Por Nello Rangel (psicólogo)
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12 DE JULHO DE 2015 20:16
Pensativo Ayrton Senna põe a
mão no aerofólio do carro Williams FW16, minutos antes de morrer em um acidente
quando pilotava esse mesmo carro. Estaria Senna pensando em desistir da
corrida?
Texto completo aqui
Temos em nossa cultura outro
exemplo de pressa levando à falsa consciência e à decisão equivocada.
Trata-se do autor da frase
abaixo, a nós presenteada por Públio Athayde.
”Tenho medo da morte e da
dor, mas convivo bem com isso. O medo me fascina.” Ayrton Senna
Em trabalho sobre a pressa,
analiso os acontecimentos que culminaram com seu falecimento.
“Senna foi eleito
recentemente o maior piloto de todos os tempos. Apesar de possuir somente 3
títulos mundiais, sendo sobrepujado por Schumacher e Fangio, com 7 e 5 títulos,
respectivamente, sua qualidade técnica ainda é lembrada por todos aqueles que
gostam de corridas de carros.
Sua morte trágica, ocorrida
durante a prova em Imola, em 1994, traz consigo considerações importantes.
Naquele ano muitas mudanças
foram realizadas nos carros da fórmula 1. Os aerofólios estavam mais estreitos
do que no ano anterior, assim como os pneus. O controle de tração, os freios
ABS e a suspensão ativa, recursos tecnológicos que facilitavam a dirigibilidade
dos veículos, também foram proibidos no ano anterior. O objetivo era baratear
os custos das equipes e deixar os carros mais lentos e com mais possibilidades
de ultrapassagens por prova. Mas os carros não ficaram mais lentos. Senna bateu
o recorde de velocidade da pista no fim de semana fatal. Os motores aspirados
usados na época já estavam mais velozes que os motores turbo do passado,
motores esses que haviam sido proibidos justamente por serem velozes demais.
As queixas de que os carros
estavam mais inseguros apesar de continuarem excessivamente velozes eram
constantes. O próprio Senna havia apontado esse problema ao reclamar: “Os
carros estão rápidos demais e difíceis de controlar”.
No primeiro dia de treinos
Senna ficou transtornado após acidente com o piloto Rubens Barrichelo. Este,
motivado pelo primeiro pódio da carreira conseguido na corrida anterior,
exagera um átimo na aceleração de seu carro e decola sobre uma zebra da
pista, bate e salta acima dos pneus de proteção e se arrebenta numa tela
protetora. Quase que milagrosamente sobrevive com poucas lesões.
No dia seguinte Senna
assistiu pelo monitor dos boxes ao acidente que matou o piloto Ratzenberger. Ao
ver as equipes de socorro iniciarem uma massagem cardíaca ainda no asfalto do
circuito Senna se descontrolou, colocou as mãos no rosto e chorou
convulsivamente durante 15 minutos.
Vídeo
Reação de Ayrton Senna Ao Ver a Morte de Roland
Ratzenberger 1994
Após 12 anos sem um acidente
fatal na formula 1 um piloto quase morre e outro falece na pista. E no mesmo
fim de semana Senna também morreria.
A morte de Ratzenberger levou
Senna a liderar um movimento para a suspensão dos treinos ou até mesmo da
corrida. Ao falar ao telefone com a namorada, após ir ao local do acidente
fatal do piloto austríaco, Senna afirmou que não iria mais correr de carro no
dia seguinte. Mais tarde, já à noite, mais calmo, falou para a namorada não se
preocupar. Quando questionado por ela, afinal afirmara que não correria, disse:
“Não se esqueça de uma coisa, eu sou forte, muito forte”.
Pouco antes da corrida, na
hora da concentração, ficou 5 minutos parado olhando o carro. Seu comportamento
incomum chamou a atenção de jornalistas já acostumados com sua rotina.
Por que Senna mudou de
opinião e decidiu correr? [Nota autor do blog: segundo um jornalista que estava no local do acidente, Senna foi pressionado a correr pela equipe e por toda a cúpula da Fórmula 1] Se havia um piloto que reunisse em si todas as
qualidades técnicas para julgar os absurdos que estavam ocorrendo, este piloto
era ele. Ele chegou a comunicar que não correria ao seu chefe, Frank Willians,
que autorizou o que ele decidisse. Mas parece que de alguma forma Senna foi se
acalmando e à noite já tinha mudado de opinião e decidido correr.
