melhor momento
para protestar contra um pequeno detalhe do triste dia do enterro de meu Béco.
Mas vá lá: achei um absurdo, fiquei horrorizada, quando soube que o vestiram
com terno e gravata. Quem sou eu para conhecer - e mesmo para acreditar -
alguns mistérios do universo, mas pensei, com ternura, comigo mesma:
- Se daqui do esquife ele
tiver que se apresentar em algum outro lugar, alguma outra dimensão, outra
esfera, vai ficar furioso em se ver nesses trajes.
Ayrton Senna em Paris/França, 09 de dezembro de 1993
Foto: Reprodução
FONTE PESQUISADA
GALISTEU, Adriane. Caminho das Borboletas. Edição 1. São Paulo: Editora Caras S.A.,
novembro de 1994.
Odiava terno e gravata e enterraram ele de terno e gravata.
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