Colunista e ex-correspondente
que cobriu o circo da Fórmula 1, Celso Itiberê fala com saudade dos tempos de
Emerson, Piquet e Senna, e lamenta o estilo pasteurizado de hoje
POR AYDANO ANDRÉ MOTTA
20/06/2015 6:00 / ATUALIZADO 22/06/2015
13:01
O Globo - oglobo.globo.com
O mito: Celso Itiberê e Ayrton Senna em 1991 - Pedro
Teixeira
Na barafunda cotidiana dos
engarrafamentos cariocas, ninguém vai prestar atenção numa Zafira comum, cinza,
que circula especialmente pelo Leblon. Ao volante vai uma autoridade em
velocidade, não por exagerar no acelerador, mas por conhecer profundamente a
mais importante categoria do automobilismo. Ex-correspondente e colunista de
Fórmula-1 do GLOBO, Celso Itiberê conjuga precisão e paixão numa trajetória que
fez dele uma grife no setor.
Começou faz tempo,
precisamente no dia 5 de setembro de 1971, num grande prêmio em Monza. Como torcedor,
ele assistiu a uma chegada inacreditável, com três carros emparelhados até a
vitória do britânico Peter Gethin, batendo, por décimos de segundo, o sueco
Ronnie Peterson e o francês François Cevert. Antevéspera da era Emerson
Fittipaldi, a Fórmula-1 de pilotos heroicos, de arrojo e acidentes.
Ao chegar no GLOBO, em 1974,
para a editoria Esportes, Itiberê tinha o hábito de viajar para ver corridas e
ajudar o então correspondente, Janos Lengyel (os dois de uma dinastia que teve,
entre outros, Milton Coelho da Graça e Renato Mauricio Prado). Aproximou-se de
outros brasileiros campeões, como Nelson Piquet, de quem ficou amigo e
transformou numa espécie de professor.
— Aprendi os princípios da
Fórmula 1 graças a ele. Passava os dias no boxe com o Nelson, almoçava com ele,
que mostrava os detalhes do carro, itens técnicos — enumera o jornalista. — Era
um piloto que conhecia tremendamente mecânica, sabia acertar carro.
Extremamente inteligente, dava sugestões aos engenheiros. E eu testemunhava
tudo.
Mas foi Ayrton Senna, mito
maior do esporte, o protagonista dos tempos mais incríveis vividos por Itiberê
como correspondente. Após alguns anos indo e voltando para o Brasil na
cobertura do circuito, ele fixou residência em Roma, de onde passou a partir
para acompanhar o circo da velocidade. E o astro da companhia era Senna.
— Somando caráter e força
para competir, ele de uma força impressionante. Pessoa incrível. A Fórmula 1
virou profissional no que diz respeito aos pilotos por causa do Senna. Ele foi
o primeiro a apostar em exercícios físicos, levava absolutamente a sério tudo
que fazia — descreve Itiberê. — Ele teve sempre duas preocupações centrais:
estar o tempo inteiro 100% tecnica, fisica e psicologicamente. E aumentar a
segurança. O que tornar um absurdo ainda maior ele ter morrido por falta de
segurança de um carro.
A melancolia sobre o grande
campeão continua na análise da Fórmula 1 contemporânea, um protetorado de
máquinas e empresas, de pilotos burocráticos e desprovidos de carisma. A
mitologia dos heróis das pistas virou saudade.
— Houve transformação
radical, virou uma coisa pasteurizada. No meu tempo, passava no boxe do Jean
Alesi (piloto francês) para almoçar com ele e a equipe. Depois, passava pelos
outros, assim como todos os jornalistas que cobriam. Aí vieram as proibições e
restrições à circulação de pessoas. Hoje, não há nenhum prazer, entusiasmo. As
equipes têm mais seguranças do que engenheiros e mecânicos — constata ele, aos
75 anos, sobrevivente dos tempos heroicos de reportagens enviadas via telex de
vários pontos do mundo.
FONTE PESQUISADA
MOTTA, Aydano André. O senhor da velocidade.
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/sociedade/o-senhor-da-velocidade-16501715>.
Acesso em: 15 de julho 2015.
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