Decisão diferente tomou
Emerson Fittipaldi, em 1975, no GP da Espanha. Ao se prepararem para iniciar os
treinos para a prova os pilotos perceberam que as condições de segurança da
pista eram sofríveis, particularmente no que dizia respeito aos guard-rails,
precariamente instalados. Emerson liderou um movimento pela não realização da
prova. As pressões e ameaças dos organizadores, dirigentes e patrocinadores
foram imensas, algumas providências paliativas foram tomadas e a maioria dos
pilotos concordou em correr.
Emerson, ameaçado até de
exclusão definitiva da Fórmula 1, simulou problemas mecânicos para não se
classificar e não correu. Durante a prova grave acidente matou 5 pessoas,
quatro delas instantaneamente, e deixou muitos feridos.
Neste caso os fatos
posteriores deram razão a Fittipaldi. Mas quando ele decidiu não participar ele
correu o risco de que a prova transcorresse sem incidentes. E aí ele seria
criticado, chamado de piloto covarde, desprovido da coragem necessária à profissão.
Talvez pelo fato de ser jovem, recém tornado campeão mundial, Emerson não se
abalou e manteve sua decisão.
Ayrton Senna já não era tão
moço, tinha então 34 anos e o campeonato de 1994 estava sendo o pior de sua
vida. Foi a primeira vez que ele não marcou nenhum ponto nas duas primeiras
corridas. Rodou na primeira prova e foi tirado da pista na primeira curva da
prova seguinte. Schumacher, jovem revelação, estava 20 pontos à sua frente.
Como poderia deixar de correr? Os outros diriam que ele já estava ficando
velho, que perdera o arrojo, que já não tinha a coragem que teve em algum
momento de sua vida, que devia agora dar espaço para a nova geração de pilotos
que surgia.
Alguns desses pensamentos
devem ter passado pela cabeça de Senna durante a tarde da véspera da prova. De
alguma forma ele anestesiou sua compreensão inicial, de que não deveria correr
no dia seguinte. E a noite comunicou a namorada que participaria da prova.
A namorada de Ayrton, Adriane
Galisteu, pediu para ele não correr
Vídeo
Galisteu revela choro de Senna e diz que pediu para
ele não correr
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Sabemos hoje que o principal
elemento causador do seu acidente foi o rompimento da barra de direção de seu
Willians. Ele inclusive já havia se queixado que o carro trepidava, o que
talvez pudesse ser causado pela fadiga do material. Mas este fato não invalida
o quadro de risco muito aumentado de todos os automóveis participantes, risco
esse causado primordialmente pelas mudanças realizadas nos veículos neste ano.
Pois cabe lembrar neste GP, o primeiro de alta velocidade do ano, Barrichello
se acidentou muito gravemente e Ratzenberger e Senna morreram. Além disso, na
corrida seguinte, já em um circuito de baixa velocidade, mais um piloto se
acidentaria com gravidade, ficando muitos dias em coma.
E Senna percebeu os absurdos,
tomou a decisão adequada, mas foi lentamente se anestesiando e tragicamente
mudou de opinião.
Conan Doyle, através de seu
famoso personagem Sherlock Holmes, no romance “A cidade do medo”, diz de “Um
homem que não pode falhar: uma pessoa cuja posição depende do fato que tudo que
faz deve dar certo”. Esse homem parece-se com Ayrton Senna. Um homem que não
pode falhar está condenado à pressa e ao medo. O medo de falhar o leva à
impulsividade e ao medo de parar e perceber-se falho ou errôneo.
Vídeo
Ayrton Senna Últimos Momentos
Vídeo
Ayrton Senna Antes da Corrida Fatal
FONTE PESQUISADA
Grande Sertão: E Riobaldo fala sobre a
pressa. Disponível em: <http://blog.opovo.com.br/psicologiadocotidiano/grande-sertao-e-riobaldo-fala-sobre-a-pressa/>.
Acesso em: 13 de julho 2015.
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